A transformação digital está presente em todos os setores da economia, e seu impacto é inegável, especialmente na indústria. Em Manaus, capital do Amazonas e sede do Polo Industrial de Manaus (PIM), o debate se torna ainda mais relevante. O PIM, um dos maiores complexos industriais da América Latina, é responsável por boa parte do desenvolvimento socioeconômico da Amazônia Ocidental, onde a indústria local vive um processo intenso de reconhecer a importância de alcançar altos níveis de automação e de maturidade dentro da Indústria 4.0.
Como salientou Nelson Gouveia, gerente da LG Electronics, em sua participação na Trilha de Conhecimento promovida pela FPFtech e pela WIT Incubadora durante a Expo Amazônia BIO&TIC 2024, “a transformação digital não é apenas sobre a tecnologia, mas sobre a cultura que se cria dentro das organizações”. Essa visão reforça a premissa de que a inovação tecnológica deve ser acompanhada por uma mudança na mentalidade das pessoas, que são os verdadeiros motores dessa transformação.
Tatiana Escovedo, gerente geral de Transformação Digital da Petrobras, sublinha que “sem o engajamento das pessoas, não há transformação”. Para ela, a tecnologia pode ser poderosa, mas é a consciência e o engajamento das pessoas que determinam o sucesso do processo. Na sua visão, a ciência de dados, por exemplo, só é eficaz quando as informações são organizadas corretamente, e esse processo começa nas camadas mais operacionais, longe das decisões estratégicas da alta direção.
“A ciência de dados ajuda no sentido de trazer à luz os números, os dados, os resultados para a gente tomar a melhor decisão. Só que se você não investir lá na base, nas pessoas, não adianta. Então, o problema não é tecnológico. E as pessoas precisam estar conscientes de que cada pedacinho daquela grande cadeia serve para alguma coisa lá no final, usando as técnicas para tomar a melhor decisão com base naqueles dados assumidos, que eles foram minimamente organizados”, afirma Escovedo.
Esse ponto é ainda mais relevante no contexto do Polo Industrial de Manaus, onde as empresas enfrentam o desafio de equilibrar inovação com a formação de uma força de trabalho qualificada e engajada. Nisso, os especialistas reunidos pela FPFtech que são referência no tema concordam que a transformação digital não é um fim em si mesma, mas que ela deve ser uma ferramenta para melhorar a qualidade de vida das pessoas que dela dependem, seja em termos de capacitação profissional, seja de aumento da competitividade das empresas.
O conhecimento como motor da competitividade global
Para Manuel Cardoso, professor da Universidade Federal do Amazonas e referência na área de inovação e produtividade, a verdadeira transformação acontece quando as empresas conseguem preservar o conhecimento acumulado ao longo do tempo, “não das máquinas, mas do conhecimento humano, que será potencializado para superar nossas limitações naturais”. Cardoso lembra que a indústria brasileira sempre teve um problema estrutural relacionado à perda de conhecimento, um obstáculo histórico que impactava diretamente na competitividade. A transformação digital, portanto, é vista como uma oportunidade de reter esse conhecimento, melhorando processos e criando bases sólidas para inovações futuras.
É essa visão que levou uma das parcerias entre a Fundação Paulo Feitoza (FPFtech) e o CITS a alcançar um feito histórico: certificar a primeira empresa nas Américas com o selo de maturidade da ACATECH, uma chancela alemã reconhecida mundialmente. “Foi a primeira planta no Brasil e na América Latina a atingir esse nível de excelência”, comemora Cardoso. Esse é o tipo de avanço que só é possível quando há uma integração entre tecnologia e pessoas, onde o foco está em como as inovações podem ser aplicadas para gerar benefícios concretos para os trabalhadores e para a sociedade.
O avanço também escancara que a competição não é mais local ou regional, mas global. Nesse cenário, as empresas precisam ser mais ágeis, eficientes e inovadoras. Sandro Breval, doutor em Engenharia de Produção e professor da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), destaca que a transformação digital envolve uma adaptação sociotécnica, onde a tecnologia e as pessoas devem estar alinhadas para que o processo seja eficaz. Ele explica que existem diferentes níveis de autonomia e automação que as empresas podem atingir, e cada um deles exige uma adaptação tanto no uso da tecnologia quanto na capacitação dos colaboradores. “Quando você foca nesses níveis, os resultados se tornam mais efetivos”, afirma Breval.
Em tempos de discussões de revisão da jornada de trabalho, Nelson Gouveia da LG também acredita que essas iniciativas podem trazer qualidade de vida para o colaborador. “Na LG, a gente vê muitas iniciativas voltadas para melhorar a eficiência da organização com processos de automação, automatizando o processo o tempo inteiro, mas não com o viés de reduzir o capital humano no negócio, mas sim de deixar ele mais livre. A gente quer aumentar o tempo livre das pessoas, porque se a gente diminui essa carga de trabalho, esse ciclo repetitivo, as pessoas vão criar um elo com o core criativo, que é o que exige o mercado hoje”, complementa Gouveia.
Isso é especialmente importante para o Polo Industrial de Manaus, onde a implementação de tecnologias como a Internet das Coisas (IoT), inteligência artificial e automação são cada vez mais frequentes. Mas, conforme corrobora Ricardo Moura, gerente de projetos da FPFtech, é necessário que as empresas saibam como integrar essas tecnologias de forma que elas não apenas melhorem a produtividade, mas também façam com que os colaboradores possam tomar decisões mais estratégicas, sem ficarem sobrecarregados com tarefas repetitivas. “Com a inteligência artificial, você consegue subir a camada de tomada de decisão, permitindo que as empresas respondam mais rapidamente às mudanças do mercado”, diz Moura.
A participação da FPFtech na Expo Amazônia BIO&TIC com a sua Trilha de Conhecimento resumiu a preocupação com o futuro das gerações amazônicas e como a transformação digital no PIM não deve ser vista como um processo isolado e sim como um movimento que envolve as pessoas em todos os níveis organizacionais. Os especialistas trouxeram reflexões sobre como a adoção de novas tecnologias precisa ser acompanhada de perto por uma mudança cultural, onde a inovação seja entendida como uma ferramenta para melhorar as condições de vida dos trabalhadores e promover o desenvolvimento socioeconômico da região.
Como afirmou Manuel Cardoso, “o conhecimento é um recurso, não uma riqueza. Ele só gera riqueza quando é aplicado de forma a trazer uma solução ou melhoria para o contexto”. Portanto, é essencial que a tecnologia, quando aliada ao conhecimento humano e à participação ativa das pessoas, seja capaz de criar soluções para um futuro mais justo e sustentável para todos. A verdadeira transformação digital, especialmente na Amazônia e no Polo Industrial de Manaus, depende desse equilíbrio entre o meio e o fim. Entre a inovação e o ser humano.
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