Fofinho, abraçador e em risco de extinção. Essas são algumas das características do muriqui-do norte, considerado o maior primata brasileiro e das Américas. Há quem nunca tenha ouvido falar desse macaquinho, que pode chegar a pesar 15 quilos, mas é fato que ele tem uma enorme importância para a manutenção da Mata Atlântica.
Ele faz tudo! O muriqui-do-norte é jardineiro e um grande mantenedor das regiões onde habita, ou seja, acabar com ele é também prejudicar nossa fauna e flora. Ao Terra, a bióloga e diretora do Muriqui Instituto de Biodiversidade (MIB) Fernanda Pedreira Tabacow destacou as características desse animal, que é endêmico do Brasil e só existe aqui.
Maior primata das Américas e exclusivamente brasileiro
O muriqui-do-norte é o maior de todos – em tamanho e não em população – nas Américas, e também dos primatas brasileiros. Da altura da cabeça até a ponta da cauda, ele pode chegar a um metro e meio.
“Quando ele fica em ‘pezinho’, ele tem um tamanho de uma criança de seis/sete anos. Os indivíduos que a gente trabalha têm média de dez a doze quilos, mas tem literatura mostrando que o muriqui já tem até quinze quilos, um macho adulto”, explica a bióloga.
Ah! A gente só encontra os muriquis-do-norte aqui no Brasil. Eles vivem em 12 localidades da Mata Atlântica, entre Minas Gerais e Espírito Santo, majoritariamente no estado mineiro.
Espécie Guarda-Chuva e jardineiros
Isso quer dizer que ele ajuda a proteger a fauna local, diferentemente de muitos seres humanos por aí, não é? Por esse motivo, é extremamente necessário para a conservação do ecossistema, já que cuidar da espécie é cuidar também da mata.
Segundo Fernanda, funciona assim: ele ajuda na manutenção das florestas, porque, por serem também de grande porte, conseguem se alimentar de árvores e grandes frutos. Com isso, auxiliam na disseminação desses frutos, já que esses animais se deslocam muito.
“Eles têm um poder, uma habilidade de locomoção, podem se deslocar até um quilômetro por dia dentro de uma floresta. Acabam engolindo essas sementes e aí eles vão plantar essa semente quilômetros depois, quando ela sai pelas fezes. A gente até chama os muriquis de jardineiros da floresta, porque saem plantando árvores de grande porte, que às vezes outras espécies não conseguem fazer essa disseminação”, aponta.
Ajudam na conservação de água potável
Talvez você não tenha feito essa associação, mas para ter água potável e proteger as nascentes, é necessário que as florestas estejam preservadas. Com todo esse trabalho de “jardinagem” e conservação, o muriqui-do-norte também contribui para esse bem tão essencial para nossas vidas.
“Onde a gente desmata, vai perdendo as nascentes. Pode ver que a gente está com problema de secura também, com essas alterações climáticas. Então, novamente, quando você protege o muriqui, por ele ser o mantenedor das florestas, e também ter um apelo legal para você proteger uma área toda para a conservação, a gente acaba protegendo a nossa água também”, frisa.
Engenheiro da floresta
Por ser mais pesado que outros animais encontrados na Mata Atlântica, por vezes, ele faz a renovação na região. Um exemplo disso é que ele vive andando em árvores, e pode derrubar algum galho que já estava apodrecendo. Com isso, vai alimentando outras espécies que tem ali.
Fofinhos demais e parecidos com a gente
Os muriquis-do-norte são muito fofinhos, apesar de serem grandes. Carinhosos e muito amistosos, eles têm o comportamento muito parecido com o nosso, e até a gestação se assemelha. As fêmeas gestam por sete meses e meio.
“A mãe tem um cuidado parental, fica muito tempo com o filhote, cuidando dele. Até ele crescer, eles brincam muito. É um macaco que se destaca pelas brincadeiras e abraços. É uma sociedade pacífica a que eles vivem, sem muita agressividade”, explica Fernanda.
Ameaçados de extinção
Há duas espécies de miriquis, uma do sul e a do norte. Em específico, essa segunda, está ameaçada de extinção: estima-se que haja menos de mil indivíduos na natureza. Fernanda aponta que a estimativa anterior, de 1971, era de 400 mil.
“Então, antes da colonização, da exploração aqui da Mata Atlântica e tudo, a estimativa era de 400 mil muriquis”, explica a bióloga.
Para contribuir com essa população e evitar que seja extinta, são realizados trabalhos de acompanhamento desses animais, tanto de monitoramento em vida livre, quanto de intervenção, para ajudá-los a se recuperarem e formarem novos grupos.