A China lançou a primeira missão de retorno de amostras do lado afastado da Lua. Os cientistas esperam que a recuperação de cerca de dois quilos de material lunar a ser feita pela missão Chang’e 6 ajude a investigar diversos mistérios relacionados ao satélite natural.
O projeto também é mais uma demonstração da proficiência chinesa em alunissagens, em preparação para o envio de astronautas à Lua até o final da década. “A Chang’e 6 espera superar barreiras no desenho e controle de tecnologias para uma órbita retrógrada lunar [no sentido contrário à rotação do satélite], amostragem inteligente, tecnologias de decolagem e ascensão e retorno automático de amostras no lado afastado da Lua”, disse Ge Ping, vice-diretor do Centro de Exploração Lunar e Engenharia Espacial da CNSA (agência espacial chinesa), em entrevista à rede estatal CCTV no último dia 27.
A decolagem do foguete Longa Marcha 5 a impulsionar a espaçonave aconteceu às 6h27 desta (pelo horário de Brasília), a partir do centro de lançamento de Wechang, na ilha de Hainan.
Composta de quatro componentes (um orbitador, um pousador, um módulo de ascensão e uma cápsula de reentrada) com massa total de 8,2 toneladas, a missão combina a herança de duas empreitadas anteriores: a Chang’e 4, que em 2019 se tornou a primeira espaçonave da história a pousar no hemisfério oculto lunar (face que nunca é vista a partir da Terra), e a Chang’e 5, que em 2020 se tornou a primeira missão de retorno de amostras lunares chinesa, com duração total de 23 dias. A Chang’e 6 pretende fazer mais e melhor, com uma duração total de cerca de 53 dias.
Em contraste com as missões robóticas de retorno de amostras conduzidas pela antiga União Soviética, todas as chinesas usam arquitetura mais complexa. Em vez de uma decolagem da cápsula da Lua direto para um retorno à Terra, o módulo de ascensão se encontra com uma nave-mãe em órbita lunar, e uma transferência automatizada das amostras é feita para a cápsula de retorno, antes da partida de volta para a Terra.
Com isso, o passo a passo lembra mais as missões tripuladas Apollo, que também envolviam esse reencontro em órbita lunar antes da volta à Terra. Há anos os observadores do programa chinês consideram a iniciativa excessivamente complexa como uma precursora de futuros voos tripulados.
Comunicação e ciência
Um dos desafios para a realização de uma missão ao lado afastado da Lua é o fato de que não se pode fazer comunicação direta entre a sonda e o controle da missão em Terra. A solução é o lançamento prévio de um satélite retransmissor, que tenha simultaneamente visão da Terra e do hemisfério oculto lunar.
Para a Chang’e 4, os chineses lançaram o satélite Queqiao, em 2018; agora, para o suporte à Chang’e 6, o Quequiao 2 foi colocado em uma órbita lunar. Mais sofisticado que seu predecessor, ele tem vida útil de pelo menos oito anos e deve também dar suporte às missões Chang’e 7 e 8, que vão mirar o polo sul lunar.
Já Chang’e 6 pretende descer na grande cratera Apollo, parte da bacia Polo Sul-Aitken, no lado oculto, latitude de 45 graus Sul. Descendo numa região que tem composição de solo variada, a missão espera colher amostras que ajudem a explicar o porquê de tantas diferenças entre o lado próximo (com geologia mais recente e grandes regiões mais escuras conhecidas como “mares”) e o afastado (quase desprovido dos tais mares, mais antigo e rico em crateras).
Os resultados também devem fornecer novos lampejos sobre o histórico de impactos contra os planetas rochosos no passado do Sistema Solar (a Lua, geologicamente inativa, serve como registro fóssil dessas ocorrências) e a compreensão da própria evolução do satélite natural da Terra.
Colaboração internacional
Em outro aspecto importante do programa espacial chinês, a Chang’e 6 trará uma boa dose de cooperação internacional. Quatro cargas úteis não chinesas voarão com ela: o Dorn, um instrumento para detectar emissão de radônio da crosta lunar fornecido pela França; um medidor de íons negativos na superfície lunar, desenvolvido pela Suécia com apoio da ESA (Agência Espacial Europeia); um retrorrefletor de laser para medição de distâncias da superfície da Lua fornecido pela Itália; e um pequeno satélite (cubesat) que é fruto de uma parceria entre a agência espacial do Paquistão e a Universidade Jiao Tong de Xangai, na China.
Faz parte da estratégia para arregimentar mais parceiros para empreitadas no espaço, em forte rivalização com os Estados Unidos (que são, por lei aprovada pelo Congresso americano, proibidos de cooperar com a China na área espacial).
A Chang’e 6 é a última missão robótica lunar chinesa antes que o país comece a desenvolver sua estação lunar. Conhecida pela sigla ILRS (Estação de Pesquisa Lunar Chinesa), ela será construída no polo sul e as primeiras missões em conexão direta com ela serão as Chang’e 7 e 8, programadas para 2026 e 2028.
A ILRS no momento conta com a adesão de outros 12 países: Rússia, Azerbaijão, Belarus, Egito, Etiópia, Quênia, Nicarágua, Paquistão, África do Sul, Tailândia, Turquia e Venezuela. Dessas todas, a única que já se firmou como potência espacial é a Rússia. As demais estão pegando carona nesta que promete ser uma das grandes corridas tecnológicas do século 21.
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