A jovem indígena da etnia kambeba Suziane Gomes, de 19 anos, que mora na aldeia Três Unidos, que fica em uma área remota de Manaus, foi acometida, em 2019, por uma grave depressão. Com a chegada da pandemia, em 2020, a doença evoluiu, mas, graças ao projeto Telessaúde, ela recebeu atendimento psicológico online sem precisar sair da floresta e recuperou a saúde mental.
O Telessaúde é uma iniciativa da Fundação Amazônia Sustentável, uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos que atua pelo desenvolvimento sustentável da Amazônia.
Em 2023, a ação levou atendimento remoto em saúde para comunidades indígenas e ribeirinhas da região amazônica, realizando 629 teleconsultas nas especialidades médica, psicológica e de enfermagem, atendendo pessoas de 30 comunidades em 18 municípios do estado do Amazonas.
Em outro ponto da floresta, na Aldeia Nova Esperança, a 80 km de Manaus, onde vivem os indígenas da etnia baré, o atendimento online foi crucial para salvar vidas. Segundo o agente de Saúde da Aldeia, Reinaldo Santos, o programa tem evitado que situações graves como as dos yanomamis se instalem.
“Nós já tivemos pessoas da aldeia que tiveram paradas cardiorrespiratórias e foram reanimadas através do atendimento online, com o profissional nos orientando como proceder. Também houve crianças desnutridas que receberam os primeiros socorros pelo teleatendimento. Esse serviço também nos ajudou a solicitar atendimento emergencial para os casos mais graves, que dependiam de deslocamento”, conta.
Abuso na adolescência
Suziane Gomes conta que o seu quadro depressivo foi consequência da violência sexual que sofreu aos 11 anos. “Eu fui abusada sexualmente pelo meu professor e, na época, perdi a vontade de ir para a escola e de comer. A minha família não sabia do abuso e me obrigava a ir à escola e isso só piorava”, relembra.
Sem tratamento adequado, os sintomas de Suziane agravaram-se silenciosamente até que o medo de perder familiares na pandemia, fez com que a doença piorasse. “Eu sentia muita tristeza. Por qualquer razão, eu começava a chorar. Eu não saía de casa e só queria ficar sozinha. Aí comecei a me cortar.”
Fragilizada e sem autonomia, ela deixou de cuidar das filhas de um e sete anos, não conseguia estudar nem realizar algum tipo de atividade profissional. Mas ainda que a família tentasse buscar ajuda logo no início da doença, não seria fácil porque o psicólogo mais próximo estava a 62 km, no centro de Manaus.
