A natureza reúne seres capazes de correr, escalar, esmagar ossos ou dançar de forma sublime e delicada para atrair parceiras para a reprodução. A fim de registrar de perto histórias de animais e suas características, o cineasta e biólogo João Paulo Krajewsk viajou por lugares como Amazônia, sul da Ásia e Austrália para ver de perto primatas, onças, dragões-de-komodo e outros.
Essa jornada foi documentada para o Animal Planet e foi ao ar no “Histórias Animais”, que estreou no último dia 10. Em entrevista a Ecoa, Krajewsk conta os principais desafios de conhecer o habitat natural desses seres. Acompanhe abaixo.
Quais os principais aprendizados dessa jornada ao lado de animais selvagens, sendo muitos deles ameaçados de extinção?
Krajewsk: Foi uma incrível sensação de privilégio ver todos esses animais de perto e em seus ambientes naturais, especialmente no caso de animais raros e ameaçados, como os gorilas-da-montanha e dragões-de-komodo. Considero que meu maior privilégio foi passar um bom tempo com eles, observando seu comportamento natural. Sempre fui fascinado pela beleza e comportamento dos bichos, mas nessa jornada descobri que toda essa natureza fica muito mais interessante se aprendermos sobre a origem e a evolução das formas, cores, comportamentos e distribuição dos animais que vemos hoje. O maior aprendizado foi perceber que a natureza é muito mais bonita quando também olhamos para o passado.
Os felinos são um destaque do programa. Quais foram as principais dificuldades ao visitar esses animais? Há semelhanças entre eles?
Krajewsk: Com exceção de alguns felinos da África, em geral esse grupo é muito difícil de ser visto na natureza. Agora temos alguns lugares no Pantanal onde é quase garantido ver uma onça-pintada, mas a maioria dos felinos selvagens é difícil de ser encontrada. Fora isso, quando os vemos, eles passam a maior parte do dia escondidos ou descansando. Filmá-los em ação sem dúvida foi um desafio que exigiu muita paciência. Apesar de termos felinos selvagens em diversas partes do mundo, e de tamanhos diferentes, todos eles têm algumas semelhanças, especialmente no formato da cabeça e corpo. Existem variações, claro, mas a maioria das pessoas é capaz de reconhecer um felino ao olhar para ele. São máquinas de caça moldadas pela evolução: o mais carnívoro de todos os grupos animais. Como são pouco vistos, as pessoas menosprezam o papel que esses felinos têm no planeta.
Durante as gravações, aprendi com o professor Mauro Galetti que as onças-pintadas ajudam a plantar árvores na Amazônia. Os felinos são animais extremamente importantes para o nosso planeta. Isso acontece porque a cotia, com seus dentes fortes, é a única capaz de abrir os frutos da castanheira. Ao consumir as sementes da castanha-do-pará, enterra parte delas como reserva de alimento. No entanto, sendo presa de predadores como as onças, muitas vezes não retorna para recuperá-las. Isso permite que as sementes germinem e cresçam em novas castanheiras. Assim, as onças desempenham um papel indireto ao ajudar na dispersão das sementes e na regeneração das castanheiras na floresta.
Você encontrou alguma espécie rara que passou por perda de território e está sofrendo com a ação dos seres humanos?
Krajewsk: Alguns felinos que filmamos, como o gato-do-mato-pequeno, são extremamente difíceis de serem vistos na natureza. Filmar de perto as características físicas desse felino só foi possível com um animal de cativeiro que havia sido resgatado. Para isso, visitamos o Núcleo da Floresta, do biólogo Rafael Mana, que faz um lindo trabalho de reabilitação de animais resgatados ou vítimas de maus-tratos. O gato-do-mato que filmamos lá havia sido atacado por cães domésticos, o que mostra, também, o quanto esses animais são influenciados pelas transformações que fazemos no planeta.
A dança de acasalamento é comum em muitas aves. O que você percebeu comparando esses “rituais” entre espécies de biomas e países diferentes?
Krajewsk: Num dos episódios da série, mostramos aves dançarinas e/ou acrobáticas. Esse comportamento exibicionista de algumas aves sempre me fascinou. Acho uma das coisas mais lindas que pode ser vista na natureza, especialmente quando se considera a curiosa e intrigante história do surgimento desse comportamento. Vou me conter por aqui para não estragar as surpresas do episódio, mas o que posso dizer é que machos de diferentes grupos de aves, mesmo não aparentados, têm certa semelhança ao se exibirem para as fêmeas. As plumas de algumas dessas aves exibicionistas são tão lindas, que muitas populações humanas nativas das regiões onde essas aves vivem as utilizam como adornos também para se exibir em rituais.
O comportamento social dos macacos se assemelha aos nossos, o que mais te chamou a atenção nesse sentido? A experiência mudou sua forma de ver esses animais?
Krajewsk: Como biólogo, sempre fui fascinado pela história dos primatas; afinal nós também somos primatas. São animais inteligentes e incrivelmente semelhantes a nós em muitos aspectos. Passar muito tempo com esses animais em seu ambiente natural, desde os primatas brasileiros que vivem no topo das árvores até os gigantes orangotangos, chimpanzés e gorilas, foi surpreendente, de certa forma, porque percebi que eles são ainda mais semelhantes de nós do que eu já imaginava. Tive a sensação de que o fenômeno era ainda maior do que eu sempre imaginei.
Registrar esses animais é um privilégio porque as imagens mostram semelhanças com nós mesmos de uma forma tão clara, que dispensa palavras para que as pessoas percebam isso. Olhar uma mãe alimentando um filhote, ou observar em detalhes as mãos dos primatas, com suas unhas e impressões digitais, é uma verdadeira aula.
Certa vez, nas redes sociais, postei uma foto que fiz, de um macaco japonês com seu filhote e com uma das mãos esticada em direção à câmera. Nos comentários da foto, algumas pessoas questionaram se a imagem havia sido alterada, tamanha a semelhança do animal com uma pessoa, especialmente a mão. Eu garanto: nada foi alterado na foto; eles são mesmo parecidos conosco e isso é fruto da nossa história de evolução.
Outra coisa surpreendente sobre nós, primatas, é o quão diverso o grupo é. E eu tive alguns desafios para registrar toda essa diversidade. Passei a noite nas florestas da Indonésia para registrar o pequeno Társio, primata de menos de 200 gramas com os olhos tão grandes que cada um é maior que o próprio cérebro do animal. Outro desafio foi ver o orangotango em seu ambiente natural: horas de caminhada, na densa mata da ilha de Bornéu, aguentando sanguessugas entrando pelas meias e deixando feridas que nunca cicatrizavam. Mas valeu cada segundo, faria tudo de novo!
No último episódio você conhece de perto o dragão-de-komodo, o que há de mais curioso nessa espécie?
Krajewsk: Um dos meus animais preferidos sempre foi o dragão-de-komodo. Além de um gigante lendário, ele vive em uma belíssima região da Indonésia. Ver de perto esse animal me trouxe muitas surpresas. Foi muito curioso ver os filhotes dos dragões em cima das árvores, grandes machos brigando na época de reprodução e fêmeas construindo seus ninhos utilizando ninhos pré-existentes de uma ave da região que bota seus ovos no chão (um megápoda).
Agora, sem dúvida, o momento mais marcante e inesperado com os dragões foi ver o cortejo e a cópula desses gigantes na natureza. Jamais pensei em ver isso na minha vida! Foi fascinante ver esse animal na Indonésia e ouvir as lendas e histórias desse bicho mítico. Há pouco mais de um século, as pessoas mal sabiam que eles de fato eram os dragões-de-komodo.
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