É de interesse de todos que a coesão da Rússia seja preservada. O alerta é do assessor especial da presidência, Celso Amorim. Em conversa com o UOL neste domingo, o principal artífice da posição brasileira na guerra na Ucrânia admitiu que a situação é ainda difícil de compreender. Mas considera que, mesmo com o poder restabelecido, o incidente fragiliza o governo de Vladimir Putin.
Entre sexta-feira e sábado, a milícia do grupo Wagner ameaçou Vladimir Putin, assumiu o controle de uma das cidades do país e sinalizava que ia em direção à capital russa. Mas, num acordo, o motim teria sido desfeito.
Amorim admite que o cenário “parecia caminhar em um certo momento para uma guerra civil”. Para ele, não é de interesse de ninguém, nem dos europeus, um colapso russo. “Uma Rússia implodida é um perigo imenso”, afirmou.
“É de interesse de todos que a coesão da Rússia seja mantida”, insistiu o braço direito do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para temas de política externa.
A avaliação de Amorim é compartilhada por observadores internacionais, que apontam para a existência de 300 milīcias no país e um potencial de disputa de poder entre regiões explosivas, como a Chechênia. Se não bastasse, trata-se de um estado com milhares de ogivas nucleares.
Amorim acredita que, pelas informações recebidas, um certo controle foi restabelecido. “Mas fragilizou a posição da Rússia. Não foi bom para os russos”, apontou.
Emergentes resistem a plano ucraniano
No fim de semana, enquanto a crise dominava a agenda internacional, Amorim estava representando o Brasil numa reunião entre países do G7, emergentes e os ucranianos, na esperança de começar a desenhar um caminho para a paz.
Durante o encontro, realizado na Dinamarca, o governo de Kiev tentou fazer aprovar uma declaração final na qual os participantes sinalizavam apoio a trechos do plano de paz dos ucranianos. Mas a ideia não prosperou, em especial diante da resistência dos países emergentes. O Brasil também adotou a mesma postura.
Para Amorim, a aprovação do documento “não seria produtivo” e qualquer ideia de paz precisa nascer de conversas entre russos e ucranianos.
Ainda assim, o brasileiro destacou que o encontro concluiu com a decisão de manter o diálogo, o que já seria considerado um avanço diante da crise internacional.
Segundo Amorim, porém, esse processo terá de incluir a China e a Rússia. “Não há como fazer um acordo com eles mesmos”, disse o negociador brasileiro, em referência aos ucranianos.
Por enquanto, o processo ainda não será transformado em uma reunião de cúpula de chefes de estado. Mas não se descarta que, no futuro, o grupo possa ganhar tal dimensão.
No encontro deste fim de semana, a ausência de Jake Sullivan, conselheiro nacional de Segurança dos EUA, acabou prejudicando a ambição da reunião. O americano optou por permanecer em Washington diante do motim que se registrava na Rússia.
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