Thiago Castanho foi das cozinhas do Pará para o sucesso na TV e na internet (Foto: Reprodução)

É até um pouco difícil reconhecer que o cara rolando no tatame em matéria para a Globo é o mesmo que tempos atrás, aos 20 e poucos anos, e trilhando os passos do pioneiro conterrâneo, chef Paulo Martins (1946-2010), foi saudado como uma espécie de prodígio da cozinha paraense, ao reapresentar ao país de forma inovadora os manás da culinária do estado criador do irresistível carimbó.

Também é o mesmo cara que, adolescente, ajudava os pais no restaurante simples da família, o icônico Remanso do Peixe, ainda hoje instalado na própria casa dos Castanho, em uma tranquila vilinha residencial de Belém. Local onde aprendeu a cozinhar, literalmente dentro de casa, antes de lapidar seu talento no Senac/SP.

“Ultimamente estou mais voltado para projetos de audiovisual, e não só na TV, mas também no Instagram e no YouTube”.

Sua mais nova tacada chama-se “Fome de Luta”, no canal Combate. No programa, o chef une sua paixão pelo jiu-jitsu (também pratica kite surf) e pela culinária ao entrevistar nomes de expressão do octógono, que ao final de cada episódio o auxiliam a preparar suas receitas favoritas.

O dia seguinte de “chegar lá”

Castanho despontou para o então nascente cenário gastronômico-midiático por volta de 2010. Com o reconhecimento de nomes como Alex Atala, durante anos, seu então restaurante, o Remanso do Bosque, tocado a quatro mãos com o irmão Felipe, integrou a almejada lista das cinquenta melhores mesas de toda a América Latina (o prêmio 50 Best Restaurants).

Além de premiações e dos holofotes da mídia especializada brasileira, matérias na bíblia “Forbes” e até no “New York Times”, endossavam o trabalho dos irmãos — um feito e tanto para uma casa fora do eixo Rio-São Paulo. Seu grande predicado: enaltecer, de forma inventiva e autoral, as raízes, ingredientes e produtos amazônicos.

Embora ainda se orgulhe da façanha, o atual inventário do chef aponta prós e contras — incluindo uma imprevista “crise existencial culinária”, espécie de “day after” causado, entre outras coisas, pela pressão que toda essa atenção carrega para dentro da cozinha.

“Todo mundo quer ser reconhecido profissionalmente, todos querem ‘chegar lá’. Mas quando você chega, logo constata: opa, não é bem esse o jogo que eu queria jogar”, argumenta.

Dentre os efeitos colaterais, Castanho aponta que o sucesso gerou um contrafluxo comercial. “Quanto mais prêmios você recebe, ao invés de aproximar, te distancia do público. É meio louco, mas sentimos isso. Depois do hype inicial, o restaurante ‘bomba’ durante um tempo. Mas aos poucos, no dia a dia, quem ainda não conhece o vê como algo caro e distante, o que no nosso caso não era verdade”, alega.

Outro ponto de distensão, ele afirma, foi a “gourmetização” banal dos produtos amazônicos: do dia para a noite, numa inversão de valores, tucupis e jambús proliferaram em cardápios de fino trato do sudeste, “colocados como um luxo, apenas para vender pratos por preços caros”, afirma.

Se o Remanso do Peixe continua valendo cada segundo de uma visita, o Remanso do Bosque fechou durante a pandemia. Um futuro projeto do chef muito provavelmente passará, como ele adianta, “por locais pequenos e informais, bacanas, divertidos, de alta qualidade, sem compromisso com luxo e premiações e sem tem que bajular clientes, críticos ou mídia. Mais ou menos como o (escritor e restaurateur americano) David Chang fez”.

Com informações do Uol