Vício em apostas vem crescendo no Brasil - Foto: Joédson Alves / Agência Brasil

A entrada das “bets” no Brasil passou a movimentar muito dinheiro. Somente em 2023, os brasileiros gastaram R$ 54 bilhões em apostas esportivas e cassinos online, segundo uma estimativa do Banco Central . Com a quantia impressionante, o governo federal decidiu regulamentar o mercado , visando aumentar sua arrecadação com impostos. Mas quais são os efeitos deste movimento na saúde da população?

De acordo com pesquisa Datafolha divulgada em janeiro deste ano, ao menos 15% da população brasileira já fez alguma aposta online, afetando principalmente jovens e homens. O estudo ainda afirma que 30% dos brasileiros de 16 a 24 anos afirma que já apostou. O gasto médio por mês dos apostadores é de R$ 263, equivalente a 20% do salário mínimo do país, segundo o levantamento.

Mais do que afetar as finanças pessoais, a entrada das bets também vem aumentando os registros de casos de ludopatia , doença reconhecida pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como uma condição médica caracterizada pela compulsão de uma pessoa por jogos de azar. Em entrevista ao Portal iG , a psicóloga Larissa Ferreira comentou as características da doença.

“É uma preocupação constante com apostas. O ludopata fica vivendo em função das apostas. É a necessidade de apostar quantias maiores para conseguir ter a satisfação que ela está buscando. Há uma tentativa muito grande para tentar parar, mas não se consegue. É como se fosse uma dependência”, explica a especialista.

Larissa ainda falou sobre os sintomas da doença. “Inquietação, irritabilidade, angústia. A pessoa usa o jogo para escapar dos problemas. Existe um aumento de ansiedade, possíveis crises, depressão, estresse crônico. Em casos mais graves, até a possibilidade de ideação suicida, que está relacionada às perdas financeiras e de esperança da vida”, detalha a psicóloga

“As consequências sociais são isolamento, brigas, perdas de amizade, baixa produtividade e perda de emprego. Há problemas de relacionamentos, incluindo divórcios em casamentos. Fora as perdas financeiras, que são óbvias. O jogar traz uma adrenalina em que a pessoa quer cada vez mais gastar”, continua.

Tratamento

Segundo a psicóloga, o tratamento para ludopatas é “complexo” e envolve a terapia cognitiva comportamental (TCC). “É necessária a TCC para mudar os pensamentos e comportamentos relacionados ao jogo. É preciso evitar situações que possam trazer jogos. Um grupo de apoio também pode contribuir para enfrentar a ludopatia. Ver outras pessoas em situações semelhantes é importante. O suporte da família e dos amigos é fundamental”, comenta Larissa.

“Em alguns casos, o uso de medicamentos é indicado. Há tratamento para ansiedade e depressão, que são condições que, muitas vezes, levam as pessoas aos jogos. Os antidepressivos contribuem para diminuir a impulsividade”, continua a especialista, destacando também a importância da prevenção. “As pessoas precisam saber como evitar o hábito de um jogo. A educação é necessária para evitar que o jogo passe de brincadeira para uma dependência”, finalizou.

Foto: Lucas Figueiredo / CBF

Boom das bets no Brasil

As bets entraram com força no país em 2018, quando o governo de Michel Temer (MDB) legalizou as apostas esportivas online. Desde então, mais de 500 empresas passaram a operar no Brasil, investindo em publicidade e marketing como nunca se tinha visto.

Prova disso é que, em 2022, doze casas de apostas figuravam entre os 300 maiores anunciantes no Brasil. Já entre os 20 clubes de futebol que disputam o Campeonato Brasileiro da Série A, somente dois não firmaram acordos de publicidades com as bets.

Dono das maiores torcidas do país, Flamengo e Corinthians tem as casas de apostas como patrocinadores masters, aqueles que ocupam a frente da camisa, espaço nobre do uniforme de times de futebol. Em seu último acordo, o Timão aceitou ganhar R$ 360 milhões da Vai de Bet, em um contrato válido por três temporadas.

Inglaterra mostra preocupação

Com o aumento de casos de ludopatia na Inglaterra, a Premier League, responsável por organizar o campeonato nacional, decidiu proibir o patrocínio de sites de apostas em camisas dos grandes times. A medida foi anunciada no ano passado e entrará em vigor a partir da temporada 2025/26.

Segundo a entidade, a medida segue uma ampla consulta envolvendo o Departamento de Cultura, Mídia e Esporte da Inglatera, como parte da revisão contínua da atual legislação de jogos de azar. A Premier League também está trabalhando com outros esportes no desenvolvimento de um novo código para patrocínio de jogo responsável.

*Com informações de IG