Autoridades do governo venezuelano realizam atividades de recrutamento visando cidadãos e funcionários públicos como parte do plano de defesa nacional - Foto: Jorge Mantilla / NurPhoto via Getty Images

A Venezuela informou nesta terça-feira, 26, que vai patrulhar com drones e navios da Marinha suas águas territoriais. O anúncio ocorre em meio a tensões com os Estados Unidos, que realizaram um deslocamento militar no mar do Caribe.

As autoridades venezuelanas também informaram, na segunda-feira, 25, a mobilização de 15 mil agentes de segurança para a fronteira com a Colômbia para operações antidrogas. O ditador Nicolás Maduro diz que a movimentação americana é uma “escalada de ações hostis”.

Já a administração de Donald Trump, por sua vez, sustenta que realizará operações contra o narcotráfico internacional, sem mencionar a possibilidade de invadir a Venezuela.

A mobilização dos EUA de três destróieres lança-mísseis e 4 mil fuzileiros navais, aos quais se somam outros dois navios, coincide com o aumento da recompensa para 50 milhões de dólares (R$ 270 milhões) pela captura de Maduro e a designação do chamado Cartel de los Soles como organização terrorista. Washington também acusa Maduro de ser o chefe do cartel de drogas.

Não há informações claras sobre para onde ou quando a frota americana chegará ao Caribe.

O ministro da Defesa venezuelano, Vladimir Padrino, anunciou em um vídeo nas redes sociais um “importante desdobramento de drones com diferentes missões” e “percursos fluviais com infantaria da Marinha” no noroeste da Venezuela.

“Patrulhas navais no lago de Maracaibo, patrulhas navais no golfo da Venezuela e navios de maior porte mais ao norte em nossas águas territoriais”, acrescentou.

Maduro abriu o alistamento da Milícia Bolivariana, um corpo vinculado às Forças Armadas que integra civis e que os críticos acusam ter uma forte carga ideológica. Segundo o ditador, a Venezuela já conta com cerca de 4,5 milhões de reservistas para enfrentar qualquer ameaça, número que especialistas contestam.

Nicolás Maduro, em evento de campanha – Foto: Juan Carlos Hernandez / AFP

Uma possível invasão americana na Venezuela é um tema que cerca a tensão entre os países. No entanto, analistas veem o cenário de uma operação direta contra Caracas como algo distante,

“Acho que o que estamos vendo representa uma tentativa de criar ansiedade nas esferas do governo e obrigar Maduro a negociar algo”, explicou o analista Phil Gunson, do Crisis Group.

Caracas exigiu ainda nesta terça-feira, nas Nações Unidas, “o cessar imediato do deslocamento militar americano no Caribe”, segundo um comunicado. O chanceler Yván Gil pediu o “apoio” do secretário-geral da ONU, António Guterres, para “restabelecer o bom senso”.

Trump impulsionou em seu primeiro mandato (2017-2021) uma política de máxima pressão contra Maduro, com uma série de sanções que incluiu um embargo ao petróleo, ainda vigente.

Em seu segundo governo, no entanto, iniciou contatos precoces com o chavismo para coordenar a deportação de venezuelanos sem documentos nos Estados Unidos.

O mesmo aconteceu com o petróleo. Depois de ordenar a suspensão das operações da gigante Chevron, Trump autorizou a renovação de uma licença especial que contorna o embargo.

“Todos os dias ficamos atentos a um navio, e a verdade é que os navios que estão saindo são de petróleo, alguns deles saíram da Chevron para os Estados Unidos”, destacou na segunda-feira a vice-presidente e ministra de Hidrocarbonetos, Delcy Rodríguez.

Movimentação militar na Colômbia

A Venezuela também libertou nesta terça-feira quatro ex-guerrilheiros do extinto grupo FARC e um oficial colombiano, detidos desde 14 de agosto, que agora estão de volta à Colômbia, informou uma agência governamental colombiana.

Os cinco colombianos, quatro signatários do histórico acordo de paz de 2016, cruzaram a fronteira da Venezuela com a cidade de Cúcuta, na fronteira nordeste do país, para “turismo” quando foram detidos. A Colômbia exigiu sua libertação e acionou mecanismos diplomáticos.

Donald Trump, presidente dos Estados Unidos – Foto: Casa Branca / Reprodução

“Os indivíduos libertados estão em boas condições de saúde e foram entregues à Colômbia após as autoridades venezuelanas esclarecerem sua situação”, afirmou em comunicado a Agência de Reincorporação e Normalização, responsável pela reintegração de ex-combatentes à vida civil.

Três dos detidos, signatários do acordo de paz, trabalham como guarda-costas e estavam armados quando foram presos.

A Colômbia estreitou laços com a Venezuela após a chegada ao poder de Gustavo Petro, o primeiro presidente de esquerda da história do país. Mas a controversa reeleição de Nicolás Maduro na Venezuela, em julho de 2024, distanciou os líderes.

Bogotá não reconheceu a vitória de Maduro pelo terceiro mandato consecutivo, mas manteve os canais diplomáticos com a Venezuela abertos.

A libertação dos colombianos ocorre em meio a uma reaproximação diplomática. Na segunda-feira, a Venezuela anunciou o envio de 15.000 soldados para a fronteira para fortalecer o combate conjunto contra grupos ilegais que operam na região.

No mesmo dia, Petro defendeu Maduro contra os Estados Unidos, devido ao envio de forças militares americanas para o sul do Caribe.

“O Cartel de los Soles não existe; é uma desculpa fictícia da extrema direita para derrubar governos que não os obedecem”, disse Petro no canal X na segunda-feira.

Os Estados Unidos vinculam Maduro ao Cartel dos Sóis, uma organização que declararam ser um “grupo terrorista”.

*Com informações de Terra