Algum dia, a rachadura vai derrubar parte da montanha em um fiorde de 70 metros de altura, o que provocaria uma catástrofe enorme, talvez um dos maiores tsunamis de que se tem registro. Seria uma nova calamidade em uma região que está familiarizada com isso.
Antes de estrear nos cinemas, o filme “A Onda” (“Bølgen”, no original) foi exibido com exclusividade para os habitantes da região onde a história se passa, no oeste da Noruega. É que o longa de 2018 narra acontecimentos catastróficos com chances reais de acontecer. Na verdade, há especialistas que já nem falam em “se”, mas em “quando” isso vai acontecer.
A montanha de Åkernes se destaca por dois motivos na região. Aos seus pés fica uma fazenda centenária, já abandonada, mas preservada por representar a cultura rural dos fiordes noruegueses. No alto, há uma fenda ameaçadora na rocha, crescendo a uma taxa de quase 9 centímetros por ano.
Algum dia, a rachadura vai derrubar parte da montanha em um fiorde de 70 metros de altura, o que provocaria uma catástrofe enorme, talvez um dos maiores tsunamis de que se tem registro. Seria uma nova calamidade em uma região que está familiarizada com isso.
Em 1905, os assentamentos de Bødal e Nadal, ali pertinho, foram dizimados por uma avalanche que provocou enormes ondas, a maior delas de 40 metros de altura. Metade da população morreu. Em 1936, a mesma história: 1 milhão de metros cúbicos de rochas caiu de uma altura de 800 metros em um lago. A avalanche de pedras criou um tsunami, cuja maior onda atingiu 74 metros de altura, destruindo fazendas e casas e matando pessoas às dúzias, como explica o geólogo Christer Hoel neste site.
Mas, segundo alguns modelos, o desastre de Åkernes pode causar ondas ainda maiores, que passariam de 100 metros. Engoliria casas, escolas e fazendas. As partes mais baixas de vilas como Geiranger, considerada patrimônio da humanidade pela Unesco, virariam entulho e escombros.
O desastre pode acontecer daqui a décadas. Ou no ano que vem. De qualquer forma, as cidades e vilarejos estão preparados com sistemas de alarmes que deverão dar tempo suficiente para as pessoas evacuarem a área em segurança. Assim que os sensores a laser detectarem uma aceleração na rachadura, os 10 mil habitantes do entorno serão notificados.
Se o sistema não funcionar? A Noruega pode sofrer o desastre mais mortífero de sua história.
Deslizamentos do tipo são um desastre natural que está se tornando mais comum com as mudanças climáticas. O aumento das chuvas e o derretimento do permafrost, solo congelado encontrado no extremo norte do planeta, está encharcando fendas de rochas, o que é a fagulha necessária para disparar esses tsunamis causados pelo despencamento de pedras.
Para enfrentá-los, a experiência humana já trouxe alguns aprendizados.
Em 1963, uma rocha caiu do Monte Toc, na Itália, e destruiu a barragem de Vajont, uma das mais altas do mundo, matando 2 mil pessoas. A tragédia inspirou o Canadá, outro país sujeito a acidentes do tipo, a desenvolver um método de drenagem de água para conter deslizamentos de terra. Testado pela primeira vez em 1987, na Colúmbia Britânica, o sistema se mostrou bem-sucedido.
Nova Zelândia e Suíça também criaram os seus, e a Noruega está testando uma forma semelhante de bombear para fora a água da chuva que se infiltra nas montanhas.
Qualquer que seja o mecanismo de defesa e prevenção, ele vai precisar funcionar se o país quiser manter uma das paisagens mais impressionantes da Terra. Os vilarejos nos pés dos fiordes de Geiranger e Naeroy dependem disso.
Que lugar é esse?
Geiranger e Naeroy estão entre os fiordes mais profundos e estreitos do mundo. As paredes rochosas brilhantes se elevam a até 1.400 metros acima do Mar da Noruega e, em alguns pontos, chegam a 500 metros abaixo do nível do mar. Com uma porção de cachoeiras, florestas temperadas, lagos glaciais, geleiras e montanhas escarpadas, eles são considerados o arquétipo de fiorde.
Geiranger é uma estância essencialmente turística desde que um cruzeiro que levava a rainha consorte Luísa, em 1869, descobriu esse pedacinho escondido nos fundos dos fiordes.
Hoje ela é o terceiro maior porto de cruzeiros da Noruega. Na temporada turística, que dura quatro meses, cerca de 300 mil pessoas visitam a cidade, que tem apenas 230 habitantes.
Quase o mesmo número de pessoas, 200, morreram em avalanches e deslizamentos ao longo do último século. Mesmo com tragédias como as de 1905 e 1936, e com a ameaça de Åkernes, os habitantes não abandonaram a cidade.
Teve quem foi embora, é verdade. Mas quem ficou construiu suas casas fora do caminho que as avalanches percorrem, cavou abrigos para se proteger, e só.
A postura dessas pessoas me lembra o que me disseram moradores de áreas próximas aos lindos vulcões de Los Lagos, no Chile. Se não tinham medo de viver ao lado desses monstros? Medo eles têm é de morrer em um lugar que não seja bonito assim.
Nesta segunda-feira, 1º de janeiro, Manaus celebrou a posse do prefeito reeleito, David Almeida, ao lado do vice-prefeito Renato Frota Magalhães Junior, em uma...
Em busca de soluções para mitigar o problema dos microplásticos, pesquisadores do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) desenvolveram um material biodegradável que pode...