Jair Bolsonaro - Foto: Reuters / Adriano Machado

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) alcançou maioria de votos pela condenação e inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nesta sexta-feira, 30. A sessão foi reiniciada com a manifestação da ministra Cármen Lúcia, que antecipou seu voto favorável à condenação de Bolsonaro.

Assim, o placar do julgamento ficou em 4 a 1 contra o ex-presidente, consolidando a maioria pela sua condenação.

Esta foi a quarta sessão dedicada à análise do caso. Restam apenas os votos dos ministros Nunes Marques e Alexandre de Moraes, este último também sendo o presidente da Corte.

O Tribunal analisa a conduta de Bolsonaro durante uma reunião ocorrida no Palácio da Alvorada em julho do ano passado, na qual ele levantou dúvidas sobre a segurança do sistema de votação nas urnas eletrônicas e questionou a integridade dos resultados das eleições passadas. A reunião foi transmitida pela TV Brasil.

Nesta sexta-feira, os ministros que devem votar, em ordem, são:

  • Ministra Cármen Lúcia
  • Ministro Nunes Marques
  • Ministro Alexandre de Moraes, presidente do tribunal

Como será o julgamento hoje?

A sessão será retomada com o voto da ministra Cármen Lúcia. Caso a ministra vote pela condenação de Bolsonaro, será formada uma maioria de 4 votos favoráveis à inelegibilidade.

Em seguida, prosseguirá a votação para a manifestação dos últimos votos, a serem proferidos pelos ministros Nunes Marques e Alexandre de Moraes. O plenário é composto por um total de 7 ministros.

Placar

O placar está 3 a 1 pela nelegibilidade de Bolsonaro. Até o momento, os ministros Benedito Gonçalves, Floriano de Azevedo Marques, André Tavares e Cármen Lúcia votaram a favor da condenação de Bolsonaro. Apenas Raul Araújo divergiu e considerou improcedente o pedido contra o ex-presidente.

Como votaram os ministros até aqui?

Na última terça, 27, o relator e ministro Benedito Gonçalves votou pela inelegibilidade de Bolsonaro por ter cometido abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação. Veja como foram os votos dos ministros na sessão de ontem.

Nunes Marques

O ministro Nunes Marques deu início ao seu voto, afirmando que o sistema de votação possui uma “integridade irrefutável” e que a atuação do ex-presidente Bolsonaro na reunião não teve como objetivo obter vantagens políticas por meio de seu discurso ou desacreditar o sistema eleitoral.

Cármen Lúcia

Durante a leitura da decisão, Cármen Lúcia destacou que Bolsonaro proferiu ataques graves a ministros do STF e do TSE, utilizando informações já desmentidas. A ministra ressaltou que é legítimo realizar críticas ao Judiciário, porém, um servidor público não pode, em um ambiente público, promover ataques que comprometam a integridade da instituição: “Não há democracia sem Poder Judiciário independente”.

A ministra também pontuou que a reunião com os embaixadores teve um caráter eleitoreiro, afirmando que o requisito da gravidade, ou seja, o impacto do ato no processo eleitoral, foi cumprido.

De acordo com a magistrada, mesmo que os embaixadores não fossem eleitores, eles tiveram uma influência significativa na divulgação das declarações do ex-presidente.

Raul Araújo

O ministro Raul Araújo foi o único a proferir um voto favorável a Bolsonaro, abrindo a divergência ao considerar improcedente a ação contra o ex-presidente. Em sua análise, o ministro argumentou que a reunião em questão não apresentou gravidade suficiente para resultar em uma condenação por inelegibilidade.

“A reunião não foi tamanha a ponto de justificar a medida extrema da inelegibilidade. Especulações e ilações outras não são suficientes para construir o liame causal e a qualificação jurídica do ato abusivo. O comportamento contestado leva à inescapável conclusão pela ausência de gravidade suficiente”, concluiu.

Minuta golpista

O magistrado também alterou sua posição anterior e decidiu não incluir a minuta golpista encontrada na casa do ex-ministro Anderson Torres no processo em análise nesta manhã.

Araújo adotou a tese de que o documento não deve ser considerado no processo que trata dos ataques de Bolsonaro ao sistema eleitoral durante a reunião com embaixadores em julho de 2022.

No seu voto, ele sustentou que a minuta golpista não está diretamente relacionada aos eventos que motivaram a ação movida pelo PDT contra o ex-presidente. Ele também ressaltou a falta de informação sobre a autoria do documento.

“Independentemente do referendo da decisão do relator, o tema daquela questão processual persiste aberto à discussão”, justificou-se Raul Araújo.

O ministro argumentou ainda que a análise sobre a pertinência da inclusão do documento deve ser abordada no julgamento final da ação.

Floriano de Azevedo Marques

Marques, terceiro ministro a votar, destacou que a reunião com embaixadores ocorreu de forma improvisada, na residência oficial do presidente, o que indica que não se tratou de um evento regular da agenda presidencial.

Quanto ao discurso de Bolsonaro, o ministro ressaltou que havia um claro objetivo eleitoral, comparando-o a um discurso de campanha realizado em uma praça de uma cidade do interior.

“Se aproximou muito de um discurso de comício em praça do interior”, disse.

André Ramos Tavares

O ministro André Ramos Tavares também concluiu que ocorreu desvio de finalidade e abuso de poder, além de destacar a gravidade da conduta.

Tavares ressaltou que o discurso apresentado está repleto de informações falsas e ataques diretos a partidos políticos, candidatos, ministros do STF e do TSE.

Pedido de vista

No TSE, qualquer ministro tem o direito de solicitar prazo adicional para análise do processo, conhecido como pedido de vista, o que poderia resultar em uma prorrogação do julgamento por até 90 dias.

No entanto, não há expectativa de que isso ocorra no caso em questão.

Defesa de Bolsonaro

O advogado Tarcísio Vieira de Carvalho, que defende de Jair Bolsonaro, contestou a correlação entre a reunião dos embaixadores e o contexto de 8 de janeiro.

Ele caracterizou a ação movida pelo PDT como “impostora” e afirmou que o partido fez “uso indevido da Justiça Eleitoral”, alegando que o processo foi utilizado como uma “plataforma política de propaganda antecipada”.

“Uma ação impostora, eivada de falsidade ideológica, totalmente fadada ao insucesso”, comunicou o advogado de Bolsonaro. Ele também refutou qualquer conexão do caso julgado com tentativa de golpe.

“Tentativa de golpe? Conectada à reunião com embaixadores? Essa pretensão não dependeria de discursos outros que não os de descrédito da Justiça Eleitoral? Alguém que pretensamente vai praticar um golpe vai perder tempo em desacreditar a Justiça Eleitoral e disputar as eleições?”, questionou Tarcísio.

Bolsonaro pode recorrer?

Após uma eventual condenação no TSE, Bolsonaro terá a possibilidade de recorrer tanto ao próprio TSE quanto ao Supremo Tribunal Federal (STF).

A defesa do ex-presidente manifestou sua intenção de recorrer caso haja uma condenação.

Existem duas opções de recursos disponíveis:

  • Embargos de declaração: Esse recurso seria direcionado ao TSE. Nele, a defesa apontaria obscuridades e contradições na decisão, buscando reverter uma possível inelegibilidade e preparar o terreno para um recurso subsequente ao STF.
  • Recurso extraordinário: Esse recurso seria enviado ao STF. Nele, a defesa precisaria argumentar que a eventual decisão de inelegibilidade do TSE violou princípios constitucionais. O advogado de Bolsonaro, Tarcísio Vieira, indicou que já identifica elementos para esse recurso, com base na restrição ao direito de defesa.

Ambos os recursos têm um prazo de três dias para serem apresentados. No entanto, se os embargos de declaração forem apresentados primeiro, o prazo para o recurso extraordinário não será contado.

Entenda o caso

Em julho de 2022, ocorreu uma reunião no Palácio da Alvorada entre o ex-presidente Jair Bolsonaro e embaixadores.

Durante o encontro, Bolsonaro fez questionamentos em relação ao resultado do sistema eleitoral de 2018, levantou dúvidas sobre a segurança das urnas eletrônicas e fez críticas a ministros de tribunais superiores. O evento foi transmitido pela TV Brasil.

O PDT requereu a inelegibilidade do ex-presidente e a cassação da chapa de Bolsonaro junto ao general Braga Netto.

Além disso, o partido também solicitou a exclusão de vídeos do conteúdo publicado pela Agência Brasil, o que já foi realizado.

*Com informações de Terra