Jóqueis largam com seus cavalos na corrida de 2.000 metros na pista de areia do Jockey Club de São Paulo no último sábado (6) - Foto: Eduardo Knapp / Folhapress

“Qualquer principiante que chega aqui, vai no guichê e acerta de primeira no vencedor. Isso sempre acontece. Mas depois, quanto mais sabido, pior fica”, vaticinou o policial militar aposentado Gilson Silva, 64 anos, frequentador semanal do Jockey Club de São Paulo por metade de sua vida.

O Jockey vem sendo ameaçado de interromper seus trabalhos após a Câmara de São Paulo aprovar, no mês passado, um projeto de lei que proíbe o uso de animais em atividades desportivas que envolvam apostas. O prefeito Ricardo Nunes (MDB) decidiu sancionar a lei, de autoria do vereador Xexéu Tripoli (União Brasil), mas ela está suspensa pela Justiça desde a terça-feira (2).

O folheto com a programação do dia é extremamente detalhado e, para os marinheiros de primeira viagem, de difícil compreensão. O primeiro páreo, às 14h, seria uma corrida de 1.400 m na grama. Seis eram os cavalos em disputa.

A programação traz o peso dos jóqueis (entre 55 kg e 60 kg), o dos cavalos (por volta de 500 kg), suas últimas colocações em corridas (divididas em grama ou areia), as cores dos uniformes, os pais de cada cavalo, sua cor (alazão, castanho ou tordilho), sexo e por aí vai.

Nas televisões espalhadas pelo saguão dos guichês, uma outra informação importante: quanto cada animal pagaria se fosse vitorioso. Deixei de lado a profusão de dados e apostei no que vi na telinha. O favorito era Granvic, pagando 1,8. As apostas partem de R$ 2, e resolvi jogar logo R$ 10 no vencedor (aceitam-se cartões de débito e de crédito).

Na tarde ensolarada, o castanho (marrom) Granvic, montado por W. Blandi, foi barbada. Havia algumas centenas de frequentadores, famílias, alguns casais bem-vestidos, vários senhores mais à vontade. Assombrosamente, me inscrevi na lista de novatos que acertam o vencedor, conforme revelação do aposentado profeta. Fui trocar minha pule (bilhete) e ouvi barulho de registradora: R$ 18 no bolso.

Quem levou o páreo foi Qual É, o que nos permite uma digressão sobre os nomes desses animais. Há Gin and Tonic, Nervos de Aço e Gibraltar Love. Itá Nyatã, Let´s Rock e Último Romântico. Le Musiq, Calypso Dance e Oh My Goodness.

A criatividade dos criadores parece infinita, mas não é. Cada haras inventa sua regras, mas tomemos como exemplo o Philipson, propriedade do presidente do Jockey de São Paulo, Benjamin Steinbruch. A cada ano, ele lança um bocado de animais nas corridas.

Apostador analisa páreos e estatísticas na arquibancada do Jockey Clube – Foto: Eduardo Knapp / Folhapress

Eis as alcunhas de seus sete cavalos neste sábado: Qual É, Quem É Que Não Gosta, Qual Que É e Quebrantador, Rava Naguilla, Rapidez Fatal e Ovomaltine. A cada ano, o haras avança uma letra de seu alfabeto e nomeia todos os seus Equus ferus caballus com a mesma inicial. Dá para entender, então, nomes tão esdrúxulos no ano do Q.

Nos terceiro e quarto páreos, sentindo-me bem sabido, tentei apostas mais complexas: uma dupla, na qual é preciso acertar os dois primeiros colocados, mas independente da ordem, e a exata, na qual é necessário prever ambos, mas na ordem. Perdi R$ 10 em cada, é claro, e dei por encerrada minha aventura como turfista e fui comer.

Há três restaurantes no local, mas infelizmente todos parecem voltados para o alto poder aquisitivo. A feijoada, por exemplo, custa R$ 160 em dois deles, mas pelo menos você pode comer a tarde inteira. Há ainda uma lanchonete com salgados e sanduíches mais simples.

O Jockey Club de São Paulo (av. Lineu de Paula Machado, 1.263, Cidade Jardim), que vai fazer 150 anos em 2025, atualmente só oferece corridas aos sábados. Houve tempos em que os paulistanos tinham corridas todos os dias, menos às terças. A entrada é gratuita.

*Com informações de Folha de São Paulo