Foto: Arquivo Pessoal

“Não era um sonho ser policial, não sabia nem como era a profissão, só tinha uma ideia mais genérica. Não sei se é isso que quero fazer o resto da vida mas, hoje, amo o que faço.

Na época que entrei para a corporação estava fazendo direito na UEFS (Universidade Estadual de Feira de Santana) e trabalhava como agente comunitária de saúde onde cresci e moro, em Queimadinha, um bairro pobre de Feira de Santana, na Bahia. Tenho dois amigos que eram policiais e insistiram muito para eu fazer o concurso porque o salário era melhor do que o que eu tinha na época.

Fiz o concurso em 2012, ainda no padrão masculino, inclusive o teste de aptidão física. Fui convocada dois anos depois, em 2014. Naquela época, eu ainda não havia mudado meu nome civil. Mas já me entendia como mulher porque nasci fêmea.

Mas foi somente neste ano, depois da terapia e após encontrar meu atual companheiro, que sempre me apoia e gosta de mim como sou, que comecei a me sentir mais fortalecida. Em maio, fiz uma maquiagem e comprei uma peruca. Sempre gostei de me maquiar, mas fazia sempre algo muito sutil. Tirei uma foto e publiquei no meu perfil nas redes sociais.

No dia seguinte, quando cheguei no trabalho, meus colegas me receberam com abraços e parabéns. Alguns diziam ‘sempre soube’. Uma colega disse: ‘Sou assistente social e posso te ajudar na retificação dos seus documentos’; uma capitã me disse que estava feliz e que a polícia já estava aceitando pessoas trans na corporação.

Foi quando minha comandante me chamou para conversar. Ela era a primeira mulher a ocupar essa função. Sabia que era para tocar nesse assunto, então já cheguei dizendo: ‘Se viu uma foto minha, sou eu mesma. Sou mulher, não quero mais cortar meu cabelo’. Ela respondeu que estava do meu lado e que me ajudaria. Também me explicou que, como eu estava no padrão feminino, a primeira coisa que teria que fazer era mudar civilmente meu nome e o gênero com o qual eu me identificava.

Em junho deste ano, fiz toda a documentação para retificação no cartório, nem precisei de advogados. No primeiro dia que fui trabalhar depois disso, todas as colegas mulheres estavam de batom. Recebi muitos abraços.

Minha relação com todos ficou muito melhor. Nunca fui destratada, mas era vista como uma pessoa gay na corporação, e não era assim que eu me identificava.

*Com informações de Uol