Joias doadas a Michelle Bolsonaro que foram apreendidas pela Receita Federal pela tentativa de entrada ilegal no País (Foto: Wilton Junior / Estadão)

Desde que o escândalo das joias foi revelado pelo Estadão em março, Michelle vinha negando ter conhecimento sobre os presentes sauditas

Uma funcionária que atuava no Gabinete Adjunto de Documentação Histórica (GADH) durante a gestão Bolsonaro afirmou, em depoimento à Polícia Federal, que Michelle Bolsonaro recebeu em mãos, no fim do ano passado, – quando ainda era a primeira-dama -, o segundo kit de joias enviado pelo governo da Arábia Saudita. Os itens entraram ilegalmente no Brasil. A informação foi obtida com exclusividade pelo Estadão.

Desde que o escândalo das joias foi revelado pelo Estadão em 3 de março, Michelle vinha negando ter conhecimento sobre as joias presenteadas pelos sauditas. O depoimento da funcionária, no entanto, contradiz o que ela alega. A ex-primeira-dama não se posicionou ao jornal sobre o que disse a servidora até a última atualização desta reportagem.

O GADH, onde a testemunha trabalhava, é um departamento que presta serviços ao Gabinete Pessoal da Presidência da República e é responsável pela recepção e triagem dos presentes oficiais. O conjunto de joias, segundo o jornal, foi entregue a Michelle no dia 29 de novembro de 2022, no Palácio da Alvorada, e conferido pessoalmente por Jair Bolsonaro.

Esse kit de joias chegou ao Brasil pela comitiva do então ministro de Minas e Energia (MME), Bento Albuquerque, e entrou ilegalmente no País, burlando as regras da Receita Federal. O estojo continha um relógio da marca Chopard – que custa cerca de R$ 800 mil -, além de uma caneta, um anel, um par de abotoaduras e um rosário, todos em ouro cravejado de diamantes.

À Polícia Federal, o Departamento de Documentação Histórica informou que quando o conjunto foi despachado para o Palácio da Alvorada, chegou a ser estimado em cerca de US$ 500 mil, equivalente a R$ 2,5 milhões.

O que acrescentou a servidora

Segundo apurado pelo Estadão, a servidora relatou que, em novembro do ano passado, ou seja, mais de um ano após a entrada ilegal das joias no Brasil, o coordenador-geral do GADH, Erick Moutinho Borges, informou a ela que chegaria ao departamento o conjunto para ser incorporado ao acervo do então presidente Bolsonaro.

Segundo a funcionária, a caixa trazida por assessores do Ministério de Minas e Energia foi recebida por ela, além de seu chefe Erick Moutinho e o museólogo Raniel Fernandes. Sendo informado a eles que Bolsonaro já tinha visto o presente.

Em seguida, segundo ela, os funcionários fizeram uma pesquisa para ter uma avaliação dos valores das joias. O então chefe do GADH, Marcelo Vieira, disse que, por razões de segurança, o conjunto deveria ser entregue ao Palácio da Alvorada.

Ainda de acordo com o Estadão, conforme relatou a funcionária, um servidor do Alvorada foi até o Palácio do Planalto para buscar a caixa com as joias. Momentos depois, o administrador do Alvorada, pastor Francisco de Assis Castelo Branco, que era responsável por gerenciar a residência oficial no governo Bolsonaro e também braço-direito de Michelle, entrou em contato com a servidora e “disse que a caixa com as joias já estava na posse da primeira-dama, Michelle Bolsonaro”, conforme ela alegou à PF.

O Estadão obteve documentos oficiais que comprovam que o pacote foi entregue no Palácio da Alvorada. O recibo indicando que Bolsonaro recebeu as joias foi assinado pelo funcionário Rodrigo Carlos do Santos, em 29 de novembro de 2022.

Funcionária revelou fato inusual

A funcionária do Gabinete Adjunto de Documentação Histórica também relatou à PF que, em meados de outubro de 2021, foi aberto um processo no Sistema Eletrônico de Informações (SEI) informando que o MME enviaria um presente a Bolsonaro e que era um “cavalo de ouro”. Segundo ela, no entanto, ainda não havia, naquele momento, nenhuma menção a qualquer conjunto de joias.

A comitiva do MME trouxe a estátua de um cavalo de ouro, porém, foi revelado durante a abordagem dos auditores da Receita que eles também traziam duas caixas de presentes estimados em cerca de R$ 18 milhões, quando somadas.

A funcionária do GADH ainda afirmou à PF que já estava no departamento há um ano e nunca havia visto uma situação como aquela, em que um presente é cadastrado antes, com o propósito de “alertar a futura chegada de um presente ao presidente da República”. Segundo o Estadão, a servidora também explicou que esses processos normalmente são lançados no sistema eletrônico após a chegada dos presentes no País.

Com informações do Terra