"Não estamos sepultando urnas, estamos sepultando pessoas", disse Lourival Panhozzi

O presidente da Associação Brasileira de Empresas e Diretores do Setor Funerário (Abradif), Lourival Panhozzi, convidou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) a ser coveiro em entrevista à CNN Brasil, na quinta-feira (11).

O representante de funerárias ainda afirmou que o Brasil vive à beira de um colapso funerário por causa do descontrole no número de mortes por Covid-19.

“O presidente Bolsonaro disse que não é coveiro, né? Convido a ser coveiro para ficar um dia numa funerária. Só um dia, para acompanhar as famílias que estão perdendo parentes, para ter a real noção do que está acontecendo no Brasil”, disse Lourival. “Não estamos sepultando urnas, estamos sepultando pessoas”, completou.

Em uma das falas mais chocantes de Bolsonaro ao minimizar a pandemia, o presidente disse que não era coveiro ao ser questionado, em 20 de abril, sobre as mortes por causa da doença no País. Àquela altura, o País registrava 2.575 mortes por Covid-19 – hoje, são mais de 273 mil.

Panhozzi ainda citou o risco de um colapso do setor funerário no Brasil. Segundo ele, por dia, o País registra até 3,5 mil enterros, sendo cerca de 2,4 mil de Covid-19.

“É inaceitável. A situação está num ponto muito crítico, nosso setor está sendo testado ao limite, várias regiões já estão trabalhando na capacidade máxima. Se não houver contenção de casos, teremos um cenário muito preocupante”, completou o presidente da Abredif.

“Estamos à beira do colapso. É bom que a sociedade não teste nosso limite. Se chegarmos ao nosso limite, estaremos à beira do fim do mundo, a situação vai ficar muito crítica”, acrescentou Panhozzi ao alertar para consequências ainda mais graves.

O presidente diz, ainda, que o setor funerário é afetado pela alta demanda, mas não tem os caixões como única preocupação.

“Soltamos uma nota pedindo às funerárias que suspendam as férias de todos. Os fabricantes não estão conseguindo nem matéria-prima para produzir as urnas. A situação é alarmante. Esse descontrole precisa parar. Se não for cortado, em mais 30, 40 dias, estaremos em uma situação muito difícil”, pontuou Panhozzi.

Trabalhando diariamente perto dos estragos da pandemia, o presidente da Abredif relata com preocupação o que vê na rotina das funerárias. “É uma das formas mais tristes de morrer, a pessoa morre sozinha, afogada no seco. Ela não tem direito a uma despedida, é uma morte quase indigna. É de cortar o coração”, fechou.