Em resposta às afirmações feitas pela diretora da Petrobras, Sylvia Anjos, na quinta-feira (24), em uma aula aberta na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e publicadas pelo jornal O Globo, de que “Não existe coral na Foz do Amazonas. Isso não é verdade, é uma ‘fake news’ científica. Existem rochas carbonáticas (também conhecidas como calcárias, formadas por sedimentos), semelhantes a corais, mas não são corais. São rochas antigas”, a diretora de Campanhas do Greenpeace Brasil, Raíssa Ferreira, explica:
“O Sistema Recifal da Amazônia, ou Great Amazon Reef System (GARS), é uma área de mais 13,4 mil km² onde se encontram corais, esponjas e rodolitos, formando um ecossistema único. A descoberta foi confirmada em 2014 e divulgada na revista Science Advances em 2016, sendo amplamente reconhecida, com contribuições de 38 pesquisadores de instituições de renome. Em 2017, o Greenpeace apoiou novas expedições científicas para investigar esse ecossistema, buscando também entender os impactos potenciais da exploração de petróleo na região. Afirmar que os corais seriam ‘fake news’ é uma forma de diminuir a importância ecológica da Margem Equatorial para favorecer a exploração petróleo, além de prejudicar a confiança na ciência brasileira e nos fatos”.
A Foz do Amazonas abriga uma biodiversidade única e adaptada a condições adversas, como águas turvas e ricas em sedimentos. Por isso, muitas espécies realizam quimiossíntese em vez de fotossíntese, o que permite a sobrevivência de um sistema recifal no local sem luz solar direta, uma adaptação exclusiva desta região do Atlântico.
“As modelagens de dispersão de óleo apresentadas pela ANP, que indicavam que o petróleo não chegaria até a costa, foram recebidas com ceticismo por oceanógrafos de renomadas instituições do país. Diante disso, o Greenpeace pede que se respeite o Princípio da Precaução – que prevê a não implementação de projetos sem que haja consenso científico em relação à região e os potenciais impactos das atividades”, defende Ferreira.
Diante deste cenário e do agravamento da crise climática no Brasil e no mundo, o Greenpeace Brasil começou uma campanha no ano passado pedindo que o governo declare a Amazônia uma zona livre de petróleo.
O Greenpeace Brasil lembra que os possíveis impactos da exploração de petróleo na região da Margem Equatorial vão muito além dos corais, peixes e algas calcárias que formam o GARS. Os manguezais, essenciais para a biodiversidade e para a proteção das comunidades costeiras, e abundantes na costa amazônica, podem ser diretamente afetados por vazamentos de óleo, e não há tecnologia eficaz para limpeza de mangues contaminados e mitigação dos impactos na biodiversidade marinha.
Em relação a outra afirmação de Sylvia Anjos feitas na mesma ocasião, de que um possível vazamento de petróleo na Foz do Amazonas não atingiria manguezais, Ferreira lembra que os próprios estudos da Agência Nacional de Petróleo (ANP) demonstram o contrário:
“Olhando a Margem Equatorial como um todo, no conjunto dos blocos, os próprios derivadores do estudo da ANP demonstram que o petróleo eventualmente derramado na região poderá atingir os manguezais da costa. Além disso, o estudo realizado durante a expedição do Greenpeace Brasil, em março, demonstrou, também por meio do uso de derivadores, que um vazamento próximo aos sistemas recifais do Amazonas permitiria o óleo chegar na costa Guiana Francesa, cuja boa parte do litoral é coberta por manguezais. Ou seja, os impactos ao meio ambiente não reconhecem fronteiras”, explica a diretora do Greenpeace Brasil.
Em março deste ano, o Greenpeace Brasil realizou a expedição científica Costa Amazônica Viva, que viabilizou pesquisas científicas sobre a dinâmica das correntes da Bacia da Foz do Amazonas para avaliar potenciais impactos da exploração de petróleo na região.
“O Brasil tem condições de liderar pelo exemplo uma transição energética global e ser protagonista na agenda climática, mas poderá ir de herói a pária climático caso o governo insista na abertura de uma nova fronteira de petróleo na Amazônia”, alerta Ferreira.
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