As queimadas são um fenômeno recorrente e preocupante no Brasil, impactando diretamente o meio ambiente, a saúde pública, a economia e o equilíbrio climático. Segundo especialistas, mesmo assim, a causa predominante desse desastre no Brasil ainda é a ação humana.
Muitas vezes associadas a práticas agrícolas, desmatamento ilegal ou eventos naturais, essas ocorrências se intensificam durante os períodos de seca e afetam com força os biomas mais sensíveis, como a Amazônia, o Cerrado e o Pantanal.
Embora algumas queimas controladas façam parte de técnicas tradicionais de manejo da terra, o uso indiscriminado do fogo causa danos à biodiversidade e aos recursos naturais do país.
Em entrevista, o tenente-coronel Gil Correia Kempers Vieira, pesquisador do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Desastres da Universidade Federal Fluminense (NEPED-UFF) e oficial do Corpo de Bombeiros Militar, destaca a principal origem das queimadas: o ser humano.
“Em todas as regiões do país, infelizmente a maior causa dos incêndios florestais está na ação humana. Seja a queimada para limpeza de terreno, seja para troca de cultura na agricultura ou o vandalismo, mais de 80% dos incêndios florestais têm relação à ação humana”.
O avanço de queimadas, especialmente em regiões de floresta densa ou de vegetação nativa, libera grandes quantidades de gases poluentes na atmosfera, contribuindo para o aquecimento global e a piora da qualidade do ar.
Além disso, comunidades indígenas, ribeirinhas e populações rurais são diretamente atingidas pelos incêndios, sofrendo com deslocamentos forçados, perda de territórios e impactos à subsistência.
Cidades próximas às áreas afetadas também enfrentam os reflexos, com o aumento de doenças respiratórias e prejuízos econômicos no setor agropecuário.

Além da ação humana direta, fatores ambientais contribuem para a propagação dos incêndios. Segundo o especialista:
“Tanto a estiagem quanto a crise hídrica têm uma influência direta nos incêndios florestais. A estiagem diminui a umidade relativa do ar e isso acaba agravando as condições para os incêndios florestais no país como um todo. Além disso, a crise hídrica reduz a questão dos mananciais e o abastecimento da população, levando muitas vezes à decretação de situação de emergência ou calamidade pública”.
Ele ainda alerta para os impactos colaterais desse processo. “Os elementos relativos à estiagem e os incêndios florestais agravam a condição de saúde da população, onde muitas vezes a fumaça agrava o quadro de doenças respiratórias, impactando na saúde pública e na lotação dos hospitais. Além disso, os incêndios florestais trazem muitos danos e prejuízos à economia e ao agronegócio”.
Apesar disso, é preciso desmistificar a ideia de que a natureza é a principal responsável por esses eventos. De acordo com Vieira, “são pouquíssimos os registros de incêndios naturais, provocados especialmente por raios. Grande parte dos incêndios tem origem na ação humana, e podem sim ser identificados através de perícias de incêndios, pois os indicativos são bem claros, deixando vestígios possíveis de serem rastreados”.
Ele também chama atenção para uma das causas mais delicadas e pouco discutidas: o uso do fogo como estratégia de ocupação de terras. “Em algumas localidades é possível afirmar que locais hoje suscetíveis a escorregamento, passaram por um processo de incêndio florestal, retirada da cobertura vegetal e posterior processo de erosão, aumentando inclusive o risco de eventos geológicos como, por exemplo, movimentos de massa”.
Apesar dos desafios persistentes, os primeiros meses de 2025 indicam uma mudança promissora nesse cenário, com redução das áreas queimadas e dos focos de calor em diversas regiões do país.
Brasil registra redução nas queimadas em 2025
O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), divulgou que houve uma queda expressiva nas áreas queimadas e nos focos de calor durante o primeiro semestre de 2025.
De acordo com dados divulgados pelo MMA, o país teve uma redução de 65,8% na extensão total de terras queimadas entre janeiro e junho de 2025, em comparação com o mesmo período do ano anterior. Em termos absolutos, a área afetada passou de 3,1 milhões de hectares no primeiro semestre de 2024 para cerca de 1 milhão de hectares em 2025.
As informações foram coletadas pelo Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais ( Lasa), da Universidade Federal do Rio de Janeiro ( UFRJ), e complementadas pela análise do sistema BDQueimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais ( Inpe). As análises também apontaram uma diminuição de 46,4% nos focos de calor no país, caindo de 35.938 registros em 2024 para 19.277 em 2025 — o menor índice desde 2018.
