Cinco dos principais bancos do mundo financiam empresas de petróleo e gás que operam na Amazônia e não têm uma política eficaz para proteger a floresta (Foto: Getty Images)

Documento publicado pela Stand.earth e COICA indica que 71% da floresta no Brasil, Peru, Colômbia e Equador não são efetivamente protegidos pelas estruturas de gestão de risco ambiental e social de 5 dos maiores bancos do planeta

Cinco dos principais bancos do mundo financiam empresas de petróleo e gás que operam na Amazônia e não têm uma política eficaz para proteger a floresta, de acordo com o relatório “Greenwashing na Amazônia”, lançado nesta terça-feira (11) pela organização Stand.earth e a Coordenadoria das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (COICA, na sigla em inglês).

Os autores examinaram 560 transações envolvendo atividades de petróleo e gás por 280 bancos nos últimos 20 anos na região utilizando o banco de dados Amazon Banks Database, da Stand.earth. Pelos dados publicados, cerca de 71% da Amazônia no Brasil, Peru, Colômbia e Equador não são efetivamente protegidos pelas estruturas de gestão de risco ambiental e social de Citibank, JPMorgan Chase, Itaú Unibanco, Santander e Bank of America. Isso significa que essas instituições deixam a maior parte do território amazônico vulnerável, sem gerenciamento de risco para mudanças climáticas, biodiversidade, cobertura florestal e direitos dos povos indígenas e das comunidades locais.

“Por meio de suas políticas enganosas e promessas vazias, esses bancos estão tentando fazer greenwashing da extração de petróleo e gás na Amazônia e obscurecer os impactos destrutivos de seus investimentos que devastam o ecossistema”, afirmouTodd Paglia, diretor executivo da Stand.earth, em comunicado. “Eles afirmam que estão preocupados com as mudanças climáticas, a biodiversidade e os povos indígenas, mas esses compromissos não significam nada até que os bancos parem de abastecer com bilhões de dólares a expansão brutal de petróleo e gás na região.”

Proteção da Amazônia

Além da falta de cobertura geográfica, o relatório revelou que 72% dos financiamentos de combustíveis fósseis são estruturados de forma a minimizar a identificação e a priorização de valores ambientais e sociais nas estruturas de gerenciamento de risco dos bancos.

O resultado, destacaram os autores, é que os processos de due diligence podem não identificar com precisão os riscos para as pessoas e a natureza, limitando-se a contribuir para a aplicação de mecanismos como exclusões e triagens, que são projetados para ajudar as instituições financeiras a tomar decisões de financiamento de projetos e clientes com base na possibilidade de impactos adversos.

Diante deste cenário, a recomendação da Stand.earth e da COICA é que os bancos adotem uma política de exclusão geográfica que abranja todas as transações envolvendo o setor de petróleo e gás na Amazônia.

Isso é proposto como a única solução viável para proteger os cerca de 80% que ainda restam do bioma Amazônia, para evitar a perda de biodiversidade, mitigar as mudanças climáticas e defender os direitos dos povos indígenas e das comunidades locais.

Outras sugestões são para as instituições financeiras melhorarem suas políticas em geral, indo além do gerenciamento do risco de proteção e criando abordagens mais voltadas para o futuro e que valorizem os verdadeiros custos dos impactos adversos para as pessoas e a natureza, à medida que o mundo enfrenta a crise climática e de perda de biodiversidade.

Maiores financiadores de petróleo e gás

Segundo o relatório, os norte-americanos Citibank e JPMorgan Chase são os principais financiadores de combustíveis fósseis na floresta nos últimos 20 anos – eles disponibilizaram US$ 2,32 bilhões (R$ 12,4 bilhões) e US$ 2,25 bilhões (R$ 12 bilhões), respectivamente. Ambos, inclusive, aportaram dinheiro na empresa Hunt Oil, no Peru, parceira do projeto do gasoduto Camisea, que teria violado os direitos dos povos indígenas da Amazônia peruana.

O terceiro maior financiador é o brasileiro Itaú Unibanco. Segundo o relatório, a análise das transações financeiras capturadas na Amazon Banks Database revelou que 99% dos negócios da empresa relacionados a petróleo e gás na Amazônia no período analisado não se qualificam para revisão de acordo com os Princípios do Equador, embora estejam relacionados a grandes produtores, como Eneva, Frontera, Geopark, Petrobras, Petroquímica Comodoro Rivadavia e Transportadora de Gás do Peru.

O espanhol Santander ficou na quarta posição, tendo concedido quase US$ 1,4 bilhão (R$ 7,5 bilhões) em financiamento direto ao setor entre 2009 e 2023. Cerca de 85% de suas transações rastreadas diretamente para a Amazônia são para títulos sindicalizados, que carecem de transparência e controle a responsabilidade do banco como contribuição para impactos adversos, relatam Stand.earth e COICA.

O quinto da lista é o Bank of America. No ano passado, foi o financiador número um de petróleo e gás na Amazónia, com 99% das transações sob a forma de obrigações sindicadas e 95% para uso amplo dos recursos. Isso significa que essas transações não teriam necessariamente sido sujeitas a uma análise ESG reforçada.

O HSBC foi o único banco a apresentar um exemplo positivo de política. Em dezembro de 2022, assumiu o compromisso de parar de financiar petróleo e gás na região, sendo que no ano passado nenhuma transação foi registrada na base de dados Amazon Banks Database da Stand.earth.

Com informações de Um só Planeta / Globo.com