Público que foi ao Rock in Rio comemorou a volta da democracia (Foto: Reprodução / globoplay)

Há exatos 40 anos, em um terreno baldio de terra batida de 250 mil metros quadrados, no até então longínquo bairro de Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio, foi lançada a primeira edição do Rock in Rio.

O ano era 1985 e o Brasil comemorava a volta da democracia com a eleição de Tancredo Neves para presidente do país após anos de ditadura militar.

Mas para lançar a primeira edição em um país que nunca havia tido um evento de música desse porte, o empresário Roberto Medina precisou buscar ajuda lá fora, mais precisamente com o cantor Frank Sinatra.

Isso porque, desde que trouxe Sinatra para se apresentar no Maracanã em 1980, Medina conquistou a confiança do artista que o ajudou a dar o pontapé inicial para as grandes apresentações internacionais no país.

Assim que foi procurado por Medina, Sinatra reuniu boa parte da imprensa internacional para falar sobre o projeto ousado do empresário brasileiro no Rio de Janeiro e, no dia seguinte, contratos começaram a ser assinados.

Entre os dias 11 e 20 de janeiro, o Brasil e o mundo puderam acompanhar as apresentações dos maiores nomes da música brasileira e internacional.

O sucesso foi retumbante e o Rock in Rio foi comparado pela imprensa internacional com Woodstock (evento de música, marco da contracultura e da música que aconteceu em agosto de 1969 em uma fazenda, em Nova Iorque). Não só pela grandiosidade de público e dos nomes que se apresentaram por aqui, mas também pela lama que foi produzida com a chuva que caiu na Cidade do Rock, deixando o terreno semelhante ao evento icônico dos EUA.

Reunimos aqui lembranças do primeiro Rock in Rio que foram reproduzidas no documentário Rock in Rio – A História, disponível no globoplay, e também muitas histórias dos bastidores, como a de Freddie Mercury, líder do Queen, que, após um ataque de estrelismo, foi xingado de “bicha” pelos artistas e técnicos brasileiros nos camarins.

A volta da democracia

Depois de 21 anos de regime militar, a volta das eleições diretas marcou o rompimento da ditadura e Tancredo Neves foi eleito presidente do Brasil no dia 15 de janeiro de 1985, em pleno Rock in Rio. O público compareceu ao evento levando a bandeira do Brasil e vibrando com a volta da democracia.

No show do Barão Vermelho, Cazuza cantou fervorosamente “Pro Dia Nascer Feliz”, em homenagem ao momento político do país.

Tamanho do palco impressiona

Um palco da magnitude que foi o do Rock in Rio nunca havia existido no Brasil e, segundo um Caetano Veloso despojado de shortinho, no exterior, ele também nunca tinha visto nada igual.

Pena de ave sagrada dos índios brasileiros

Kadu Moliterno comandou a abertura do Rock in Rio no dia 11 de janeiro de 1985, uma sexta-feira. Ney Matogrosso foi a primeira atração.

Para seu show, o cantor entrou no palco de forma suntuosa, com uma tanguinha, o corpo coberto de purpurina, maquiagem carregada e, na cabeça, penas da asa de gavião-real, a ave sagrada para os índios brasileiros.

Ovos cozidos no palco

Mas a performance de Ney não agradou a todos. Neste dia, além dele, Erasmo Carlos, Baby & Pepeu Gomes, se apresentaram depois dos metaleiros Whitesnake e Iron Maiden. O público presente, ansioso pelo show dos gringos, jogou em Matogrosso ovos cozidos com casca. Ele, claro, revidou sem pestanejar.

Ataque de pedras

Mas não foi só Ney Matogrosso quem sofreu ataques no palco. Herbert Vianna, líder dos Paralamas do Sucesso, ficou inconformado com a forma que Eduardo Dusek e o Kid Abelha foram recebidos pelo público que os atacou com pedras. Herbert fez um discurso duro e contundente contra a atitude agressiva.

Repercussão internacional

O primeiro Rock in Rio virou notícia na imprensa internacional. A BBC de Londres comparou o nosso festival ao histórico Woodstock, que aconteceu em agosto de 1969, em uma fazenda, em Nova Iorque. Até hoje o festival é considerado um marco da contracultura e da música popular, e um dos maiores da história da música.

Freddie Mercury é xingado de ‘bicha’

O produtor Amin Khader contou que, quando chegou na ala dos camarins do Rock in Rio, Freddie Mercury, líder do Queen, queria transitar sozinho e mandou que todos esvaziassem o local. Sem ter seu pedido atendido, foi chamado de “bicha” em coro por artistas e técnicos dos músicos brasileiros.

Entrevista a Gloria Maria

Freddie Mercury também não mostrou simpatia ao ser entrevistado pela jornalista Gloria Maria e ainda disse que uma das perguntas formulada por ela soava melhor em inglês do que em português.

Ajuda de Frank Sinatra

A ideia de criar o Rock in Rio e trazer artistas internacionais só foi possível com a ajudinha de ninguém menos que Frank Sinatra. Diante da dificuldade de trazer astros para o festival, Roberto Medina procurou o cantor e pediu um help.

Foi o empresário quem havia trazido Sinatra para um show inesquecível no Maracanã, no dia 26 de janeiro de 1980. Confiante no projeto de Medina, Sinatra convocou a imprensa americana, divulgou o que seria o festival no Brasil e, no dia seguinte, os contratos das bandas brotaram como água na mesa de Roberto Medina.

A lama

Na semana que antecedeu o primeiro Rock in Rio, uma chuva pesada caiu na cidade. O lamaçal tomou conta da Cidade do Rock e virou um ícone do festival. A lama de 85 foi tão simbólica que, anos depois, chegou a ser comercializada pelo festival como um item de colecionador.

Com informações do gshow