Com apenas dois exemplares vivos de sua espécie – duas fêmeas estéreis -, a extinção do rinoceronte-branco-do-norte já era dada praticamente como certa. Não mais: uma equipe de cientistas internacionais conseguiu cultivar um embrião de rinocerante, criado através de inseminação artificial, numa mãe de aluguel. O experimento pode ser a salvação da espécie.
Essa foi a primeira transferência bem-sucedida de embriões para uma mãe de aluguel feita em paquidermes, explicaram os participantes do programa científico BioRescue ao apresentar os resultados nesta quarta-feira (24) em Berlim.
“Juntos alcançamos algo que jamais imaginamos ser possível “, disse o veterinário e líder de projeto Thomas Hildebrandt. A ciência, segundo ele, está agora muito mais perto “do sonho de criar uma população saudável e geneticamente estável de rinocerontes-brancos-do-norte”.
Apontada pelos pesquisadores como um “avanço científico”, a transferência de embriões tem o potencial de preservar também outras espécies ameaçadas.
Testes iniciais com subespécies do sul
O embrião foi criado num laboratório de reprodução italiano através de inseminação artificial e inserido na mãe de aluguel no Quênia em setembro do ano passado.
A gravidez foi bem-sucedida, mas a rinoceronte grávida acabou morrendo em decorrência de uma infecção – e, com ela, o feto de 70 dias. “Ainda estava muito longe do nascimento, por isso não pôde ser salvo”, disse Susanne Holtze, do IZW (Instituto Leibniz de Pesquisa em Zoológicos e Vida Selvagem), responsável pelo projeto. A gestação completa de rinocerontes dura cerca de 16 meses.
Embora o embrião fosse de um rinoceronte-branco-do-sul, relativamente mais comum, o mesmo método poderá ser usado no futuro para produzir espécimes da subespécie do norte, anunciaram os pesquisadores.
A estratégia de testar o método primeiramente nas subespécies do sul busca salvar os valiosos embriões das subespécies do norte para experiências posteriores, que devem acontecer numa próxima etapa.
Uma espécie em vias de extinção
O rinoceronte-branco-do-norte é considerado o mamífero de grande porte mais raro do mundo, com apenas dois exemplares remanescentes – duas fêmeas estéreis, de 23 e 33 anos, que vivem no Quênia. Considerando a expectativa de vida entre 40 e 45 anos, pode-se dizer que o fim da subespécie está muito próximo.
Isso se os pesquisadores não tivessem salvado espermatozoides de espécimes masculinos, usados então para fertilizar os óvulos das fêmeas mais jovens. A ideia do projeto é que os embriões resultantes sejam posteriormente gestados por uma mãe de aluguel da subespécie do sul.
A previsão é que esta nova fase comece em maio ou junho deste ano, disse Hildebrandt. Para isso, foram criados 30 embriões de rinoceronte-branco-do-norte, que estão congelados desde 2019. No entanto, ainda pode levar anos até um nascimento bem-sucedido.
Se e quando isso acontecer, o plano é que os jovens animais sejam levados para perto das duas fêmeas de rinocerontes restantes, Najin e Fatu, na reserva Ol Pejeta, no Quênia, onde elas são cuidadas e monitoradas dia e noite.
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