Foto: João Viana / Semcom

Todo o conjunto flutuante decorrente do porto de Manaus e conhecido como “roadway” desde os ingleses na Amazônia, assim como os prédios onde funcionava a administração portuária, é tombado como patrimônio histórico nacional. E nesta segunda-feira, 7/8, foi reinaugurado um dos casarios desse conjunto, no número 13 da travessa Vivaldo Lima, a sede do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), no Centro, representante do período de luxo e riqueza vivido por Manaus durante a fase áurea da borracha (1890 a 1910).

A reinauguração contou com a posse da nova superintendente regional, a historiadora Beatriz Calheiro, e com a presença do presidente do Iphan de Brasília, Leandro Grass, e diversas autoridades municipais, estaduais, federais e de entidades ligadas à cultura, ao patrimônio e à preservação.

A Prefeitura de Manaus, via Instituto Municipal de Planejamento Urbano (Implurb), é parte integrante das ações do Iphan-AM na reabilitação do centro histórico da capital, com trabalhos conjuntos de salvaguarda do patrimônio, desde projetos de revitalização até fiscalização, além de trabalho gerencial, interinstitucional e multidisciplinar, voltado para às comunidades e preservação dos monumentos tombados na capital do Estado.

“Esse lugar tem relação com a identidade amazônica, de valorização do patrimônio imaterial, do arqueológico, mas, acima de tudo, do nosso povo se ver, se ver na história, reconhecer aqui o nosso legado, tanto daqueles que trabalharam para desenvolver a nossa cultura quanto para garantir que futuras gerações possam valorizar a história do nosso Estado. O Iphan-AM tem o papel de ajudar nesse fomento, nessa valorização, e tem seus parceiros próximos, como o Implurb”, comentou Beatriz.

Ainda sobre a parceria, a superintendente afirmou ter certeza de que a gestão compartilhada é que pode garantir a valorização do patrimônio histórico do Amazonas. “Sem dúvida, Manaus tem um papel fundamental nisso e o município tem sido parceiro, desde a fiscalização até mesmo na ação de projetos. Temos um acordo de cooperação técnica que possibilita o intercâmbio entre as nossas partes técnicas. E a garantia de que esse patrimônio, de fato, vai poder ser pensado e que a gente não vai fazer isso de forma isolada, vai fazer de forma parceira, fortalecendo o trabalho dessas organizações”, ressaltou.

O vice-presidente do Implurb, arquiteto e urbanista Claudemir Andrade, lembrou que este momento é importante para dar ainda mais visibilidade ao trabalho da gestão David Almeida, como o de reabilitação proposto pelo programa “Nosso Centro”.

“E é fundamental ter um instituto com um novo governo iniciando, que é do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e onde você tem o governo federal alinhado também com a importância que tem o nosso centro histórico. Nosso interesse é conjunto e estamos alinhados com os projetos e os programas, de maneira a transformar a cidade, de revitalizar o território, de trazer a história e memória de volta, com êxito nas intervenções”, afirmou Claudemir.

Para ele, a parceria não acontece se as instituições não estiverem devidamente alinhadas. “E temos a alegria da recuperação de uma unidade histórica, como é a sede do Iphan. Passou por uma reforma, momentos delicados em relação a recursos, mas finalmente temos seu retorno, deste prédio belíssimo que Manaus tem, e que passará a ser aberta e disponível para a população”, salientou o vice-presidente do Implurb.

Foto: João Viana / Semcom

Durante um discurso intenso e com foco na Amazônia e patrimônio, que tem como prioridade os povos indígenas e de matriz africana, o presidente do Iphan nacional, Leandro Grass, agradeceu a todos os servidores do órgão no Amazonas que ajudaram a evitar que o prédio fosse interditado definitivamente e que pudesse, hoje, reabrir suas portas.

“Se existem políticas e ações do patrimônio cultural nesse momento, foi porque esses servidores conseguiram resistir, conseguiram sustentar minimamente aquilo que era possível. E quero agradecer a Beatriz, que não poderia ser outra melhor para estar aqui, escolhida, que tem formação, competência, representatividade. Alguém que é fundamental para este resgate das políticas públicas do Brasil. Destruir as coisas é muito fácil. Assinar um papel, fazer um decreto, desfazendo, cortando, reduzindo, diminuindo, é muito fácil. Isso é para os covardes. Agora reconstruir, colocar de pé de novo, revitalizar, restaurar, não é para todo mundo. Todos vocês que estão aqui são parte desta reconstrução”, afirmou o presidente.

Grass adiantou que a região amazônica é prioridade no diálogo nacional para pactuar ações dos bens de toda a sociedade. “E não há política no patrimônio cultural sem a política colaborativa com a prefeitura, com o governo estadual e com o Iphan, além da sociedade. Quero parabenizar a Prefeitura de Manaus pelo programa ‘Nosso Centro’, estivemos em Brasília discutindo o plano urbano e tenho certeza de que vai ser bem-sucedido”, afirmou.

Visita

O presidente do Iphan de Brasília, Leandro Grass, está na capital amazonense para agenda que prevê visita às obras do poder público municipal, do programa “Nosso Centro”, lançado em 2021 pelo prefeito David Almeida, com as intervenções no mirante Lúcia Almeida, casarão Thiago de Mello e largo de São Vicente.

Após o tour pelas obras, agendado para às 9h, Grass e equipe tem encontro marcado com órgãos e secretarias municipais relacionadas ao “Nosso Centro”, com coordenação do Instituto Municipal de Planejamento Urbano (Implurb). A reunião acontece no Casarão da Inovação Cassina, no Centro.

Para o diretor-presidente da autarquia, Carlos Valente, a vinda do presidente do Iphan reforça a importância que a gestão do prefeito está dando à área central da capital, com visitações e apresentação dos projetos com foco na área do patrimônio histórico, artístico e cultural da cidade.

“É fundamental criar mais vida e vivência na região central, que passa por revitalização, que é uma área bonita e bastante interessante arquitetonicamente e urbanisticamente, além de toda história que contempla. E temos o interesse do Iphan no programa e uma série de propostas e planos da prefeitura foram apresentados ao governo federal para somar esforços na reabilitação e renovação”, destacou o gestor do Implurb.

Sede reaberta

A sede do Iphan-AM foi construída em 1870 e usada inicialmente como residência nos pavimentos superiores e oficina mecânica e fundição a vapor, no térreo. Ela tem características gerais da arquitetura eclética que marcou, de uma forma geral, a arquitetura brasileira e em especial, a manauara, entre as últimas décadas do século 19 e as primeiras do século 20. A edificação tem arquitetura influenciada pelo modelo de chalés, muito em voga no final do século 19.

Foto: João Viana / Semcom

 

Em 1987, o edifício passou a sediar o Iphan-AM. Mesmo não sendo tombado individualmente, o imóvel localiza-se em área tombada, definida pelo Iphan (notificação publicada no Diário Oficial da União nº 222, seção 3, de 22/11/2010).