O prédio de 500 metros de altura que promete ser o mais alto residencial do mundo em Balneário Camboriú, em Santa Catarina, terá um sistema para amenizar a força dos ventos na estrutura. O modelo é composto por dois pêndulos de 1.000 toneladas cada um, localizados no 140º andar do prédio.
Vai ser a primeira vez na América Latina que será utilizada a técnica conhecia como TMD (tuned mass damper, ou amortecedores de massa sintonizados), segundo a construtora FG, que está à frente da obra do Senna Tower. Quando concluído, será o maior residencial e o sexto mais alto no mundo, segundo a CTBUH (Council on Tall Buildings and Urban Habitat).
O mecanismo opera como um sistema de contrapeso que “oscila em oposição à frequência natural da estrutura, absorvendo e dissipando a energia que causaria oscilações prejudiciais”, disse a engenheira responsável pela obra e diretora-executiva da FG Talls, Stéphane Domeneghini. Ou seja, caso o vento sopre de um lado, o sistema vai oscilar em direção oposta.
Os pêndulos garantem maior estabilidade à estrutura, conforto para os moradores do edifício e previne danos estruturais ao longo do tempo. Outros arranha-céus no mundo utilizam o sistema, como o Taipei 101, em Taiwan e o Shangai Tower, na China. A ideia é permitir visitação do público ao sistema, da mesma maneira que ocorre no Taipei 101.
“Edifícios superaltos são particularmente suscetíveis a movimentos excessivos. Os ocupantes, especialmente aqueles nos andares superiores, podem sentir o movimento do edifício, o que frequentemente causa desconforto. Amortecedores de massa sintonizados são um método especialmente eficaz para mitigar esse movimento e restaurar o conforto dos ocupantes —e isso já foi comprovado”, diz Domeneghini.
O sistema de pêndulos será produzido parcialmente no Brasil e somente elementos específicos serão importados, a partir do detalhamento do projeto. Ainda segundo a construtora, o uso da tecnologia foi indicada em projeto pela Motioneering, empresa referência no mundo desse tipo de sistemas.
Hoje há três formas para mitigar a ação dos ventos em grandes construções, conforme o diretor do Laboratório de Aerodinâmica das Construções da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Acir Mércio Loredo-Souza. Uma delas é o uso desses amortecedores de massa sintonizados.
Também é possível modificar a forma da edificação, como ocorreu no Burj Khalifa, o mais alto do mundo, com 828 metros, que tem formato de escada, com a base mais larga em relação ao topo.
Por último, são utilizados elementos estruturais para dar mais rigidez ao prédio. Um deles é o outriggers que, como vantagem, enrijece a estrutura sem aumentar tanto a massa da edificação.
“A gente coloca vigas, elementos estruturais conectando bem solidamente esse núcleo rígido —onde ficam as escadas e elevadores— à estrutura externa do prédio, em alguns pavimentos”, explica o professor da Ufrgs.
No caso do Senna Tower, esses outriggers vão ficar distribuídos ao longo dos 500 metros de altura, nos 11º, 33º, 58º, 83º, 108º andares. “São como ‘cintos’ de concreto nesse andar que dão um travamento adicional à estrutura e melhora o comportamento estrutural, fundamental para controlar as oscilações também”, diz a engenheira responsável pela obra.
Para suportar todo esse peso, serão necessárias fundações de mais de 40 metros de profundidade, equivalente a um prédio de 13 andares.
Até então, os arranhas-céus construídos na área conhecida por “barra Sul” em Balneário Camboriú têm fundações de pouco mais de 30 metros de profundidade, diz Silvia Santos, professora da Univali e engenheira civil. Será preciso inclusive usar gelo para resfriar o concreto, o que não é comum em prédios menores.
“O resfriamento ocorre quando a massa de concreto é muito grande, porque você tem um volume muito grande e pouca área externa para a troca de calor. Então a parte interna se aquece muito e, se passa de determinadas temperaturas da parte interna com a externa, o concreto começa a sofrer e não vai chegar na qualidade que se deseja”, explica o professor de estruturas da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), Roberto Pinto.
Para a obra, a construtora projeta a geração de 3.000 empregos diretos ou indiretos.
Como contrapartida foram pagos cerca de R$ 150 milhões em outorgas, segundo a FG. O valor corresponde a 5% do investimento total na obra.
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