As praias do litoral sul de Pernambuco, conhecidas por suas águas cristalinas, recebem um grande fluxo de turistas de todo o Brasil, que se concentram, sobretudo, nas praias de Tamandaré e Porto de Galinhas. Essas águas estão contaminadas por microplástico, aponta um estudo do Instituto Avançado de Tecnologia e Inovação (Iati).
Uma terceira praia, a do Paiva, que fica no município do Cabo de Santo Agostinho, a 32 km do Recife, apresentou 695 fragmentos por amostra de 200 ml de sedimento. Em Porto de Galinhas, uma das praias mais famosas do Brasil, foram 320 fragmentos por amostra. E Tamandaré registrou 300 fragmentos por amostra analisada.
Imagine que em um copo tipo americano, com capacidade para 200 ml de areia, foram encontradas 300 partículas de microplástico. Segundo o pesquisador Múcio Banja, “o microplástico chega às praias por meio das correntes dos rios, que deságuam nas praias. Isso explica a alta contaminação encontrada na praia do Paiva, que não tem fluxo intenso de pessoas”.
Assinam o estudo o pesquisador e professor da UPE (Universidade de Pernambuco) Múcio Banja e a pesquisadora Jéssica Mendes, também ligada à UPE. A coleta das amostras teve início em 2022. Os resultados revelaram a presença de 1.406 partículas de microplásticos nas amostras analisadas, com destaque para o nylon azul, que representou 63% do total. Todas as praias estudadas apresentaram registros desses micropoluentes, sendo a do Paiva a mais afetada.
Jéssica explica que esse tipo de microplástico tem origem na água descartada no processo de lavagem de roupas. “Se fosse microplástico proveniente do turismo, encontraríamos fragmentos de garrafa pet, por exemplo”, compara. A pesquisa também buscou correlacionar a presença de microplásticos com fatores como ação das correntes marinhas e influência dos rios como o Jaboatão, no Paiva, e o Tatuoca, na praia de Suape.
Os resultados indicaram uma associação direta entre a presença de microplásticos e a dinâmica costeira, destacando a praia do Paiva como uma área especialmente sensível aos impactos antrópicos (ações realizadas pelo homem).
Diversos estudos já identificaram a presença de microplástico no leite materno, no intestino e até nas fezes humanas. De acordo com Jéssica, os estudos ainda não avançaram para a fase de diagnóstico das consequências dessa contaminação. “A comprovação dos impactos que essa substância pode causar à saúde ainda está em análise”, diz.
Banja observa que o microplástico pode chegar ao organismo dos peixes, dada a alta concentração encontrada, e, assim, atingir os seres humanos que consumirem esse tipo de alimento. “Há estudos que mostram como o microplástico circula pela corrente sanguínea, podendo causar problemas de má circulação”, explica.
