Marcello Di Gregorio, do Super Terminais, afirma que empresas estão trocando navios por balsas para conseguir transportar mercadorias
Os estoques das indústrias de Manaus conseguirão abastecer o Brasil na Black Friday, mas existe uma incerteza para o Natal em razão da seca extrema que prejudica o transporte de cargas pelos rios amazônicos, avalia Marcello Di Gregorio, diretor do Super Terminais.
O Super Terminais é um terminal portuário privado que opera na capital do Amazonas. Segundo Di Gregorio, a seca de proporções históricas está impedindo a chegada de navios a Manaus em razão das limitações de calado (parte das embarcações que fica submersa).
Assim, as empresas estão aderindo a balsas para fazer o translado das mercadorias. A questão é que as balsas conseguem transportar apenas 10% a 15% da capacidade de carga dos navios, afirma o empresário. Isso torna o transporte mais lento e encarece os custos de produção na indústria.
“A gente não recebe navios em Manaus há mais de 30 dias. Os estoques das fábricas, das indústrias, vão conseguir alimentar o Brasil, o varejo, o atacado, para a Black Friday, mas para o Natal a gente ainda não sabe como vai ser. É uma situação preocupante, sem dúvida”, declara Di Gregorio.
A Zona Franca de Manaus é conhecida por abrigar indústrias que fabricam produtos como motocicletas, aparelhos eletrônicos e eletrodomésticos, incluindo celulares, televisores e ar-condicionado.
Segundo Di Gregorio, empresas levaram em conta o histórico de pouca chuva na região em outros anos e reforçaram seus estoques para evitar o desabastecimento de insumos antes da Black Friday. O nível da estiagem deste ano, contudo, vem assustando a população local.
A seca provocou níveis mínimos históricos em pontos dos rios Negro, Solimões, Amazonas e Madeira, como mostrou a Folha. As conclusões são de dados compilados ou produzidos pelo Porto de Manaus, pelo SGB (Serviço Geológico do Brasil) e pela Defesa Civil do Amazonas.
Di Gregorio avalia que uma sinalização positiva é a volta da chuva nos últimos dias na região. “Dependendo da chuva, lá pelo dia 30 de novembro, ou na primeira semana de dezembro, a gente vai ter calado para começar a receber os navios”, projeta.
De acordo com Di Gregorio, os navios que chegam a Manaus necessitam de um calado de 8 a 12 metros, em média, enquanto as balsas contam com uma medida máxima de três metros.
Na quinta-feira (19), o Amazonas tinha 59 dos 62 municípios em situação de emergência em razão da seca, conforme boletim divulgado pelo governo estadual. Manaus estava nessa lista.
Além da dificuldade de transporte fluvial, a seca também provocou uma série de outros impactos na Amazônia. Morte de botos, isolamento de comunidades, falta de água, interrupção da produção de energia e problemas de saúde são exemplos dessas consequências.
“O que a gente precisa é planejar melhor, conversar com o poder público, conversar com os órgãos responsáveis, para conseguir mitigar esse problema e não deixar chegar a essa escala que está hoje”, afirma Di Gregorio.
Com informações da Folha de S.Paulo