A Polícia Federal em São Paulo queria iniciar uma operação contra fraudes em descontos de aposentados do INSS desde julho do ano passado, mas, por causa de uma orientação da PF e do Ministério Público em Brasília, ela só foi deflagrada em abril deste ano. A espera foi para conseguir apontar os servidores públicos e outros suspeitos de envolvimento no esquema que estavam espalhados por cinco estados.
Pedido de buscas já estava pronto em 2024. Documentos da investigação mostram que o pedido de buscas da PF em São Paulo estava pronto desde julho do ano passado. Contudo, ele não envolvia dirigentes do INSS. A PF foi procurada para comentar, mas não se pronunciou oficialmente.
Empresário e ‘Careca’ na mira da PF. Naquela época, a corporação focava em 22 pessoas físicas e jurídicas suspeitas de envolvimento em supostas fraudes perpetradas pela Ambec (Associação dos Aposentados Mutualistas para Benefício Coletivos), incluindo os empresários Maurício Camissotti e Antônio Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”. A Ambec e as defesas dos empresários negam irregularidades (veja o que dizem mais abaixo).
Juiz só autorizou medidas em dezembro. O documento da PF só foi protocolado no sistema da Justiça Federal em novembro. Em dezembro do ano passado, o juiz Massimo Palazzolo, da 4ª Vara Federal em São Paulo, autorizou as buscas. Ele precisou prorrogar os mandados por mais duas vezes, a pedido da PF em Brasília, até que fosse deflagrada a operação em todo o país, o que aconteceu somente em 23 de abril deste ano.
Demora envolveu PF e MPF. A espera para dar início à operação ocorreu devido a uma articulação nacional do MPF e da PF em Brasília. Os dois órgãos mantiveram contato ao longo do ano passado e avaliaram que, além das inúmeras denúncias de fraudes pelo país, seria necessário apurar a suspeita de envolvimento de dirigentes do INSS.
Pedido para a operação ser simultânea em vários estados. A preocupação era que, se fossem feitas operações separadas em cada estado, isso poderia prejudicar o todo da investigação, além de ocorrer vazamentos de informação e destruição de provas pelos suspeitos. Assim, ficou combinado que os juízes federais desses cinco estados aguardariam uma definição da 15ª Vara Federal em Brasília.
INSS ignorou alertas no ano passado. A cúpula do órgão ignorou seis alertas recebidos pela CGU (Controladoria-Geral da República), além de determinações do TCU (Tribunal de Contas da União) e de uma auditoria interna do INSS. A PF aponta, inclusive, que a direção do órgão teria agido para liberar descontos em folha logo após ter anunciado medidas para tornar mais rigoroso o procedimento.
Foro privilegiado
Menção a deputado estadual atrasou processo. Documentos mostram que a citação a um deputado estadual do Maranhão atrasou o caso. Ao identificar que Edson Cunha havia recebido R$ 5,4 milhões de uma das entidades citadas na investigação, a Justiça Federal decidiu remeter o processo para o Tribunal Regional Federal da 1ª Região.
