Plano Real: mesmo com legado positivo, a inflação ainda preocupa - Foto: Marcos Santos / USP Imagens

Depois de 30 anos do lançamento do Plano Real, os brasileiros continuam a expressar apoio ao programa de estabilização de preços de 1994, considerando-o um sucesso, embora reconheçam que a inflação permanece uma preocupação constante.

Essa é a conclusão da 15ª edição da pesquisa Observatório Febraban, conduzida pelo Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe). Realizada em dezembro, com a participação de 3 mil pessoas em todas as cinco regiões do país, a pesquisa aborda as perspectivas dos brasileiros em relação aos 30 anos do Plano Real e à inflação.

34% da população acredita que os brasileiros “continuam muito preocupados” com a inflação, enquanto 21% opinam que a inflação “deve ser uma preocupação permanente da sociedade e do governo”.

“O plano real foi certamente o acontecimento econômico mais importante dos últimos 30 anos. Depois de um período de 20 anos de inflação muito alta, ou seja, depois da economia convalescer de um período muito grande de alta desenfreada dos preços, o plano real foi bem-sucedido em estancar esse processo inflacionário”, defende Mauro Rochlin, economista e Coordenador Acadêmico FGV/MBA.

“A partir dessa estabilidade de preços, podemos pensar em investimento de longo prazo, em retorno do crédito, e pensar o país a partir de novas bases. Acho que a gente vive uma realidade de preços relativamente estáveis”, complementa. “Hoje podemos pensar em crédito de 30 anos, em financiamentos de longo prazo e isso abre uma possibilidade de se estabelecer um círculo virtuoso na economia. O plano real tem todo esse crédito e só merece elogios por conta disso”.

Além disso, 29% dos brasileiros consideram que o Plano Real “continua importante, pois lançou as bases para uma economia mais sólida e estável”. Aqueles que avaliam que “com a economia brasileira estável, a inflação deixou de ser uma preocupação prioritária” representam apenas 15%.

Inflação

Os dados da pesquisa indicam que cerca de metade dos brasileiros (47%) percebe atualmente uma inflação considerada alta ou muito alta no Brasil. Ao serem indagados sobre a taxa acumulada de inflação em 2023, um terço dos entrevistados (34%) acredita que é superior à realidade.

Por outro lado, um quarto (26%) menciona um intervalo entre “3% e 5%”, próximo à projeção mais recente do Boletim Focus para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgada pelo Banco Central e que se situa em 3,9%.

Na primeira divulgação do Boletim Focus de 2024, o mercado manteve inalteradas as suas projeções para a taxa Selic. A mediana permaneceu em 9,00% ao ano, comparando-se a semana atual com a anterior do encerramento de 2024. Há um mês, a expectativa era de 9,25% ao ano.

No relatório, a projeção para a Selic no fim de 2025 continuou em 8,50% ao ano, patamar em que já se encontrava em dezembro. Para 2026, a projeção também seguiu em 8,50%.

O Copom anunciou no começo de dezembro uma nova redução na taxa básica de juros, a Selic, de 12,25% ao ano para 11,75% ao ano. A taxa atingiu seu menor patamar desde março de 2022, quando estava fixada em 10,75% ao ano.

Copom

O Comitê de Política Monetária do Banco Central, Copom , é responsável por ajustar a cada 45 dias, decidindo sobre aumentos, reduções ou manutenção da Selic. O BC utiliza o sistema para influenciar o ritmo de crescimento e alcançar metas relacionadas à inflação, sendo a variável central da política monetária.

Quando a economia apresenta um desempenho fraco e não há riscos inflacionários, é possível reduzir a taxa de juros, estimulando o consumo e os investimentos da população.

“A resiliência do Plano Real deve-se a boa gestão da moeda feita pelo Banco Central do Brasil, mesmo com a má gestão econômica dos governos. É importante apontar que há um conflito constante entre o interesse dos governos, que é ganhar as eleições e permanecer no poder, e a gestão da estabilidade da moeda”, defende Renaldo Antonio Gonsalves , economista e professor do Departamento de Ciências Atuariais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

“Para que o Brasil tenha um ciclo sustentável de prosperidade é necessário um ambiente de baixa inflação (algo em torno de 1% ao ano), por um período longo (15 anos ou mais), com taxas de juros compatíveis com a baixa inflação. Taxas de juros baixas estimulam o investimento, elevam o nível de emprego, ampliam o consumo e melhoram a distribuição de renda”, complementa.

O Plano Real foi estabelecido de forma a estar ancorado em três pilares macroeconômicos: câmbio flutuante, orçamento público equilibrado e metas para controlar a inflação.

“As duas principais âncoras do plano Real são o câmbio e os juros. Esses instrumentos de política macroeconômica estão sob a gestão do Banco Central do Brasil, sendo assim, a escolha de bons gestores para essa instituição são de fundamental importância para a continuidade da estabilidade da moeda”, defende Renaldo.

“É possível afirmar que quase todos os governantes, após o Plano Real, buscaram maneiras de ampliar o gasto público com objetivo de permanecer no poder. Em dois momentos, da história recente do Brasil, a inflação atingiu dois dígitos, esse retorno ao passado gerou concentração de renda e destruiu o ambiente econômico. O desafio da estabilidade econômica é político. Isso significa que a população deve escolher governantes que não sejam populistas, e que o projeto de desenvolvimento econômico destes políticos inclua a baixa inflação como um dos pilares macroeconômicos”, finaliza.

*Com informações de IG