Foto: Mikhail Klimentyev / AFP

Um dia após a visita do chanceler russo, Serguei Lavrov, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o Kremlin elogiou o plano de paz sugerido pelo mandatário brasileiro. A Rússia disse que a proposta de Lula de criar um clube de mediação neutro para a guerra da Ucrânia merece atenção, já que leva em conta os interesses russos.

“Qualquer ideia que leve em conta os interesses da Rússia merece atenção e certamente precisa ser ouvida”, afirmou o porta-voz Dmitri Peskov sobre a ideia de Lula. Anteriormente, em fevereiro deste ano, o vice-chanceler Mikhail Galuzin já havia dito que o plano estava sob análise.

A visita de Lavrov ao Brasil foi marcada por críticas por parte do governo dos Estados Unidos a Lula. O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional norte-americano, Jack Kirby, afirmou que a posição do presidente brasileiro na guerra é “profundamente problemática” e que o mandatário estava repetindo a propaganda russa.

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, rebateu as críticas, dizendo que o Brasil “trata de paz”, não de guerra .

“Não sei como ou por que ele chegou a essa conclusão. Mas não concordo de forma alguma”, disse ele.

“O Brasil quer promover a paz , está pronto para se unir a um grupo de países que estejam dispostos a conversar sobre a paz”, acrescentou. “E essa foi a conversa que nós tivemos, foram os temas que abordamos. Ele [Lavrov] se ofereceu e eu me ofereci, em nome do Brasil, para promover essas conversas. Com o presidente também não se falou de guerra, e o presidente só reiterou o que ele tem dito, que o Brasil está disposto a cooperar com a paz.”

Embora tenha havido certo alinhamento com a Rússia, o governo brasileiro condenou em duas ocasiões a invasão em votações na Organização das Nações Unidas (ONU).

Críticas de Lula aos EUA e Ucrânia

A visita de Serguei ao Brasil ocorre em meio a um momento em que a postura do presidente brasileiro na política internacional tem despertado contrariedade nos Estados Unidos.

Durante viagem à China, na semana passada, Lula criticou os EUA pelo fornecimento de armas à Ucrânia e disse que o país precisa parar de incentivar a guerra, além de responsabilizar a Ucrânia pelo conflito.

Ao contrário de Lula , os Estados Unidos veem a Rússia como principal responsável pela guerra e, desde o início, comandam a imposição de sanções econômicas ao país comandado por Vladimir Putin.

Atualmente, China e Rússia são os dois principais rivais geopolíticos dos Estados Unidos. A China é forte aliada da Rússia e não condena, como o Ocidente, a invasão da Ucrânia.

Com o objetivo de criar um “clube da paz”, Lula vem defendendo perante a comunidade internacional a formação de um grupo de países neutros em relação à guerra. Na viagem à China e em conversa com Xi Jinping, ele enfatizou esse ponto. Para o brasileiro, a China exerceria um papel importante caso o mesmo fosse criado.

Plano de paz de Lula rejeitado pela Ucrânia
No início deste mês, a Ucrânia decidiu rejeitar uma sugestão feita por Lula ao anunciar que não vai desistir da Crimeia, península ucraniana anexada por Moscou ao território russo em 2014, em troca do fim da guerra.

“Não há razão legal, política ou moral que justifique o abandono de sequer um centímetro do território ucraniano”, escreveu o porta-voz da diplomacia ucraniana, Oleg Nikolenko. No entanto, ele garantiu apreciar “os esforços do presidente brasileiro para encontrar uma forma de deter a agressão russa”.

“Qualquer esforço de mediação para restaurar a paz na Ucrânia deve ser baseado no respeito pela soberania e plena integridade territorial da Ucrânia, de acordo com os princípios da Carta das Nações Unidas”, disse Nikolenko.