Foto: Marcello Casal JR / Agência Brasil

Um Pix de R$ 1,2 bilhão em dezembro do ano passado foi a transação de maior valor realizada por meio do serviço de pagamentos instantâneos do Banco Central entre 2020 e 2022, segundo dados divulgados pela autoridade monetária nesta segunda-feira (4).

A informação consta no relatório “gestão do Pix – concepção e primeiros anos de funcionamento 2020-2022”, que traz uma radiografia do meio de pagamento mais utilizado no Brasil.

Essa cifra, contudo, é exceção. O Pix tem sido utilizado principalmente para transferências de valores mais baixos. Segundo o documento, R$ 257 era o valor médio das transações entre pessoas físicas em dezembro de 2022.

Considerando todas as operações até o fim do ano passado, quase 61% delas foram inferiores a R$ 100. Nas transações cujos pagadores são pessoas físicas, 93,1% estavam abaixo de R$ 200.

“Já considerando transações apenas entre pessoas jurídicas privadas, ainda há certa concentração na faixa até R$ 500, porém já se nota uma contribuição maior de transações de valor mais elevado: 18,6% das transações têm valor a partir de R$ 2.000”, diz o documento.

Desde seu lançamento, em novembro de 2020, o Pix continua crescendo e, no dia 4 de agosto deste ano, registrou um novo recorde de operações: 142,4 milhões de transações em um único dia.

De acordo com a análise feita pela instituição, há maior movimento no período diurno e durante a semana. “De segunda a sexta-feira, a quantidade de transações Pix representou aproximadamente 77% do total de transações ocorridas entre novembro de 2020 e dezembro de 2022.”

“Em relação ao volume transacionado, houve crescimento nominal de 914% em 24 meses, chegando a R$ 1,2 trilhão em dezembro de 2022”, mostra o relatório. Em 2021, foram movimentados R$ 718 bilhões.

O BC considera que os casos de uso do Pix cresceram ainda mais no ano passado depois de a Receita Federal utilizar o meio de pagamento para restituir imposto de renda aos contribuintes e de a Justiça Eleitoral adotar o sistema para remunerar mesários que trabalharam durante as eleições.

Além disso, em 2022, o Tesouro Nacional começou a fazer pagamentos de salários aos servidores federais via Pix.

“Em relação às transações envolvendo governo, as quantidades corresponderam a apenas 0,1% da totalidade, e a 0,7% do volume financeiro total, em dezembro de 2022, mostrando que o Pix ainda tem espaço a crescer também nas transações envolvendo órgãos governamentais”, afirma o texto.

Até o fim do ano passado, 18.200 entes governamentais utilizaram o Pix para pagamentos e/ou recebimentos, pulverizados em todas as esferas.

O relatório do BC cita também um estudo independente, publicado pela ACI Worldwide –consultoria internacional que atua no setor de pagamentos–, sobre o efeito financeiro de soluções de pagamentos instantâneos.

A análise estima que “o Pix gerou, em 2021, uma economia de custos estimada em US$ 5,7 bilhões para empresas e consumidores, o que ajudou a gerar uma produção econômica adicional de US$ 5,5 bilhões, representando 0,34% do PIB brasileiro. As estimativas são que esses números alcancem US$ 37,9 bilhões e US$ 37,6 bilhões (2,08% do PIB) até 2026.”

Até o fim do ano passado, 133 milhões de pessoas físicas já tinham feito ou recebido pelo menos um Pix, o que equivale a 77% da população adulta. De acordo com o BC, a frequência de utilização é relevante em todas as regiões do Brasil, com destaque para Norte e Nordeste. Em agosto deste ano, esse dado já ultrapassou a marca de 144 milhões de usuários.

Desde que foi implementado, o sistema vem passando por uma série de aprimoramentos para trazer novas funcionalidades aos usuários.

Na agenda evolutiva, o BC trabalha no desenvolvimento do Pix Automático, modalidade que funcionará como um débito automático mediante autorização prévia do pagador. Ou seja, os brasileiros poderão quitar despesas recorrentes, como contas de água, luz e telefone, sem precisar autenticar cada transação. O lançamento da ferramenta está previsto para 2024.

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No relatório, o BC cita, entre as possibilidades de evolução do Pix, o uso de modelos que permitam que o pagador esteja sem conectividade à internet.

“O uso de novas tecnologias que tornam a experiência de pagamento ainda mais rápida pode ser benéfico principalmente em alguns casos de uso específicos, como pagamentos de pedágios em rodovias, estacionamentos e transporte público”, diz o texto.

O relatório menciona ainda que, no futuro, o Pix poderá permitir a integração com sistemas de pagamentos instantâneos internacionais, viabilizando a realização de transações com outros países, como remessas, pagamentos entre empresas e pagamentos de compras de bens e de serviços no exterior.

Em entrevista à Folha, em setembro do ano passado, Andrew McCormack, chefe do centro de inovação do BIS (Banco de Compensações Internacionais) em Singapura, afirmou que o Pix do Brasil está no topo da lista dos sistemas que poderiam se juntar ao Nexus, o “Pix global”.

Quanto ao aperfeiçoamento da segurança do sistema, polícias, Ministérios Públicos e outras autoridades de persecução penal podem consultar automaticamente, desde 1º de setembro, dados cadastrais, vinculados às chaves Pix, de usuários sob investigação.

O BC espera, assim, facilitar a identificação e eventual responsabilização de usuários que utilizaram o Pix para cometer crimes e, assim, auxiliar no combate e prevenção de fraudes e crimes cibernéticos.

*Com informações de Folha de São Paulo