A palmeira foi encontrada pela primeira vez em 2007 (Foto: Reprodução/Inpa)

Pesquisadores do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) participaram da descoberta de uma nova espécie de palmeira na Amazônia, do gênero Mauritiella, da família Arecaceae. As últimas descrições de palmeiras desse gênero havia sido em 1935.

A planta foi encontrada pelos pesquisadores pela primeira vez na BR-319, que liga Manaus a Porto Velho (RO), em 2007, durante um levantamento de inventários florísticos.

Características

De pequeno a médio porte, a nova palmeira denominada Mauritiella alcança até sete metros de altura, possui caule coberto de espinhos, folhas que seguem o modelo em leque (flabeliforme) e frutos ovais parecidos com os do buriti (gênero Mauritia, irmão de Mauritiella).

Não se tem relatos sobre formas de consumo do fruto, mas por ser muito similar às demais buritiranas e ao buriti é muito provável que seja consumido ou pelo menos adequado ao consumo humano.

Outro potencial da nova espécie é quanto ao uso no paisagismo: a inserção das folhas no caule é sempre no mesmo plano e em direções opostas, formando um padrão muito bonito e exclusivo desta espécie no gênero, uma das características que a distingue das outras espécies do gênero.

Descoberta

O trabalho com a nova descoberta foi publicado recentemente em artigo da revista da americana Systematic Botany. É assinado por cientista que passaram pelos cursos de Doutorado em Botânica e em Ecologia do Inpa, Eduardo Prata e Thaise Emilio, vinculados ao Laboratório de Ecologia e Evolução de Plantas da Amazônia (Labotam/Inpa), e Universidade de Campinas, respectivamente.

O pesquisador Mario Cohn-Haft (Coleção de Aves/Inpa) e outros 13 autores de instituições do Brasil, Suécia, Alemanha, Holanda, Camarões, França e Reino Unido também participaram da descoberta.

A primeira autoria é compartilhada por Eduardo Prata e Maria Fernanda Jiménez, do Gothenburg Global Biodiversity Centre e do Department of Biological and Environmental Sciences, University of Gothenburg, ambos na Suécia.

De acordo com Prata, o achado científico no bioma mais biodiverso do planeta revela o quanto ainda há para se conhecer na flora amazônica. Outro fator importante no caso da Mauritiella disticha é que ela facialmente diferenciada por conta de sua aparência.

“Isso reflete não apenas a elevada diversidade de espécies na Amazônia, como também o baixo número de taxonomistas e a escassez cada vez maior de recursos e investimento em pesquisa na região e no Brasil de uma maneira geral”, destacou o biólogo.

O pesquisador do Inpa, Mario Cohn-Haft, que participou da pesquisa auxiliando a coletar material útil para a descrição da espécie, fala da satisfação de se ter uma nova espécie descrita e das surpresas que a Amazônia reserva.

“Me deu muita satisfação ver a espécie descrita e reconhecida a importância das expedições que se fazem no Inpa, e a divulgação de uma espécie que exemplifica a maravilhosa diversidade biológica amazônica que continua a surpreender mesmo depois de tantos anos de pesquisas intensivas”.

O processo de descoberta e descrição da nova espécie foi demorado, levou quase 15 anos, e foi possível por meio de financiamento de trabalhos de campo e de laboratório, como análise de DNA.

O estudo envolveu uma equipe multidisciplinar e internacional, formada por ecólogos, botânicos, biogeografos e bioinformatas, que acessaram áreas remotas da floresta amazônica. A coleta de referência da espécie encontra-se depositada no Herbário do Inpa.

Perigo para a preservação

A espécie é conhecida na bacia do médio Madeira, na região da BR-319 a oeste do Rio Madeira, e na região do rio Aripuanã Transamazônica (Apuí), a leste, no Amazonas. É encontrada em campos abertos e florestas baixas em ecossistemas de areia branca – as campinas e campinaranas, incluindo florestas secundárias próximas a estradas.

Mesmo sendo recém-descoberta, a distribuição da espécie preocupa cientistas pelo fato de ocorrer em parte no Arco do Desmatamento, região sujeita à degradação por abertura de estradas, desmatamentos, queimadas e ocupação irregular por grileiros.

“Isso, somado ao fato da aparente baixa densidade populacional da espécie, nos levou a categorizá-la como Vulnerável, de acordo com os critérios da Lista de Espécies Ameaçadas da International Union (IUCN)”, explica a bióloga Thaise Emilio.

*Com g1