Uma pesquisa da Fiocruz alerta para a detecção de casos humanos de encefalite equina venezuelana no Amazonas. A doença é endêmica no norte da América do Sul e na América Central, com raros casos nos Estados Unidos. Três pessoas (dois homens e uma mulher) foram diagnosticadas na região do Alto Solimões, no Amazonas, em 2025. A descoberta foi feita a partir da detecção do material genético do vírus da encefalite equina venezuelana (VEEV) pela equipe do estudo FrontFever. No último dia 21, um artigo relatando as pesquisas que resultaram no diagnóstico foi publicado como pré-print para a comunidade científica. O monitoramento dos casos está sento feito no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).
O virologista Felipe Gomes Naveca, do Instituto Leônidas e Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia), explica que se trata da primeira detecção do vírus da encefalite equina venezuelana em residentes de Tabatinga (AM), região de tríplice fronteira com a Colômbia e o Peru. Os casos foram identificados por meio da tecnologia de PCR em tempo real, desenvolvida na Fiocruz, seguida da confirmação por sequenciamento genético. “Nossos achados identificam o VEEV como uma causa sub diagnosticada de doença febril aguda na Amazônia brasileira”, explica. A pesquisa é financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), por meio da Iniciativa Amazônia +10, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela Chamada Universal e do Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT-VER).
Por conta do compromisso da Fiocruz com a saúde pública, a informação sobre a detecção dos casos foi dada às autoridades de saúde em 31 de julho, sendo posteriormente emitido um alerta de risco pelas autoridades do município de Tabatinga. No último dia 14, durante o II Encontro da Rede Genômica da Fiocruz, o virologista citou a descoberta dos casos para reforçar a importância da vigilância genômica no enfrentamento de arbovírus e de outros vírus emergentes, reemergentes, ou negligenciados, que podem surgir especialmente nas regiões como a Amazônia.
A encefalite equina venezuelana é uma doença viral causada por um alphavirus transmitido por mosquitos que afeta humanos e equinos. A encefalite, uma inflamação do cérebro, pode deixar sequelas variadas, dependendo da gravidade da infecção e da área cerebral afetada. As sequelas podem ser motoras, cognitivas, comportamentais e emocionais, afetando a qualidade de vida do indivíduo. No entanto, felizmente, a maior parte dos casos transcorre como uma doença febril sem consequências graves. O genoma parcial do VEEV encontrado no estudo está disponível desde o dia 18 no GenBank.
Naveca, que é chefe do Laboratório de Arbovírus e Vírus Hemorrágicos do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e coordenador do Núcleo de Vigilância de Vírus Emergentes, Reemergentes ou Negligenciados da Fiocruz Amazônia, integra a Rede Genômica da Fundação. “A Rede foi criada inicialmente com o objetivo de liderar um esforço nacional de pesquisa buscando decodificar o genoma do Sars-CoV-2, causador da Covid-19, e acompanhar suas linhagens e mutações genéticas, ampliando agora sua atuação para outros vírus, como o da dengue, zika, chikungunya, oropouche, mayaro, entre outros”, explica. Por meio da Rede Genômica Fiocruz, especialistas de todas as unidades da Fundação no país e de institutos parceiros se empenham diariamente em gerar dados mais robustos sobre o comportamento dos vírus e contribuir para um melhor preparo do país no enfrentamento da pandemia em termos de diagnóstico mais precisos e vacinas eficazes.
O FrontFever
A detecção foi possível graças à atuação do projeto FrontFever, uma iniciativa voltada à vigilância de doenças febris agudas em regiões amazônicas de fronteira, que se caracterizam por intensa circulação de agentes infecciosos e alto risco de introdução de patógenos emergentes e negligenciados. O projeto desempenhou um papel central na investigação epidemiológica, realizando a coleta e análise laboratorial de amostras de pacientes com síndrome febril aguda inespecífica. O estudo contou com a participação de pesquisadores da Fundação de Medicina Tropical Dr Heitor Vieira Dourado e Programa VigiFronteiras-Brasil/Fiocruz, Instituto Leônidas e Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia), Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Fundação de Vigilância em Saúde Dra Rosemary Costa Pinto, Fiocruz Rondônia e Laboratório Central do Amazonas (Lacen-AM).
Com informações da Fiocruz Amazônia