Esqueleto de um espécime de Allosaurus de 150 milhões de anos que viveu na região que hoje é o estado de Wyoming, nos EUA - Foto: Charles Platiau / Reuters

Será que alguns dos maiores dinossauros carnívoros de todos os tempos “mordiam fofo”? Colocar as coisas nesses termos é, claro, um exagero, ainda mais falando de animais que pesavam toneladas, mas um novo estudo sugere que nem todos esses bichos tinham mordidas tão poderosas quanto as do famosíssimo Tyrannosaurus rex.

Enquanto o T. rex era capaz de esmagar os ossos de imensos herbívoros numa só bocada, outros predadores da Era dos Dinossauros tinham de se contentar com estratégias mais sutis no ataque, ainda que também conseguissem causar grande estrago em suas presas, de acordo com a pesquisa publicada no último dia 4 na revista especializada Current Biology.

O trabalho, assinado por Andre Rowe e Emily Rayfield, da Universidade de Bristol (Reino Unido), consiste numa análise biomecânica do crânio e da boca de 18 espécies de dinossauros carnívoros. Todos pertenciam ao grande grupo dos terópodes, em geral composto por predadores bípedes dos mais diversos tamanhos.

Por sua longa trajetória evolutiva, que durou bem mais de 100 milhões de anos, os terópodes se diversificaram em muitos subgrupos (tecnicamente, eles são os únicos dinossauros que sobrevivem até hoje, já que as aves atuais são terópodes). E, de forma independente, várias das linhagens do grupo atingiram grande tamanho e peso, aproximando-se do porte de espécies como o T. rex, com cerca de 12 metros de comprimento e mais de nove toneladas.

“O T. rex e seus parentes tinham crânios otimizados para forças de medida altas, o que tinha como custo um maior estresse sobre a estrutura do crânio”

Muitos desses predadores de grande porte não conviveram entre si, é claro, considerando as dezenas de milhões de anos de duração do reinado dos dinos na Terra e a sua distribuição geográfica por todos os continentes. Mesmo assim, seria de imaginar que a grande diversidade de espécies de carnívoros só fosse possível graças a diferenças de nicho ecológico entre elas.

Ou seja, nem todos os predadores deviam capturar as mesmas presas, do mesmo modo, ou não haveria “espaço” para todos nos ecossistemas de sua época, por causa da competição excessiva. E os estilos de mordida seriam um dos elementos por trás das diferentes capacidades de caça de cada espécie.

Para entender como cada dinossauro predador atuava durante a caça, Rowe e Rayfield usaram dados de crânios digitalizados em 3D das espécies para simular as forças que atuavam sobre mandíbulas, maxilares e o crânio como um todo durante as mordidas, numa metodologia conhecida como análise de elementos finitos. A ideia era verificar o tipo e a intensidade das mordidas e seus efeitos sobre o crânio dos animais, levando em conta o quanto os ossos poderiam aguentar nesse processo sem sofrerem fraturas, por exemplo.

“O T. rex e seus parentes tinham crânios otimizados para forças de medida altas, o que tinha como custo um maior estresse sobre a estrutura do crânio”, explicou Rowe em comunicado oficial. “Mas em outros animais de tamanho comparável, como o Giganotosaurus [achado na Argentina e com parentes no Brasil], calculamos a presença de uma mordida relativamente mais leve. Ficou claro como a evolução é capaz de produzir ‘soluções’ múltiplas para o estilo de vida de um bípede de grande porte.”

Para o pesquisador, alguns desses animais mordiam de um jeito mais parecido com o de um dragão-de-komodo atual, rasgando a carne e arrancando pedacinhos das presas –seria o caso do Allosaurus, que não passava dos dez metros de comprimento. Já os tiranossauros tinham como especialidade o esmagamento dos ossos das vítimas.

*Com informações de Folha de são Paulo