Tite Muller diz que evento é um marco na história do Brasil e que “não vai ganhar nenhum centavo por isso. É por amor, é por alívio”

Aos 36 anos, Titi Müller foi escolhida por Janja para apresentar o Festival do Futuro, hoje (1), dia da posse do presidente eleito Lula (PT). A apresentadora começou a trabalhar na TV em 2008, em programas como Acesso MTV e o MTV Sem Vergonha; e ao longo dos últimos anos, se destacou na cobertura de festivais de música no Multishow. Em 2017, no Lollapalooza, criticou as letras machistas do DJ Borgore ao vivo. E em 2019, no Rock in Rio, protagonizou o meme “o povo pedindo Anitta”, quando direcionou o microfone ao protesto do público contra o presidente Jair Bolsonaro (PL).

A seguir, o bate-papo de Titi com a Veja.

Como ocorreu o convite para apresentar o Festival do Futuro?
Janja entrou em contato comigo no último evento do PT no segundo turno, para ser apresentadora do último comício, só para convidados, em São Paulo. Não pude aceitar por razão de uma cláusula de contrato com a Globo (apenas para época de eleição). Quando começaram a sair os nomes do evento da posse, fui novamente convidada. Estarei lá ao lado de (humorista) Paulo Vieira.

O que significa participar da posse do Lula?
Esse evento é um marco na história do Brasil, na minha vida profissional e pessoal. Eu vou estar lá e não vou ganhar nenhum centavo por isso, nem eu, nem o Paulo, não vai ter cachê para a gente apresentar. É por amor, é por alívio!

O evento terá muitos significados, não?
Acho que vai ser um evento emblemático para o começo de uma cura desses últimos quatro, seis anos. Desde o golpe da Dilma, tudo o que o Brasil teve que passar. Um governo golpista, com ministros golpistas, depois a eleição do Bolsonaro, a prisão injusta do Lula… Vivemos um modo quase de negação, porque é tanta barbárie dita dia após dia. Tivemos que engolir a seco muita coisa para tentar manter o sorriso a nossos filhos, nossos colegas, diante desse governo genocida e corrupto que a gente teve.

Você nunca se importou de se posicionar na TV. Qual é o preço disso?
Eu fico muito grata, por todos os colegas que não se intimidaram e deram a cara a tapa e, assim como eu, não tiveram medo de perder seguidor. Fico honrada por ter sido, eu e o Paulo, as duas pessoas dentre tantas que tiveram essa coragem. Porque exige coragem para se expor e falar para um Brasil tão polarizado, de uma forma tão violenta.

Passou por alguma situação de intimidação pelo seu posicionamento política?
No cara a cara, os grandes disseminadores de ódio, valentões do teclado, ficam pequeninos e evitam até olhar. Sabem que se falarem qualquer coisa, vão levar resposta à altura. Trabalho a comunicação não-violenta com meu filho, amigos e namorado, mas minha tolerância ao intolerante é zero. A melhor resposta é o deboche.

Vai deixar que seu filho, Benjamin, de 2 anos, assista?
Olha, tenho certeza de que um dia meu filho vai olhar para mim e terá muito orgulho da mãe dele, que apresentou o Festival do Futuro no primeiro dia de governo do nosso presidente eleito, depois de quatro anos de um governo com uma pulsão de morte brutal, facista.

Destacaria um artista que transmite essa “virada de chave”?
A Pabllo Vittar, com certeza. Pela história, pela coragem, por tudo que representa a tanta gente. A existência de uma artista como Pabllo incomoda muita gente, e é um recado claro. Podem espernear o quanto quiserem, porque, parafraseando Pablo Neruda, ainda que cortem todas as flores, não podem impedir a chegada da primavera.

Já escolheu o look?
Vou usar Joulik, minha marca do coração e 100% brasileira. Dando um spoiler, é o Brasil que eu quero: vestidinho confortável, leve, com brilho, da cor da eleição que a gente teve. E colocarei um coturno. Não uso salto há anos, tenho um problema de coluna, mas fora isso, acho que salto é uma ferramenta de tortura muito eficiente do patriarcado e eu me recuso a usá-lo.

Com informações da Veja