Gil já visitou a basílica de Nossa Senhora Aparecida, no Brasil - Foto: Arquivo Pessoal

Um angolano de 59 anos, radicado em Portugal , chamado Carlos Gil, diz ser um “personal peregrino”, profissional que cumpre promessas religiosas em nome de outras pessoas.

Gil explica que os pagadores de promessas profissionais têm uma história que remonta a centenas de anos. Na vida religiosa medieval, desempenhavam um papel importante ao garantir o cumprimento de promessas feitas a santos e a Deus, mesmo quando os devotos originais não podiam fazê-lo pessoalmente. O trabalho era uma combinação complexa de devoção, resistência física e espiritual, e exercia uma influência significativa na dinâmica social e religiosa daquela época.

Quanto custa?

Gil cobra 2.500 euros (cerca de R$ 14 mil), para sair de Cascais e caminhar a pé os caminhos até santuários católicos, como o de Fátima, a 160 km de distância. O pagamento deve ser adiantado.

Para contratá-lo, o contato é feito pelo site dele. Segundo o personal, cada peregrinação é única.

Gil organiza seu próprio negócio. Apesar de ter um preço fixo de 2.500 euros para a peregrinação de Lisboa a Fátima, o custo de outras viagens é negociável. Ele já prestou serviços a clientes de várias nacionalidades e está aberto a explorar novos destinos. “Sim, pessoas de outros países podem entrar em contato comigo”, confirma.

Entretanto, o personal peregrino prefere manter em sigilo o número de clientes que já atendeu. Ele reconhece apenas que suas tarifas são altas e que sua clientela é financeiramente próspera. “Considero minha profissão a melhor do mundo”, declara.

Rotina

O peregrino afirma que não faz nenhuma preparação física ou mental antes das jornadas. “Não há uma preparação prévia”, diz.

“Gosto de começar cedo, paro várias vezes para rezar o terço, que pode ser numa capela ou num lugar bonito”, explica. Para a peregrinação, ele leva uma mochila com uma muda de roupa, produtos de higiene, um saco de dormir e um terço. “Rezo o terço para garantir a segurança e o bem-estar”, relata ao UOL.

“Para mim, peregrinar é uma coisa, pagar penitência é outra. Se me doem os pés ou os joelhos, eu paro, me sento, tiro as botas, estico os pés à sombra e descanso o tempo que for necessário. Minhas peregrinações são de reflexão”, acrescenta Gil.

O personal já esteve em vários países, como a basílica de Nossa Senhora Aparecida, no Brasil; o santuário de Nossa Senhora da Conceição da Muxima, em Angola; além de percorrer os caminhos de Santiago de Compostela, na Espanha.

Ele conta que a peregrinação na Angola foi bastante desafiadora, por ser um ambiente pós-guerra.

“Foi de certa forma feita de maneira inocente, pois não pensei nos riscos. Aconteceu-me, por exemplo, de repente no meio do mato ficar ‘envolvido’ por um enxame de abelhas, mas por milagre nenhuma me picou. Ainda hoje me lembro do barulho que faziam. Passei também por zonas minadas, o que deixou o trajeto ainda mais dificultoso e arriscado”, conta Gil ao UOL.

Ele relata ainda que geralmente leva até sete dias caminhando para percorrer os 165 quilômetros que separam Cascais do santuário de Fátima, percurso mais pedido a ele.

*Com informações de IG