Prestes a lançar o disco “Batidão Tropical Vol. 2”, Pabllo Vittar quer ver longe o furacão que há sete anos varreu sua vida e a transformou na drag queen mais famosa do Brasil.
“Não sinto falta daquele início explosivo. Foi divertido porque era tudo novo, mas eu tinha muito medo, ansiedade e receio. Não sabia direito o que esperar do futuro. Era meio que obrigada a fazer coisas. Agora já tenho 30 anos, então estou mais calma. Estou na minha melhor fase. A palavra é maturidade”, diz a artista por videoconferência.
Foi a partir desse sentimento de plenitude que Pabllo criou seu novo álbum, sequência do “Batidão Tropical” de 2021, no qual regravou canções de artistas do Norte e do Nordeste do país.
Na segunda parte, que chega às plataformas digitais nesta terça-feira, drag queen canta versões de faixas que ficaram populares nas vozes das paraenses Joelma, Mylla Karvalho e Gaby Amarantos. Há ainda regravações do grupo Rivelly, criado em 2006, também no Pará, e da banda Djavú, surgida em 2008 na Bahia.
O disco é uma desculpa para Pabllo homenagear as canções que escutava quando criança e popularizá-las no resto do país. A drag nasceu no Maranhão e cresceu no Pará.
“Ai Ai Ai Mega Príncipe” é um exemplo disso. Gravada primeiro pela Banda Batidão, a faixa encantou Pabllo porque era muito tocada pelas aparelhagens, tipo de festa eletrônica tradicional do Pará fundamental na disseminação do brega paraense e do tecnobrega.
“Eu não ia muito para as aparelhagens porque era criança. Mas eu lembro muito das músicas porque nosso único lazer era se juntar com os vizinhos para escutar por horas os CDs gravados nesses eventos. Tinha uma aparelhagem que era tão alta que o som chegava até na minha casa”, relembra a artista.
O refrão de “Ai Ai Ai Mega Príncipe” repete o verso “vou fazer o P”, espécie de lema usado por quem frequentou a aparelhagem Mega Príncipe Negro —mas desconhecido de muitos dos fãs da Pabllo. Ainda que a versão da drag não tenha furado sua bolha, ela discorda que o disco possa fracassar por soar muito regionalizado.
“É um conteúdo novo para muita gente, mas para outros é nostálgico. Eu cantei ‘Me Usa’ [regravação da banda Magníficos] num programa e, meu Deus, as senhorinhas da plateia choravam. Tenho certeza que elas já tiveram alguma história com essa música para terem cantado a plenos pulmões”, diz.
“Estou retomando esse público feminino. O ‘Batidão Tropical’ conversa muito com as mulheres. Tiro isso da minha família —minha mãe, minhas primas e minhas tias ouviam esse tipo de música, como as bandas de forró Limão com Mel e Calcinha Preta. Com o ‘Noitada’ eu não ia atingir esse público nem fodendo.”
A artista fala do seu disco mais recente, lançado há um ano, com o qual fez uma ode às pistas de dança, preenchendo as letras de desejo sexual. Foi feito por Pabllo no fervor do pós-pandemia, quando a drag estava sedenta pelos prazeres da noite.
O “Batidão Tropical”, por sua vez, nasceu enquanto ela estava trancada dentro de casa, e recorria às músicas da sua infância para lembrar de tempos sem coronavírus.
Apostando em músicas de um Brasil que não costuma atingir o topo das paradas, Pabllo vai na contramão da internacionalização que outras popstars do Brasil têm feito. A cantora Ludmilla, por exemplo, acaba de lançar “Piña Colada” com o colombiano Ryan Castro, enquanto se prepara para fazer show no festival americano Coachella, e Anitta, por sua vez, está prestes a lançar um disco de funk em inglês e espanhol.
“Estou bem desconectada do pop brasileiro. Às vezes vou me sentir contemplada, às vezes não, e tudo bem. Tenho escutado muito tecnobrega, forró e música eletrônica. Não deixa de ser pop, mas desviei meu olhar do que tem acontecido no pop atual”, diz a drag queen.
O “Batidão Tropical Vol. 2” abre com “Pra Te Esquecer” lançada em 2003 pela antiga banda de Joelma, que vive um novo auge após viralizar com “Voando pro Pará”, a música do tacacá. Circulavam rumores de que a cantora dividiria uma faixa com Pabllo no disco, o que não acontece. “Pode rolar ainda, eu já a convidei”, a drag se limita a dizer.
O ritmo cai e o disco segue com o forró para dançar coladinho “Pede Para Eu Ficar”, escrita por Pabllo, que usa sample de “Listen to Your Heart” do duo roqueiro sueco Roxette, famoso nos anos 1980 e 1990. O músico Per Gessle, parte da dupla, elogiou a versão da drag queen.
É um disco sobre histórias de amor cheias de sofrência e pegação. “Nossos corpos coladinhos/ suadinhos de prazer/ amor, me leva, faz de mim o que quiser/ me usa, me abusa”, canta Pabllo no refrão de “Me Usa”.
A voz de Gaby Amarantos surge em “Não Vou te Deixar”, canção sobre como é difícil ficar sem os beijos do amado. “A Gaby é nossa vencedora de Grammy paraense”, diz Pabllo, mencionando o troféu que a cantora ganhou no Grammy Latino no final do ano passado.
Amarantos representa uma geração de artistas que impulsionou o tecnobrega à fama nacional. Hoje Pabllo se mete nesse meio.
“O tecnobrega está para o Pará como o funk está para o Rio de Janeiro. O gênero já foi muito marginalizado, ainda é. Mas, graças a Deus, há artistas que levam esse som para outros lugares. Eu me sinto muito honrada de ser uma dessas pessoas.”
Quem também canta no disco é a cearense Taty Girl, que foi moradora de rua antes de fazer do forró sua profissão. Há ainda a participação do DJ paraense Will Love na faixa “Rubi”, da banda Ravelly.
Mas a grande diva de Pabllo é na verdade Mylla Karvalho, ex-vocalista do grupo Companhia do Calypso, que hoje é pastora evangélica e cantora gospel. Karvalho é a voz original de algumas faixas do primeiro “Batidão Tropical”, e lançou também “Nas Ondas do Rádio”, que agora ganha uma versão por Pabllo.
“Mylla não é da comunidade LGBTQIA+, mas sua força e seu estilo sempre me instigaram muito. Ela mudou a minha infância. Quando estou no palco, vejo muito dela em mim.”
O novo “Batidão Tropical” não vai sair completo. Três canções foram substituídas por falas de Pabllo, como áudios de WhatsApp, com menos de um minuto cada. A ideia, nas palavras da artista, é “ir degustando devagar o álbum, não se pode dar tudo”.
Se os fãs vão gostar disso ou não, ela não se importa. “Eles sempre reclamam, amor, sempre”, diz Pabllo Vittar, antes de soltar uma gargalhada.
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