Morador caminha em área seca de afluente do rio Negro, no município de Iranduba (Foto: Bruno Kelly / Reuters)

A seca no Amazonas resultou no aumento dos preços em São Gabriel da Cachoeira (AM), segundo contam moradores da cidade. Há poucos dias, uma cartela de ovos (com 30 unidades) custava R$ 45, e o acesso a alimentos foi racionado.

A seca histórica que atingiu o Amazonas causa dificuldade para a chegada de insumos. São Gabriel da Cachoeira fica a 850 quilômetros de Manaus e o acesso se dá apenas por barco —pelo rio Negro— ou avião. No dia 26 de outubro, o nível do rio chegou ao mais baixo registrado: 12,7 metros. No início de novembro começou a subir, mas a última medição registrada pelo Porto de Manaus, no dia 17, mostrou recuo no volume, com a calha a 12,96 metros.

“Tomamos um susto quando vimos que a cartela [de ovos, com 30 unidades] estava a cerca de R$ 45 [antes, custava entre R$ 22 e R$ 25]. Aqui, por exemplo, consumimos muito frango e os comerciantes estavam limitando a venda para tentar atender todo mundo”, conta Cleocimara Reis, 35, do povo piratapuya e coordenadora do departamento de mulheres indígenas da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro.

Barcos ainda enfrentam dificuldade para chegar com o abastecimento, diz Cleocimara. “O rio encheu um pouco, mas no canal da passagem dos barcos ainda está muito seco. Isso gera um impacto porque os preços das mercadorias acabam subindo bastante. Não sabemos se vai chegar mais comida”.

A seca extrema também trouxe problemas de luz. “Ficamos mais de 15 dias em racionamento de energia. Alguns dias tinha luz, outros não. Fizemos até manifestação porque algumas famílias começaram a perder comida. Sem energia, não tinha geladeira e os alimentos estragavam com o calor”, diz Cleocimara. Ela conta que seus três filhos adolescentes ficaram duas semanas sem ir à escola.

A Justiça do Amazonas determinou, no fim de outubro, que as empresas responsáveis garantissem o fornecimento no município, já que a “falta de abastecimento de energia regular na cidade causa lesão grave e de difícil reparação a direitos fundamentais dos cidadãos”, segundo decisão. “O racionamento melhorou, mas estamos preocupados porque o rio está enchendo devagar e a passagem ainda está muito seca”, relata Cleocimara.

“O rio ficou quente, não foi um verão normal. A água estava morna. A gente entrava no rio e não conseguia sentir aquele friozinho. O calor do sol estava muito quente e nossos parentes indígenas começaram a ir mais cedo para a roça e voltar às 10 horas porque não conseguiam ficar por lá muito tempo”, desabafa Cleocimara.

A plantação do ano também foi prejudicada. Devido ao calor extremo, muitos cultivos morreram. “Agora muitas pessoas estão tendo de replantar tudo novamente. A terra ficou bem seca a ponto de vermos a diferença nas plantas. As roças não conseguiam ser plantadas. Vamos enfrentar uma escassez porque nós indígenas sobrevivemos de farinha, beiju, e não teve cultivo”.

A situação levanta preocupação sobre os futuros períodos de seca na cidade. “Antes, foram as grandes enchentes, que alagaram as roças. Agora, o contrário. O que será que ainda vem pela frente? Como vamos enfrentar essas mudanças que estão acontecendo a cada ano?”

Problemas também em Manaus

Em Manaus, moradores também enfrentam dificuldades para sair e voltar às suas comunidades. Da Marina do Davi, principal terminal público da cidade, os passageiros têm de caminhar quase um quilômetro atravessando lama, bancos de areia e pontes precárias até chegar ao local onde aguardam os pequenos barcos que ainda conseguem fazer a travessia para as regiões de Igarapé, Tarumã Mirim, Praia da Lua e Praia do Tupé, segundo informações da Agência Brasil.

Com informações do Uol