Na última semana, comentaristas do cenário político e editoriais da mídia tradicional davam como certos o fim do governo Bolsonaro e a derrota do presidente nas eleições gerais de 2022. É de conhecimento público que ele não tem mais o discurso da nova política que tinha no combate à corrupção, um dos seus pilares, e que vem perdendo apoio de grupos sociais importantes que o elegeram, mas são precipitadas as afirmações de que o governo acabou, e de que Bolsonaro está praticamente fora da próxima eleição presidencial.

Em 2018, numa onda de indignação popular e de repulsa à política tradicional, Bolsonaro recebeu mais de 57 milhões de votos. À época, ele defendia o combate à corrupção, uma economia liberal, uma pauta dos costumes que envolvia a educação domiciliar, o fim da política do toma lá dá cá e o combate à ideologia de esquerda.

Com o início do seu governo e o desenvolvimento de suas relações políticas, o presidente esqueceu a pauta dos costumes, a agenda econômica, e promoveu acordos políticos tradicionais. Soma-se a isso, o desemprego crescente e as críticas sobre a falta de ações rápidas para o enfrentamento da pandemia que vitimou mais de 300 mil pessoas e deixou milhares de brasileiros com sequelas físicas e mentais.

Nesse período houve diversas trocas de ministros, entre elas, a mais incômoda foi a do ministro de defesa que, por consequência, levou à exoneração dos comandantes das Forças Armadas, o que ensejou inúmeros comentários sobre a instabilidade da democracia brasileira.

Imediatamente, diversos institutos de pesquisas de opiniões buscaram medir o cenário político atual. Um deles, o Datapoder, no dia 31/03, publicou seus dados. A desaprovação ao governo chegou a 59% da população e Bolsonaro teve rejeição de 53%. Esse mesmo Instituto, onze dias antes, já havia simulado uma pesquisa para 2022, na qual seria vencedor o ex-presidente Lula, nos dois turnos das eleições.

Há cada dia fraquezas do governo são expostas. No entanto, eles seguem com um razoável apoio popular e ainda com bastante força política. Isso é demonstrado na pesquisa do Datafolha de março que diz que, 50% da população é contra o impeachment de Bolsonaro e do Datapoder, no mesmo mês, demostrando que o governo ainda tem aprovação de 30% da população.

No plano político, o presidente da Câmara dos Deputados não quer o impeachment e até indicou uma parlamentar de sua confiança, para organizar a articulação política do governo com o parlamento federal. Bolsonaro colocou novos titulares nos ministérios da Saúde, da Justiça e das Relações Exteriores, buscando dar respostas às críticas sobre a situação da pandemia.

No âmbito econômico e social, o Banco Central faz uma projeção de crescimento do Produto Interno Bruto – PIB de 3,5%. O presidente tem apoio de empresários, de setores da segurança, religiosos, de uma militância, de eleitores cativos e o auxílio-emergencial começa a ser pago para 40 milhões de brasileiros.

Em períodos pré-eleitorais, outros governantes já passaram por queda na popularidade e conseguiram recuperação. A pesquisa CNI/Ibope, de dezembro de 2005, época escândalo do Mensalão, citava que 29 % da população aprovava o governo Lula e 52% não confiavam no ex-presidente. Lula tinha, inclusive, indicação de votos menor para presidente do que o tucano José Serra. O petista acabou sendo reeleito.

E, em 1998, a aprovação ao presidente Fernando Henrique Cardoso oscilava “entre 31% e 35% e a reprovação crescia de 21% para 25%”, mas foi reeleito. O governo Dilma, em 2014, não tinha mais que 31% de aprovação, mesmo assim ela venceu a eleição.

Dentro do cenário eleitoral, Bolsonaro pode anunciar sua candidatura. Partidos do Centrão já lhes fizeram convite de filiação. Mas outros postulantes terão que enfrentar decisões judiciais, como é o caso de Lula, ou convencer os presidentes dos seus partidos, como Luís Mandetta (DEM), João Dória (PSDB), Ciro Gomes (PDT). Sérgio Moro e Luciano Huck não têm partido.

Portanto, faltam 18 meses para as eleições gerais. Fenômenos políticos ainda vão acontecer. Não tem governo liquidado, candidaturas mortas e nem vencedores.

Por Carlos Santiago* – Sociólogo, Analista Político, Advogado e Membro da Academia de Letras e Culturas da Amazônia – ALCAMA.