Bruno Pereira e Irmã Dorothy Stang foram homenageados por pesquisadores com descobertas marcantes para a vida animal na Amazônia (Imagem: Arte / UOL)

Além de Bruno e Dorothy, reconhecidos por ampla defesa da vida na Amazônia, duas lideranças indígenas — Alessandra Munduruku e Neidinha Suruí— também foram homenageadas com nome de espécies. A quinta espécie homenageou a professora Kátia Pelegrino, que trabalha com pesquisa das espécies do gênero desde o começo dos anos 2000.

“Quando a gente começou a finalizar o artigo, no ano passado, o Brasil estava em um momento delicado para a conservação da Amazônia, com o assassinato recente do Bruno Pereira, níveis de desmatamento disparando, garimpo ilegal. A gente então entendeu que era um momento oportuno de homenagear essas pessoas”, explica Pedro Murilo Sales Nunes, do Departamento de Zoologia do Centro de Biociências da UFPE.

Conheça as espécies

Iphisa brunopereira – Vive oeste da Amazônia, nas margens do Rio Içá (AM), no interflúvio dos rios Napo e Putumayo, no Peru, e em planícies do Equador.

Iphisa dorothy – Encontrado na Amazônia oriental e central, ao sul do rio Amazonas, no interflúvio Purus-Madeira e Madeira-Tapajós, chegando às margens dos rios Aripuanã e Juruena.

Iphisa surui – Vive mais ao sul da Amazônia, em Mato Grosso e em Rondônia.

Iphisa munduruku – Vive Amazônia Central, nas margens do Rio Abacaxis.

Iphisa pellegrino – Habita a Amazônia central, ao sul do rio Amazonas, apenas no interflúvio dos Rios Purus e Madeira.

Como foi feita a descoberta

Pedro conta que na sua pesquisa de doutorado percebeu que existiam espécies sem nome. Em 2012, ele publicou um artigo após estudo genético e anatômico apontando que a espécie conhecida como Iphiza elegans eram, na verdade, cinco diferentes espécies.

“A gente fez esse comunicado à comunidade científica, de que a gente tinha uma diversidade maior que merecia nome. Mas naquele momento, a gente não tinha condição ainda de nomear porque precisava visitar, olhar mais material e os lagartos. Isso precisa de mais tempo e recursos”, argumenta Pedro Nunes.

Em 2017, Pedro passou a orientar a pesquisadora Anna Mello, que passou a estudar o material e separar essas espécies para nomeá-las. Ela defendeu o mestrado em 2019 na UFPE, e o artigo com os nomes e definições foi submetido para a revista no ano passado. “Agora que foi finalmente publicado”, explica.
Também assinam o artigo Anna Virginia Albano de Mello (doutoranda em Biologia Animal pela UFPE), Renato Recoder (pesquisador da USP), Antoine Fouquet (pesquisador do CNRS), e Miguel Trefaut Rodrigues (professor emérito da USP).

Sobre as espécies

As espécies do gênero são representadas por lagartos de pequeno porte. Um animal adulto tem, em média, 4 centímetros sem considerar a cauda, com escamas lisas e brilhantes. Eles vivem no chão, andando pelo folhiço da floresta.

Cada uma delas possui um conjunto de atributos exclusivos: diferem, por exemplo, nas características de escamas, órgão genital, poros no fêmur e genética.

“Com essa caracterização, aumentamos a percepção sobre o nível de ameaça a que cada uma delas está exposta”, alerta Nunes.

Com informações da coluna de Carlos Madeiro / Uol