No Santuário do Caraça, é como se os lobos-guará tivessem religião. Basta acabar a última missa do dia, por volta das 19h30, para que eles comecem a rondar a igrejinha dessa reserva no interior de Minas Gerais.
Os lobos sobem a antiga escadaria de pedras e se servem da comida deixada pelos funcionários. Enquanto isso, turistas reunidos em círculo os fotografam. Só mais tarde os bichos voltam para a escuridão da floresta.
A cena se repete quase todos os dias no santuário, que fica a 120 quilômetros de Belo Horizonte. É uma opção para quem quer se embrenhar no mato e esquecer a humanidade. Vale a viagem mesmo se o lobo-guará nem der as caras.
O Santuário do Caraça foi fundado em 1774 por um religioso português para ser uma hospedaria de peregrinos. Não teve muito sucesso em atrair colegas e, quando morreu, deixou o local para a coroa portuguesa.
Em 1820, houve uma outra tentativa de implantar um templo. Padres fundaram o Colégio do Caraça, que educava jovens na religião. A escola funcionou por mais de um século, até um incêndio destruir parte das instalações em 1968.
O santuário é hoje um hotel com capacidade para até 230 pessoas. Os quartos, de pé direito alto, são charmosos. Os tetos são decorados com entrelaçados de palha. Os pisos de madeira evocam histórias antigas.
O mais impressionante, porém, é a natureza. Ao redor do hotel há uma reserva de 12 mil hectares. A serra do Caraça —que dá o nome ao local— enfeita todo o horizonte. É como um rosto, daí “caraça” (cara grande).
Tamanha é a beleza da serra que o imperador dom Pedro 2º, que passou por ali em 1881, teria dito que “só o Caraça paga toda a viagem a Minas”. A frase, de impacto, aparece em todos os cantos do santuário e em seus folhetos informativos.
Para conferir se o monarca exagerou, é bom reservar a hospedagem com antecedência. O processo é difícil. Parece que nunca atendem o telefone. É preciso mandar um email —e torcer para alguém responder a tempo.
Os preços variam de acordo com a temporada. A reportagem pagou R$ 500 por um quarto espaçoso onde, dizem os funcionários, se hospedou a imperatriz Teresa Cristina, que acompanhou dom Pedro.
O valor inclui café da manhã, almoço e jantar. As refeições, preparadas em fogão a lenha, são um atrativo em si. Estão no cardápio coisas como pão de queijo, feijão tropeiro e doce de abóbora, tudo servido à vontade.
A viagem de carro de Belo Horizonte ao Santuário do Caraça leva pouco mais de duas horas. O local está no caminho de Ouro Preto, razão pela qual pode ser interessante misturar os dois destinos em um mesmo itinerário.
