O PT corre o risco de “cometer suicídio” se deixar a esquerda e rumar para o centro, como defendem alas do partido, e aceitar exigências do mercado para retirar direitos sociais para equilibrar as contas públicas. A opinião é da presidente do partido, a deputada federal Gleisi Hoffman (PR), em entrevista ao jornal O Globo.
Após sete anos como presidente do PT, Gleisi prepara o partido para escolher um novo presidente até meados de 2025. O favorito é o prefeito de Araraquara, Edinho Silva, que teria diálogo maior com o centro.
Para Gleisi, o PT deve fincar os pés na esquerda, no espectro política:
“O PT não serve para perpetuar as estruturas sociais, políticas e econômicas injustas e excludentes que marcam o país. É um partido de esquerda e assim deve continuar. Isso não impede que converse e faça alianças, como tem feito.” disse Gleisi Hoffman, presidente do PT, para O Globo.
“Não podem pedir que o PT se suicide”
A legenda já vem cedendo ao centro nessas alianças que costurou com sua ajuda, diz Gleisi. Um exemplo é o apoio ao governo Lula no Congresso.
“Diálogo político com o centro nós tivemos na campanha e ampliamos no governo. Já tentaram matar o PT e não conseguiram. Não podem pedir agora que o PT se suicide, rompendo com a base social que nos trouxe até aqui.”
“Conduzi o processo eleitoral de 2022 construindo uma aliança ampla, com 11 partidos. Teremos em 2026 um quadro muito semelhante, até porque o governo já está ampliado, com legendas que não apoiaram o Lula em 2022 e agora discutem o apoio para daqui a dois anos. Se elas não vierem por inteiro, pelo menos parte delas, ampliando a frente de 2022.” afirmou Gleisi Hoffman.
Pressão do mercado
Ela afirma que o partido deve resistir não apenas à pressão política, mas também à do mercado financeiro, que critica o corte de gastos divulgado recentemente pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
“Fazer um pacote de retirada de direitos como o mercado quer [levaria o PT a romper com a base social]. Ele está dizendo que as medidas são insuficientes. O que o mercado está pedindo é negar tudo aquilo que nós defendemos historicamente.”
“[Querem] Acabar com o aumento real do salário mínimo, desvincular o mínimo da aposentadoria e dos benefícios sociais, mexer nos pisos da Saúde e da Educação. Não querem fazer a votação da reforma da renda para dar isenção a quem ganha até R$ 5 mil.”
“Lula não é Biden”
Gleisi também defende que o presidente Lula tente a reeleição em 2026, embora ele não venha sendo categórico sobre sua intenção de se manter no poder.
“Ele é fundamental para ganharmos as eleições. Não vejo um outro nome com capacidade de disputa na sociedade brasileira”, afirmou, ao refutar a comparação de Lula, que terá 81 anos na próxima eleição, com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, de 82 anos, que não disputou a reeleição em razão da idade.
Quem conhece o Lula sabe que não tem nenhuma semelhança com o Biden. O Lula está bem disposto, é uma pessoa ativa. Nem pode trazer aquela avaliação para cá.
Para Lula vencer, no entanto, será necessário melhorar sua avaliação. “É preciso uma ofensiva do governo para mostrar o que está fazendo. Tem muita coisa positiva acontecendo, como crescimento do PIB, redução do desemprego, aumento da renda. Mas a sensação da sociedade, ou a construção dessa sensação, não reflete isso. Precisa de um empenho maior de comunicação e político”, disse.
Adversário é a extrema direita, liderada por Bolsonaro
Gleisi também defendeu mudar o artigo 142 da Constituição. O trecho, que determina que as Forças Armadas estão sob a autoridade do presidente da República, foi distorcido pela extrema-direita no governo Jair Bolsonaro (PL) para defender o uso militar para mantê-lo no cargo.
Ela também defendeu a punição de bolsonaristas que atentaram contra a democracia em 8 de janeiro de 2023. Alas conservadoras no Congresso tentam aprovar um projeto para anistiar os invasores dos prédios dos três Poderes.
“É o momento de arquivar o projeto de anistia e de mexer no artigo 142. Nunca podemos esquecer o passado. Nós fomos muito lenientes com a ditadura militar. As pessoas não foram punidas.”
“[O principal adversário do PT] É a extrema direita como um todo, mas ele [Bolsonaro] é a grande liderança. Acho que vai tentar se candidatar, está dizendo isso. Vai depender do fortalecimento das instâncias da democracia para não deixar isso acontecer.” afirmou Gleisi Hoffman.
Para fortalecer a luta antirracista e o combate à discriminação racial, o deputado estadual Roberto Cidade (UB), presidente da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam),...