Rhinoptera bonasus, espécie conhecida como raia-focinho-de-vaca, tem um sensível sistema sensorial em sua cauda - Foto: Reprodução / Citron / CC-BY-SA-3.0 via Wikimedia Commons

Especialistas da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, compartilharam suas conclusões sobre as estruturas caudais vistas na raia-focinho-de-vaca (cownose ray em inglês). Segundo os pesquisadores, a cauda do animal parece funcionar como um sistema de alerta precoce, em vez de uma arma defensiva.

Sistema sensorial é ‘antena’ contra predadores

Ao analisar o posicionamento da cauda da Rhinoptera bonasus, os especialistas concluíram que ela pode ter um papel sensorial. A estrutura da cauda teria o potencial de detectar predadores que se aproximam e fornecer “informações sobre o fluxo da água e a posição do próprio corpo”. Segundo o estudo, ao contrário da maioria dos peixes ósseos e dos tubarões, as raias desta espécie não usam a cauda como estrutura propulsora. O estudo foi publicado no periódico especializado Royal Society Publishing na última quarta-feira (22).

Os pesquisadores identificaram um “sistema mecanossensorial bem desenvolvido”, localizado ao longo das laterais da cauda. Uma ramificação de tubos cuja estrutura é “semelhante a uma árvore” tem tubos primários (os primeiros e maiores da estrutura) que se dividem em tubos secundários. Por sua vez, estes se dividem novamente em tubos terciários. De acordo com a pesquisa, os tubos seguem se dividindo até atingir o máximo de oito divisões. Os tubos se abrem para o meio ambiente por meio de poros, organizados em grupos na superfície da pele do animal.

Este conjunto de tubos se conecta ao sistema nervoso central da raia. As movimentações detectadas pela estrutura repassam ao animal eventuais estímulos subaquáticos, como movimentos de animais em um raio próximo, indicando a presença de possíveis presas e também de predadores em potencial.

“Uma rede altamente ramificada de tubos permite que um número maior de poros conecte os neuromastos [células sensoriais] à água circundante. O aumento do número de poros amplia a área capaz de detectar estímulos hidrodinâmicos, permitindo que a R. bonasus perceba os movimentos da água ao longo de toda a extensão de sua cauda.” afirma um trecho do estudo.

O estudo

A análise foi desenvolvida pelo Departamento de Biologia Organística e Evolutiva de Harvard. Júlia Chaumel e George V. Lauder assinam a pesquisa. Segundo os especialistas, a função da cauda de animais da ordem Myliobatiformes, que incluem as raias, é “desconhecida”. No estudo, Júlia e Lauder buscaram entender a anatomia e o uso da cauda da Rhinoptera bonasus a partir de imagens de tridimensionais via tomografias.

A pesquisa envolveu oito espécimes de raia-focinho-de-vaca. Entre os animais analisados, havia machos e fêmeas de tamanhos variados. “O tamanho dos animais foi definido pela largura do disco, descrita como a distância entre as pontas das nadadeiras peitorais”, explica o estudo. Para estabelecer a morfometria e realizar comparações, os especialistas utilizaram outros seis espécimes da coleção de ictiologia (ramo da zoologia voltado ao estudo dos peixes) do Museu de Zoologia Comparada da universidade.

“Para histologia em escala fina, dois espécimes frescos foram obtidos do Aquário Ripley, onde as caudas foram coletadas imediatamente após a morte natural do animal, e da pesquisa GULFSPAN, onde o animal foi sacrificado seguindo o procedimento ético sob a Licença de Pesca e Vida Selvagem dos EUA.” afirma um trecho do estudo publicado no Royal Society Publishing.

Imagens computadorizadas indicam a presença de ramificações na cauda da raia-focinho-de-vaca (Rhinoptera bonasus) – Foto: Dovilgação / The Royal Society Publishing

As raias fazem parte dos batoides, o maior grupo de peixes cartilaginosos. Elas têm um corpo triangular com nadadeiras peitorais alargadas, que oscilam de forma vertical para mover o animal para frente. Segundo os especialistas, essa movimentação permite que as raias consigam nadar em diferentes velocidades e migrar longas distâncias. “A sua adaptação a um estilo de vida pelágico [afastado da profundidade] reflete-se na sua morfologia corporal distinta, estilo de locomoção e na forma como interagem e sentem o seu ambiente”, relata a pesquisa.

O estudo estabelece novas bases para futuras pesquisas relacionadas à função da cauda de diferentes espécies de raias. As descobertas realizadas pelos pesquisadores de Harvard podem auxiliar os biólogos na análise da anatomia, do comportamento e da biomecânica da cauda de demais espécies dentro da ordem Myliobatiformes, buscando compreender se elas usam para locomoção ou como “antenas” marítimas.

*Com informações de Uol