Nas conversas que manteve por WhatsApp com o ex-secretário de Comunicação Fábio Wajngarten, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), também fez desabafos sobre o ex-chefe. Cid admitiu que se sentia sendo arrastado para a lama por causa de Bolsonaro.
No dia 4 de abril, Wajngarten enviou um texto do jornalista Ricardo Noblat, no portal Metrópoles, que tinha o título “Bolsonaro arrasta com ele para a lama seus mais fiéis servidores”. O oficial é citado no texto junto a outros ex-auxiliares do núcleo mais próximo de Bolsonaro. Ao ler a mensagem, Cid responde: “Não deixa de ser verdade”.
As mensagens e imagens do celular de Cid foram obtidas com exclusividade pela coluna. Procurado, Wajngarten não quis comentar o teor dos diálogos. A defesa de Mauro Cid disse que “não tinha nada a declarar”.
A mensagem foi enviada um dia antes do depoimento de Cid para a PF no inquérito que apura o desvio das joias sauditas presenteadas à Presidência da República. Na ocasião, 5 de abril, ele declarou que buscar presentes recebidos pelo então presidente era algo “normal”, “corriqueiro”, na Ajudância de Ordens da Presidência.
Cid tinha passado aquele fim de semana em São Paulo com a família e aproveitou a ocasião para encontrar o advogado Frederick Wassef e recuperar o relógio Rolex vendido anteriormente e que integrava o kit ouro branco das joias sauditas recebidas por Bolsonaro em viagem oficial em 2019.
Nos autos da investigação é descrito que “no dia 02/04/2023, Mauro Cid e Frederick Wassef se encontraram na cidade de São Paulo, momento em que a posse do relógio passou para Mauro Cid , que retornou para Brasília/DF na mesma data, entregando o bem para Osmar Crivelatti, assessor do ex-presidente Jair Bolsonaro”, afirma o documento.
Cid, porém, não menciona o encontro com Wassef ou mesmo a operação para recomprar o Rolex nas mensagens que troca com Wajngarten. Preso desde 3 de maio, o militar também é suspeito de adulterar certificados de vacina.
O Rolex foi vendido anteriormente para a empresa Precision Watches e recuperado em 14 de março deste ano pelo advogado. Wassef retornou com o relógio ao Brasil em 29 de março. Em 2 de abril, o relógio foi entregue a Cid. Para os investigadores, o esquema de venda das joias tinha como objetivo o “enriquecimento ilícito do ex-presidente Jair Bolsonaro”.
Em nota à imprensa, Wassef chegou a admitir que telefonou para Bolsonaro e foi autorizado por ele a falar publicamente sobre o caso das joias. A coluna apurou, porém, que o advogado, também se ofereceu para ir pessoalmente fazer o resgate dos itens vendidos nos EUA. Depois de falar com o ex-presidente, ele passou a tratar do assunto com Cid.
A PF verificou que Wassef viajou no dia 11 de março e retornou no dia 29. Os policiais ainda conseguiram um recibo de recompra do relógio onde consta o nome do advogado.
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