Estudo constatou o impacto das mudanças climáticas na diversidade genética de pássaros na Amazônia (Foto: Divulgação)

Ao longo dos últimos 400 anos, mudanças climáticas que atingiram o planeta foram responsáveis pela redução da diversidade genética de pássaros da Amazônia. É o que aponta um artigo publicado na revista científica “Ecology and Evolution” nesta quarta-feira (24), realizado com pássaros do gênero Willisornis, conhecidos no Brasil como rendadinhos ou formigueiros.

A pesquisa tem participação de instituições nacionais, como a Universidade Federal da Paraíba (UFPB), a Universidade Federal do Pará (UFPA) e o Instituto Tecnológico Vale (ITV), e de instituições internacionais, como a Universidade de Toronto (Canada).

O estudo mostra que as linhagens Willisornis residentes no sul, sudeste e leste da Amazônia têm menor diversidade genética e padrões de flutuação populacional mais variados em relação a outros grupos de distintas regiões do bioma. O resultado indica reduções bruscas no tamanho da população e fortes eventos de migração nos últimos milênios.

Para realizar a pesquisa, os cientistas sequenciaram o genoma de nove indivíduos pertencentes a diferentes grupos encontrados na região amazônica, um processo que envolveu a extração e análise de todas as informações contidas no DNA das aves. A partir desses dados, os estudiosos puderam medir o impacto de mudanças ambientais ao longo do tempo no tamanho das populações, relações de parentesco entre os indivíduos e diversidade genética.

Eventos de migração ou redução populacional derivados do mecanismo natural de contração e expansão da cobertura vegetal da floresta amazônica deixam marcas no material genético das linhagens.

No caso do grupo estudado, as populações de Willisornis foram capazes de resistir às contínuas perturbações climáticas mesmo com baixa variabilidade genética. Os pesquisadores desejam descobrir se existem genes relacionados com essa maior resistência da espécie.

O artigo explica que a floresta tropical no sul e no leste da Amazônia está, atualmente, próxima de seus limites climáticos e que um aquecimento global de 3 a 4ºC poderia representar uma nova mudança para um ambiente de vegetação aberta. Nesse cenário, pesquisas sobre as características genéticas das aves podem auxiliar projetos de conservação.

“Podemos encontrar no genoma das populações que sobreviveram às mudanças climáticas passadas características que permitam que elas resistam às mudanças futuras, assim como identificar grupos mais diversos que podem ser matrizes para reintrodução em outros locais”, avalia Alexandre Aleixo, autor líder da pesquisa.

Com informações de O Globo