A marca MOVIN trabalha com tecidos tecnológicos, como poliamida biodegradável e recicláveis. (Foto: Marcelo Soubhia/FOTOSITE)

Se tem um assunto que deve ser pautado ainda por muito tempo no mundo da moda são as práticas mais sustentáveis nessa indústria, tão poluente e associada a um ciclo super rápido de compra e descarte. Uma prática, em especial, vêm se destacando: as tecnologias compostáveis e circulares aplicadas à confecção das roupas, numa promessa de reorganizar a lógica de design, produção e consumo do ramo. Estamos falando de tecidos à base de cogumelos, cacto, frutas e materiais recicláveis, como garrafas pet, que estão abrindo as portas para outras matérias-primas sustentáveis.

Realidade distante? A gente prova que não. Em 2021, algumas grifes deixaram de lado as fibras animais, como couro, lã, seda e pele e o sintético e inovaram. Stella McCartney apresentou uma coleção na Semana de Moda de Paris com várias peças feitas de micélio, que vem do cogumelo. A grife Hermés lançou uma versão da bolsa Victoria com o material. A proposta também vem dando as caras no streetstyle da Adidas. Em termos de referências nacionais, a marca Movin, o grupo Natural Cotton Color a Re-farm, da Farm, apostam na ideia.

Natália Vargas, especialista em tendências na WGSN, empresa líder em tendências de comportamento e consumo, afirma que os consumidores passarão a usar cada vez mais peças sustentáveis: “A busca pelo termo ‘sustainable clothing — roupas sustentáveis’ tem aumentado a cada ano, à medida que os consumidores aumentam as buscas por marcas responsáveis. A previsão da WGSN é que, até 2023, as soluções sustentáveis terão ainda mais relevância”.

Segundo Natália, o couro vegetal teve uma crescente de 12% em varejistas do segmento premium. Então, sim, como se não bastasse cogumelo, prepare-se para usar roupas à base de abacaxi, uva e até maçã.

Se adaptando, o Brasil Eco Fashion Week trabalha há cinco anos para atualizar o mindset do setor e estimular ideias inovadoras entre os empreendedores de moda. Ana Sudano, idealizadora do evento, explica que mudar os materiais usados nas roupas tem a ver com construir uma cadeia produtiva mais justa e correta e reforçar um posicionamento que é importante ter no mercado. É que além de dar luz à matéria-prima usada, essa prática tem cunho social. É um caminho que expõe, também, os fornecedores e tem tudo para apoiar pequenos produtores.

Sustentabilidade

Maísa de Oliveira Abranches, coordenadora do curso de design de moda do Centro Universitário Iesb, aponta que as fibras de garrafas pet começaram a ser utilizadas no Brasil em 1995. Em 1999 esse processo se popularizou. Mas não pense que o uso do material fica óbvio na peça. Não é difícil encontrar tecidos e malhas com a composição da fibra, que, com tecnologia, é muito agradável ao toque: “A popular t-shirt é amplamente comercializada por várias marcas em fibra pet. As opções vegetais que se parecem com couro ainda não são encontradas com tanta facilidade e os custos são um pouco altos para fabricação de peças comerciais, mas é uma proposta que está sendo bem desenvolvida”.

No caso de recicláveis, todo o processo de recolhimento do material e a sequência detalhada envolvida carrega desafios. Mesmo assim, Maísa sinaliza que o processo é bem visto. “O reuso deste material é uma solução para o sério problema relacionado à poluição do meio ambiente, que é acarretado com o aumento de utilização do pet pela indústria”, aponta a professora.

*Com Correio Braziliense