FOTO: Luiza Queiroz / Semtepi

Em busca de soluções para mitigar o problema dos microplásticos, pesquisadores do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) desenvolveram um material biodegradável que pode substituir as microesferas plásticas usadas em produtos de beleza. Esses polímeros se decompõem em açúcares e aminoácidos inofensivos ao meio ambiente.

“Ao lidar com os microplásticos, é fundamental tanto limpar a poluição existente quanto criar materiais que não gerem mais microplásticos no futuro”, afirmou Ana Jaklenec, pesquisadora principal no Instituto Koch para Pesquisas Integrativas sobre o Câncer, do MIT.

Além de serem alternativas para cosméticos, esses polímeros biodegradáveis podem ser usados para encapsular nutrientes, como vitamina A, e reforçar alimentos com vitaminas e minerais.

O trabalho foi liderado por Linzixuan Zhang, doutoranda em engenharia química no MIT, e publicado na revista Nature Chemical Engineering.

Substituindo microplásticos

O ponto de partida para a pesquisa foi um polímero desenvolvido em 2019 para encapsular nutrientes como vitamina A e ferro. Apesar de promissor, o material foi classificado pela União Europeia como microplástico, entrando em uma lista de substâncias proibidas desde 2023. O pedido para criar uma alternativa mais ecológica veio da Fundação Bill e Melinda Gates, que financiou a pesquisa inicial.

Os pesquisadores optaram por um tipo de polímero já explorado no laboratório de Langer, conhecido como poli(beta-amino ésteres). Biodegradáveis, esses materiais podem ser ajustados para diferentes aplicações ao modificar sua composição química, incluindo resistência mecânica e sensibilidade ao pH.

Após testes com cinco variações do material, identificou-se um composto ideal para substituir os microplásticos. Entre suas características está a capacidade de se dissolver em ambientes ácidos, como o estômago.

Os testes mostraram que o novo material pode encapsular uma ampla gama de nutrientes, como vitaminas A, D, E e C, além de ferro e zinco. Mesmo sob condições adversas, como exposição à água fervente por duas horas ou armazenamento por seis meses em altas temperaturas e umidade, os nutrientes permaneceram protegidos e intactos.

Microplástico – Foto: Divulgação / Vrije Universiteit Amsterdam

Para demonstrar sua aplicação prática, os pesquisadores incorporaram os nutrientes encapsulados em cubos de caldo, amplamente consumidos na África Subsaariana. Mesmo após fervura, os nutrientes permaneceram estáveis, destacando o potencial do material para combater deficiências nutricionais em regiões vulneráveis.

“Os cubos de caldo são ingredientes básicos na África Subsaariana e representam uma grande oportunidade para melhorar a nutrição de bilhões de pessoas nessas regiões”, ressaltou Jaklenec.

Substituição em cosméticos

Outra aplicação promissora é substituir as microesferas plásticas em produtos de higiene. Os testes mostraram que, quando misturados ao sabão, os novos polímeros são mais eficazes na remoção de maquiagem e marcas permanentes da pele, além de absorverem melhor metais pesados, comparados às microesferas de polietileno usadas atualmente.

Com financiamento da Estée Lauder, os pesquisadores planejam realizar mais testes, incluindo ensaios clínicos em alimentos e produtos de limpeza.

Um passo contra os microplásticos

Os cientistas esperam que essa inovação ajude a reduzir significativamente a quantidade de microplásticos liberados no meio ambiente por produtos de saúde e beleza.

“Essa é apenas uma pequena parte de um problema maior, mas, como sociedade, estamos começando a reconhecer a gravidade da questão dos microplásticos. Este trabalho representa um avanço para enfrentá-la”, afirmou Jaklenec.

*Com informações de Uol