Em 2022, a missão Dart, da Nasa, demonstrou pela primeira vez a capacidade de desviar um asteroide de sua órbita. Dois anos depois, a missão Hera, da ESA, parte para estudar de perto o resultado desse procedimento.
As duas agências espaciais, americana e europeia, pretendiam trabalhar juntas desde o início. O projeto, originalmente chamado Aida (acrônimo em inglês para Verificação de Impacto e Deflexão de Asteroide), começou em 2013 e previa duas espaçonaves: a primeira a ser lançada seria a europeia AIM (Missão de Impacto de Asteroide), que orbitaria o asteroide Dídimo e o estudaria antes mesmo que a americana Dart (Teste de Redirecionamento de Asteroide Duplo) colidisse com sua pequena lua, Dimorfo.
Contudo, a ESA não conseguiu verbas para manter o cronograma original; a AIM acabou cancelada e foi substituída pela Hera –basicamente a mesma missão, mas voltada a estudar o asteroide duplo quatro anos depois do impacto da Dart, a um custo de 350 milhões de euros.
A janela de lançamento se abre na próxima segunda-feira (7) e se estende até o dia 27, num foguete Falcon 9, da SpaceX. A empresa americana trabalha para recolocar rapidamente sua frota de lançadores em ação, após uma anomalia com o segundo estágio após o voo da missão Crew-9 à Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês). Em jogo estão a janela de lançamento para a Hera e também para a Europa Clipper, sonda da Nasa destinada a Júpiter.
No caminho, a Hera passará de raspão por Marte, em março de 2025, o que servirá como um teste para seus equipamentos e também como estilingue gravitacional para uma chegada ao sistema Dídimo-Dimorfo em dezembro de 2026.
DESVIANDO UM ASTEROIDE
O objetivo da Dart era simplesmente colidir com o Dimorfo, na direção contrária ao seu movimento orbital, na esperança de que o impacto a grande velocidade (6,1 km/s) fosse capaz de alterar ligeiramente a órbita dele. A colisão ocorreu em 26 de setembro de 2022, após pouco menos de um ano de viagem.
Observações subsequentes feitas com telescópios espaciais e terrestres mostraram que o período orbital do Dimorfo (o tempo que ele leva para dar uma volta em torno de Dídimo) foi reduzido em quase 33 minutos.
A alteração foi maior que a esperada, indicando grande efetividade para a técnica de desvio de asteroides por impacto cinético –isso porque a ejeção de material do asteroide acabou dando um quique a mais na alteração de velocidade do que somente a colisão. Uma trilha de detritos de 10 mil km foi observada pelo telescópio Soar, projeto com participação brasileira instalado no Chile.
Tudo isso era boa notícia para o esforço de proteger a Terra contra futuras colisões de asteroides. O Dimorfo, com seus cerca de 150 metros, já seria classificado como um objeto potencialmente perigoso, se estivesse em rota de colisão com a Terra. O Dídimo, então, com 780 metros, nem se fale.
O QUE FALTOU?
O principal objetivo da Dart era fazer o desvio do asteroide, mas não estudá-lo propriamente. A Hera, agora, vai fazer isso. E com a oportunidade de analisar também suas propriedades internas, graças à cratera que a missão anterior abriu no Dimorfo, expondo material de seu interior. E claro que Dídimo também será objeto de estudo.
A espaçonave principal tem 1.128 kg e conta com cinco instrumentos: três câmeras (uma do espectro visível, outra de infravermelho e uma com várias bandas entre o visível e o infravermelho próximo), um altímetro a laser e um sistema de rádio.
Além disso, dois cubesats (espaçonaves menores e mais simples, com 12 kg cada) fazem parte da missão: o Milani e o Juventas. Eles farão observações complementares dos asteroides e cogita-se que os dois terminem seu trabalho com um pouso suave sobre o Dimorfos. Já a espaçonave principal pode concluir a missão descendo à superfície do Dídimo. Mas nenhum deles foi especificamente projetado para isso –são só possíveis bônus.
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