A ministra do Planejamento, Simone Tebet, afirmou que as mulheres do primeiro escalão do governo federal estão “do lado” de Anielle Franco, após a denúncia de que teria sofrido assédio sexual.
O caso levou a uma crise dentro do governo Lula (PT), que resultou na demissão do ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida na sexta-feira (6).
“A ministra Cida [Gonçalves, das Mulheres], a ministra Esther [Dweck, Gestão e interinamente nos Direitos Humanos] estão na frente falando por nós. Estamos respeitando o espaço da ministra Anielle, houve um acordo de que a gente não iria fazer nenhuma manifestação pública, em respeito a ela”, afirmou Tebet à Folha, ao deixar o desfile do Dia da Independência, em Brasília.
“Na própria nota dela [Anielle], é uma nota muito clara, de querer com sobriedade trazer a questão. Estamos do lado da Anielle, mas, no tempo dela, nós faremos nossas manifestações”, completou.
Silvio Almeida foi demitido após o surgimento de denúncias de que teria cometido assédio sexual contra mulheres. Reportagem do portal Metrópoles apontou que uma das supostas vítimas de assédio sexual seria a titular da Igualdade Racial, Anielle Franco.
Ao longo do dia, as ministras mulheres do governo postaram ou repostaram mensagens em defesa de Anielle. Ela não compareceu ao desfile de 7 de Setembro, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília.
“Todas nós [entramos em contato com ela] de alguma forma, ou por mensagem, como foi meu caso. Por telefone está um pouco mais difícil, porque ela está mais reservada, mas falei com ela por WhatsApp”, completou Tebet.
Nomeada interinamente para chefiar o Ministério dos Direitos Humanos, Esther Dweck, disse que ainda não se reuniu com sua nova equipe.
“Vou ter uma reunião segunda-feira [9] com a equipe. Minha expectativa é que seja temporário, até ter um nome definitivo”, afirmou a ministra ainda no final de semana.
O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Luis Roberto Barroso, afirmou ao deixar o desfile militar que a demissão de Silvio Almeida conclui o processo politico e que agora ele terá direito à ampla defesa, como qualquer pessoa.
“Tem que esperar [para ter uma posição sobre o caso]. A parte política já passou com a demissão. E agora, como todas as pessoas, tem direito a ampla defesa e depois se fará justiça”, afirmou o presidente do Supremo.
Após a demissão, Silvio Almeida afirmou que pediu ao presidente Lula que o demitisse, para garantir a isenção das apurações sobre o caso, sobre o qual se defenderá dentro do processo legal
“Será uma oportunidade para que eu prove a minha inocência e me reconstrua”, disse na noite desta sexta-feira.
“Pedi para que ele [Lula] me demitisse a fim de conceder liberdade e isenção às apurações, que deverão ser realizadas com o rigor necessário e que possam respaldar e acolher toda e qualquer vítima de violência”, completou.
Um dos nomes que passaram a ser cotados para assumir o Ministérios dos Direitos Humanos é o do secretário da Justiça e Direitos Humanos da Bahia, Felipe Freitas. Ele atualmente está licenciado para atuar como coordenador de campanha petista nas eleições municipais, mas deveria retornar ao cargo.
Felipe Freitas integra o governo de Jerônimo Rodrigues (PT) e é próximo ao ministro da Casa Civil, Rui Costa.
Uma ala do governo, por outro lado, considera apressado o surgimento de possíveis cotados para o cargo. Aponta no nome do político da Bahia uma tentativa do grupo de Rui Costa de ampliar o seu espaço na Esplanada dos Ministérios. Essa ala defende a indicação de uma mulher e negra para chefiar o Ministério dos Direitos Humanos.
Outras demissões
A saída de Silvio Almeida do comando da pasta de Direitos Humanos é a sétima mudança no primeiro escalão do governo Lula desde que a gestão petista começou, em janeiro de 2023.
O primeiro a deixar a Esplanada dos Ministérios no mandato foi o então chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general Gonçalves Dias, em abril de 2023.
Amigo de longa data de Lula, o militar pediu demissão após a divulgação de imagens do sistema de segurança do Palácio do Planalto que colocaram em xeque a atuação dele e de subordinados durante os ataques golpistas de 8 de janeiro.
Em julho do primeiro ano de governo foi a vez da demissão de Daniela Carneiro (Turismo). A ministra se transformou rapidamente de um ativo a um problema para o petista.
A mudança foi parte da estratégia do mandatário para melhorar sua relação com o União Brasil e garantir os votos do partido na Câmara dos Deputados. Celso Sabino entrou em seu lugar na pasta.
Daniela se transformou na pivô da primeira crise do terceiro mandato. Na ocasião, a Folha revelou o vínculo do grupo político da então ministra com milicianos.
Meses depois, em setembro de 2023, Lula realizou a primeira reforma ministerial, com um remanejamento interno para acomodar nomes indicados pelo centrão.
Entraram no governo o líder do PP na Câmara, deputado André Fufuca (MA), e o deputado Silvio Costa Filho (Republicanos-PE), ocupando os ministérios do Esporte e de Portos e Aeroportos, respectivamente.
Na época, o ministro Márcio França (PSB), que perdeu seu posto para o indicado do Republicanos, assumiu a pasta recém-criada das Micro e Pequenas Empresas.
A mudança ocorreu após mais de dois meses de negociação com integrantes da cúpula do Congresso, com o objetivo de incluir os partidos do centrão no governo.
Fufuca assumiu o Esporte no lugar de Ana Moser, ex-medalhista olímpica e apoiadora de primeira hora da candidatura de Lula.
Já no começo de 2024 foi oficializada a saída do Ministério da Justiça de Flávio Dino (então no PSB) que foi indicado por Lula para uma vaga de ministro do Supremo.
Eleito senador pelo Maranhão, Dino estava licenciado do cargo para comandar o ministério. No dia 22 de fevereiro, Dino tomou posse para a vaga aberta no STF com a aposentadoria de Rosa Weber. Em seu lugar entrou Ricardo Lewandowski.
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disse, em entrevista à revista VEJA publicada nesta sexta-feira (22), que nunca debateu um plano para matar autoridades como...