Alexandre de Moraes, ministro do STF - Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom / Agencia Brasil

Em mensagens trocadas por meio de aplicativos de mensagens, militares de alta patente articulavam planos para prender e matar o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente, Geraldo Alckmin, e o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. Segundo investigações da Polícia Federal, Mario Fernandes, general da reserva e ex-número 2 da Secretaria-Geral da Presidência, foi o articulador da trama.

Segundo a PF, o primeiro alvo seria Alexandre de Moraes. De acordo com informações divulgadas pelo Fantástico, da TV Globo, neste domingo, 24, no âmbito do plano batizado de “Punhal Verde Amarelo”, os militares realizaram um levantamento prévio dos horários das agendas oficial e pessoal de Moraes e determinaram, inclusive, a quantidade de pessoas necessárias para o atentado: no mínimo, duas equipes com dois homens, cada, e outras duas com um homem, cada, além do fornecimento de telefones descartáveis para os agentes.

Os executores tinham um grupo em um aplicativo de mensagens chamado “Copa 2022”, com números comprados em nome de outras pessoas. Para dificultar a investigação, eles se chamavam por nomes de países: Alemanha, Argentina, Brasil, Áustria, Gana e Japão.

Sob o codinome de “Japão” era o tenente-coronel Rafael Martins de Oliveira, integrante dos ‘Kids Pretos’, um grupo de operações especiais do Exército, e um dos nomes apontados para a execução.

Articulador da trama

Em dezembro de 2022, Mário Fernandes diz em áudio em um aplicativo de mensagem que acampamentos em frente a quartéis são para “inflamar” massas, um movimento orquestrado pelos militares. Ele mantinha contato com líderes dos grupos.

“Talvez seja isso que o alto comando, que a defesa quer. O clamor popular, como foi em 64. Nem que seja pra inflamar a massa. Para que ela se mantenha nas ruas”, afirma o general.

“O senhor me desculpe a expressão, mas quatro linhas é o c… Quatro linhas da Constituição é o c… Nós estamos em guerra, eles estão vencendo, está quase acabando, e eles não deram um tiro por incompetência nossa”, diz um oficial do Exército.

Em outro áudio, Fernandes afirma que ter conversado com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e que “qualquer ação pode acontecer até 31 de dezembro”.

Lula e Geraldo Alckmin (Foto: Ricardo Stuckert)

“Durante a conversa que eu tive com o presidente, ele citou que o dia 12, pela diplomação do vagabundo, não seria uma restrição? Qualquer ação nossa pode acontecer até 31 de dezembro e tudo. Mas aí na hora: ‘Pô, presidente. Mas o quanto antes. A gente já perdeu tantas oportunidades”, afirma Mário Fernandes em áudio.

No dia 12 de dezembro, data da diplomação de Lula, manifestantes tentaram invadir um prédio da PF e incendiaram carros e ônibus em Brasília.

‘Tocaia’ para prender Moraes

Três dias depois, mensagens trocadas pelo grupo “Copa 2022” demonstram que os integrantes estavam em campo, segundo aponta a PF, divididos em locais específicos com objetivo de prender Alexandre de Moraes.

De acordo com as investigações, por volta das 20h33 de 15 de dezembro, os militares estavam de “tocaia”: dois no estacionamento do Parque da Cidade, em Brasília, o tenente-coronel Rafael Martins próximo ao STF e mais um próximo à residência do ministro. Às 20h57, a missão foi “abortada”.

Naquele dia, a sessão do Supremo terminou mais cedo, o que pode ter atrapalhado a trama. Ainda de acordo com a PF, a hipótese é de que o então comandante-geral do Exército, o general Marco Antônio Freire Gomes, foi ao Palácio da Alvorada para conversar com Bolsonaro, e a decisão tomada pode ter interferido no plano golpista.

Em depoimento à PF, Gomes afirmou que sempre externou a Bolsonaro que, do ponto de vista militar, “não haveria possibilidade de reverter o resultado das eleições”. Em outra mensagem, Mário Fernandes reclama que Bolsonaro não assinou o decreto do golpe.

Plano de golpe

Em 16 de dezembro, Mário Fernandes imprimiu, na Secretaria-Geral da República, uma minuta com as diretrizes para a criação de um gabinete institucional de gestão de crise, no papel timbrado da Presidência com o carimbo “secreto”. Para a PF, esse foi mais um indício da execução de um golpe de Estado e que o gabinete, composto em sua maioria por militares, governaria o País até a realização de novas eleições, sem data para acontecer.

No plano, “Jeca”, nome que, segundo a polícia, seria utilizado para se referir a Lula, era apontado como “vulnerável” devido ao seu atual estado de saúde e a ida frequente a hospitais. Por isso, o plano era “envenenamento ou uso de química/remédio que lhe cause um colapso orgânico”.

Wladimir Matos, agente da Polícia Federal, passou ao grupo golpista informações sobre a equipe de seguranças e localização de Lula.

Foto: Agência Brasil

“O Lula estaria ali no prédio do Meliá. Essa p*rra tem que virar logo. Não dá pra continuar desse jeito, não, irmão. Vamos nessa. Eu tô pronto”, afirma Matos em um áudio.

Já sobre Alckmin, apontado como “Joca”, segundo as investigações, o plano dizia que, considerando a “inviabilidade do 01 eleito, por questão de saúde, a sua neutralização extinguiria a chapa vencedora”.

Para a PF, o plano propõe a morte do presidente e vice e criar um ambiente propício para um golpe de Estado, o “8 de janeiro”.

Indiciamento de Bolsonaro e de 37 pessoas

A Polícia Federal indiciou na quinta-feira, 21, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e ex-integrantes do seu governo pelos crimes de abolição violenta do Estado democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa.

De acordo com a PF, o relatório final foi encaminhado ao Supremo Tribunal Federal, com o indiciamento de, ao todo, 37 pessoas.Entre elas, estão o general da reserva do Exército, Braga Netto, o general da reserva Augusto Heleno, o policial federal Alexandre Ramagem e Valdemar da Costa Neto, presidente do Partido Liberal (PL), além de Mário Fernandes, Rafael Martins e Wladimir Matos.

As provas foram obtidas por meio de diversas diligências policiais realizadas ao longo de quase dois anos, com base em quebra de sigilos telemático, telefônico, bancário, fiscal, colaboração premiada, buscas e apreensões, entre outras medidas devidamente autorizadas pelo poder Judiciário.

As investigações apontaram que os investigados se estruturaram por meio de divisão de tarefas, o que permitiu a individualização das condutas e a constatação da existência dos seguintes grupos:

a) Núcleo de Desinformação e Ataques ao Sistema Eleitoral;

b) Núcleo Responsável por Incitar Militares à Aderirem ao Golpe de Estado;

c) Núcleo Jurídico;

d) Núcleo Operacional de Apoio às Ações Golpistas;

e) Núcleo de Inteligência Paralela;

f) Núcleo Operacional para Cumprimento de Medidas Coercitivas

Segundo a PF, com a entrega do relatório, as investigações referentes às tentativas de golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito são encerradas.

*Com informações de Terra