Foto: Agência Brasil

As megassecas, períodos intensos e prolongados de estiagem, estão crescendo no mundo todo, concluiu um estudo liderado por pesquisadores do Instituto Federal Suíço para Floresta, Neve e Pesquisa de Paisagem (WSL) em Birmensdorf, publicado em janeiro na revista científica Science.

Os cientistas ainda identificaram que duas das dez piores megassecas dos últimos 40 anos aconteceram no Brasil.

Seca nem sempre é visível a olho nu. A não ser que haja dano a plantações ou florestas, as megassecas nem sempre são tão facilmente identificadas. Por isso, para determinar exatamente quais os períodos e áreas afetadas nas últimas décadas, pesquisadores recorreram a dados meteorológicos coletados pela instituição entre 1980 e 2018.

Florestas tropicais e os Andes ainda são pouco observados. Mas alterações nos padrões de chuvas, evaporação do solo e das plantas (evapotranspiração), além de mudanças observadas na vegetação usando imagens via satélite foram essenciais para o trabalho.

Extensão das megassecas aumentou 50 mil km² por ano durante o período estudado. “Secas que duram muitos anos causam enorme dano econômico, por exemplo para a agricultura e geração de energia”, apontou o autor principal do estudo, Dirk Karger, do WSL.

Brasil teve duas das dez piores megassecas das últimas quatro décadas. Ambas duraram anos. A primeira delas afetou o sudoeste da Amazônia entre 2010 e 2018, já a segunda impactou o leste do país entre 2014 e 2017.

Seca amazônica foi a sétima pior do período. Ela afetou parte dos estados do Acre, Amazonas, Rondônia e Mato Grosso, além de porções de Bolívia e Peru, provocando o ressecamento de rios como o Madeira, o Negro e o Solimões. Em 2016, a Amazônia atingiu o maior pico de seca em cem anos, e um crescimento de 30% no desmatamento tornou o risco de repetição do fenômeno ainda maior.

Já a seca do leste brasileiro foi a nona pior do mundo e afetou os estados de Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo e Rio de Janeiro, principalmente. Na época, o estado de São Paulo atingiu sua maior seca em 45 anos, segundo a USP. O Sistema Cantareira, responsável pelo abastecimento de água para milhões de pessoas na Grande São Paulo, chegou a operar com o volume morto —menos de 5% de capacidade. Em Minas, a seca afetou a produção de energia nas usinas de Furnas.

Por que megassecas estão aumentando

O motivo para o crescimento em frequência das megassecas, concluíram os cientistas, é o aumento da temperatura global. Ondas de calor aumentam a variabilidade das chuvas, levando a períodos secos mais extremos que se alternam com chuvas mais intensas e enchentes. Além disso, o calor também aumenta evaporação do solo e da vegetação, um fator que era subestimado em pesquisas anteriores.

Foto: Divulgação / DPE-AM

“A gravidade das secas perenes se tornará cada vez maior com as mudanças climáticas.” afirmou Philipp Brun, co-autor do estudo, do WSL

Efeitos das megassecas nos ecossistemas também têm piorado. Campos e pastagens, em particular, estão reagindo sensivelmente às secas, o que fica evidente pela perda da coloração esverdeada nas imagens via satélite. Apesar disso, estas áreas são capazes de se recuperar rapidamente.

Florestas tropicais e zonas frias são mais capazes de resistir a períodos de seca, mas quando há estiagens muito extremas, as árvores acabam morrendo. Por isso, o dano a elas costuma durar mais tempo. É possível que o resultado das últimas megassecas na Amazônia ainda seja sentido por anos, especialmente porque os eventos já voltaram a se repetir após o período estudado. Em 2024, a Amazônia teve um aumento de 2.000% na área afetada por seca extrema.

*Com informações de Uol