RJ: moradores levam dezenas de corpos para praça da Penha - Foto: Reprodução X / @RenatoSilva15_
Às 6h da manhã, o fotógrafo Bruno Itan registrava uma fileira formada por dezenas de corpos no Complexo do Alemão, comunidade da zona norte do Rio que foi palco anteontem da megaoperação mais letal do país. Pelo menos 121 pessoas foram mortas, sendo quatro policiais. Famílias ainda buscam por desaparecidos.
Fotógrafo, Bruno Itan cresceu na comunidade e já presenciou diversos tiroteios. Nenhum igual a esse. A Defensoria Pública do Rio de Janeiro fala em mais de 130 mortes, mas o governo do estado registrou 119.
“Nada se compara ao que eu vivi aqui. Vi três corpos sem cabeça, famílias chorando desesperadas, o cheiro forte no local, e pessoas lamentando, dizendo: ‘Por que você não saiu dessa vida, eu te falei tanto’. As famílias só querem enterrar seus parentes e não desejam esse fim para ninguém” disse Bruno Itan, fotógrafo.
Moradores fizeram força-tarefa para retirar corpos que estavam em mata. A movimentação começou na terça à noite. Uns cederam picapes e motos, outros lençóis e muitos carregaram no braço.
“Estou trabalhando há 26 horas, meu psicológico está acabado. É um verdadeiro cenário de guerra, ainda tem pessoas desaparecidas (…). No Brasil não temos pena de morte, mas os policiais decidiram quem iria viver e quem iria morrer” afirmou Bruno Itan, fotógrafo.
Muitas famílias não conseguiram voltar para casa na terça. Nenhum transporte estava circulando pelo Complexo do Alemão e nem pelo Complexo da Penha. Quando conseguiram chegar, se depararam com destruição e tiroteio durante todo dia. Na madrugada também houve registros de tiro.
Moradores se reuniram para protestar na quarta-feira, mas a adesão foi baixa. “As pessoas estão desgastadas, ninguém tem mais força”, disse Bruno.
Operação mais letal da história
Megaoperação deixou 121 mortos, incluindo quatro policiais, segundo a Polícia Civil do RJ. Outras 113 pessoas foram presas, e dez adolescentes, apreendidos. Entre os detidos, 33 são de outros estados.
Número de mortos ultrapassou o do massacre do Carandiru. Em 1992, o complexo penal foi palco da maior chacina ocorrida em uma prisão brasileira. O episódio durou 30 minutos e provocou a morte de 111 detentos.
Corpos da mata retirados por moradores foi levado para a Praça São Lucas, no Complexo da Penha. A retirada dos corpos da praça foi feita com rabecões da Defesa Civil.
Polícia Civil abriu inquérito e vai investigar quem tirou os corpos da mata. Segundo o secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, Felipe Curi, as pessoas serão investigadas por fraude processual por terem, supostamente, retirado as roupas camufladas encontradas com os mortos.
Governos estadual e federal anunciam criação de grupo de trabalho. O ministro da Justiça e Segurança, Ricardo Lewandowski, e o governador Cláudio Castro anunciaram uma força-tarefa para enfrentamento do crime organizado.
Policiais não tiveram condições de prender principal alvo. “Como nós não temos a distância para superar essas barreiras físicas, não só a barreira física, mas o fogo cerrado, a agressão dos criminosos, isso faz com que a gente leve um tempo maior”, disse o secretário Victor Santos, se referindo a Edgar Alves de Andrade, conhecido como Doca.
MP-RJ anunciou inquérito para investigar megaoperação. O procurador-geral de Justiça, Antonio José Campos Moreira, disse que também irá pedir as imagens das câmeras corporais dos agentes.
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