Foto: Pedro Ladeira / Folhapress

O tenente-coronel Mauro Cid, ex-chefe da Ajudância de Ordens da Presidência de Jair Bolsonaro (PL), transferiu R$ 367.374,56 para uma conta bancária nos Estados Unidos em 12 de janeiro deste ano, quatro dias após o ataque às sedes dos Três Poderes, em Brasília.

O montante foi enviado para uma conta do próprio Cid no BB Americas, braço da instituição financeira brasileira no exterior. A transferência teve como referência uma taxa cambial de cerca de R$ 5,20, e a conversão resultou num total de US$ 70.500.

Um dos informes ainda aponta que o militar enviou uma remessa de dinheiro significativa ao Brasil mesmo depois de já estar preso. Em 25 de julho deste ano, a conta bancária de Cid emitiu, por meio do sistema financeiro internacional, uma ordem de pagamento no valor de US$ 34.391,11, que foram convertidos em R$ 161.664,92.

A quantia foi enviada por uma conta de Cid no Wells Fargo Bank, nos EUA, e liquidada no dia 1º deste mês.

As movimentações constam em um extrato de operação de câmbio do Banco do Brasil, obtido pela coluna. O documento foi enviado à CPI do 8 de janeiro, que requisitou a quebra de sigilo ao Banco Central, e ao Serviço de Perícias em Contabilidade da Polícia Federal (PF).

Outros registros financeiros do ex-ajudante de ordens ainda apontam que Cid aplicou ao menos R$ 250 mil em investimentos de renda fixa, por meio das modalidades CDB e CDI, em uma conta nacional. O depósito foi feito por ele em 13 de março de 2020 —antes disso, o saldo estava zerado.

Em 30 de abril daquele ano, após alguns saques, o valor total caiu para R$ 135.500. As retiradas se tornaram mais frequentes nos meses seguintes, e Cid chegou a maio de 2021 com a aplicação zerada. Já em junho de 2021, ele voltou a investir, obtendo um saldo de R$ 30 mil.

Os registros bancários contemplam movimentações feitas entre 1º de janeiro de 2020 e 31 de julho deste ano, a pedido da CPI. Os documentos chegam às mãos dos parlamentares em um momento em que uma nova convocação de Cid perante o colegiado é demandada.

Procurada, a defesa de Mauro Cid ainda não se manifestou.

Como revelou a coluna neste mês, Cid deu entrada em um procedimento para enviar remessas de dinheiro ao exterior dias antes de deixar o Brasil ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro, em dezembro de 2022.

O próprio ex-mandatário abriu conta em uma agência de Miami (EUA) do BB Americas nova dias antes de embarcar para o país estrangeiro.

“Solicito a emissão de uma ordem de pagamento para o exterior, na moeda indicada ou seu equivalente na do país do beneficiário, a débito de minha conta de depósito abaixo indicada, bem como das respectivas tarifas, tributos e demais despesas”, afirmavam os termos assinados pelos dois.

Procurado pela coluna, o Banco do Brasil afirma, em nota, que não comenta movimentações financeiras de seus clientes ou ex-clientes.

“O Banco do Brasil e todas as empresas do seu conglomerado possuem protocolos rígidos de acompanhamento das movimentações financeiras de seus clientes e respeita integralmente a legislação e regulamentação bancária em todos os países onde atua”, diz a instituição.

“Todo indício de irregularidade em movimentação financeira é prontamente comunicado aos órgãos reguladores, seja no Brasil ou no exterior. Em respeito ao sigilo bancário, o BB não comenta movimentações financeiras específicas de seus clientes ou ex-clientes”, finaliza.

O BB Americas é a mesma instituição financeira em que o pai de Mauro Cid, o general da reserva do Exército Mauro Lourena Cid, é cliente.

Recentemente, Lourena Cid foi alvo de uma operação de busca e apreensão da PF que apura indícios de que Bolsonaro teria utilizado a estrutura do governo federal para desviar joias e presentes de alto valor oferecidos por autoridades estrangeiras.

*Com informações de Folha de São Paulo